Infectologista alerta para aumento de casos de sífilis em 2021

Mulheres jovens e negras podem ser a população mais acometida por essa infecção.


16 de dezembro de 2020 - , ,


Com o isolamento social, acreditava-se que a transmissão da sífilis sofreria uma redução significativa em Belo Horizonte. Constata-se, porém, que apesar de uma leve queda, que pode ser explicada pela dificuldade de acesso ao diagnóstico durante a pandemia, os números atuais de infectados continuam alarmantes. A situação leva a prever que o ano novo chegará com mais casos ainda de sífilis que deixaram de ser identificados e tratados em 2020.

De janeiro a novembro deste ano, foram registrados 2.604 casos de sífilis em moradores de Belo Horizonte maiores de 10 anos, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde da capital. Se comparado às 3.357 notificações no mesmo período de 2019, houve redução no contágio. Mas o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Mateus Westin, alerta que os números continuam altos. Mas ele também pondera que é preciso ter cuidado com a leitura desses dados.

“Provavelmente estamos tendo subnotificações, porque boa parte de pontos de atenção da rede de saúde está focada no atendimento da Covid-19, com restrições de consultas eletivas e demandas espontâneas por outras doenças”, justifica o professor.

Esse é um dos principais motivos para que muitas pessoas só tenham o diagnóstico clínico e laboratorial tardiamente, quando os serviços estiverem normalizados.

O tratamento da sífilis é simples, por meio de uma a três doses de penicilina, dependendo da fase da doença. Quando não feito precocemente, pode comprometer órgãos como pele, olhos, coração, bem como o sistema nervoso. Por provocar feridas na região genital, essa doença bacteriana também pode se tornar uma porta de entrada para infecções como o HIV

Uso das camisinhas masculina e feminina previne a sífilis e demais ISTs. Foto: Carol Morena.

PERFIL

É possível que as mulheres jovens e negras sejam as mais prejudicadas com a dificuldade de acesso ao diagnóstico de sífilis durante a pandemia. Isso porque elas representam o grupo mais acometido pela infecção. Dados do Ministério da Saúde divulgados neste mês mostram que essas mulheres, principalmente na faixa etária de 20 a 29 anos, configuram 14,3% de todos os casos de sífilis adquirida e em gestantes em 2019. 

“As mulheres são mais vulneráveis pela estrutura patriarcal e machista, que faz com que tenham uma dificuldade maior de negociação para o uso de preservativo na relação sexual”, analisa.

As mulheres negras são ainda mais afetadas, já que sofrem com o racismo institucional, o que dificulta o acesso aos serviços de saúde e compromete a qualidade do atendimento.

Os jovens também se encontram mais vulneráveis à sífilis e outras ISTs. Isso porque estão sexualmente mais ativos, muitas vezes sem acesso à educação sexual de qualidade e recursos financeiros para programar os encontros. “Se tiverem a oportunidade de a relação acontecer, geralmente não vão deixar de ter caso não tenham o preservativo no momento”, ressalta o professor. 

Estudo realizado pela PrEP 15-19 – projeto que analisa a aceitabilidade e riscos da oferta da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) para jovens de 15 a 19 anos que se identificam como gays, homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travesti – identificou a prevalência de sífilis em torno de 18% dos jovens que chegavam para participar do projeto em 2019, nas três cidades sedes: Belo Horizonte, Salvador e São Paulo.

Desenvolvido pela UFMG, USP e UFBA, com financiamento da OMS/Unitaid e Ministério da Saúde. O objetivo é avaliar a possibilidade da política pública da PrEP passar a ser acessível a partir dos 15 anos.

“Pensar que um quinto dos jovens de 15 a 19 já tiveram sífilis pelo menos uma vez na vida é preocupante”, frisa Westin, que foi um dos autores desse estudo.

Por outro lado, ele avalia que o projeto tem conseguido alcançar os mais vulneráveis para ISTs/HIV dentro da população alvo do estudo, já que considerável percentual dos participantes relatou praticar sexo desprotegido e já tiveram outras ISTs.

TRATAMENTO

Para frear a epidemia de sífilis no país, não se pode descuidar da prevenção sem ou com pandemia de covid-19. Por isso, além da oferta da profilaxia, o projeto PrEP 15-19 atua com a educação sexual e com estratégia de prevenção combinada, na qual reforça o uso e a oferta de preservativos, gel lubrificante – importante para evitar fissuras que podem favorecer a entrada de infecções – e testagem regular para ISTs.

O projeto também faz o encaminhamento dos jovens para tratamento de infecções sexualmente transmissíveis. Em Belo Horizonte, o encaminhamento é para o Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias (CTR–DIP Orestes Diniz). Após o tratamento, os participantes continuam com acompanhamento laboratorial na PrEP.

Interessados podem entrar em contato pelo o whatsapp do projeto (31) 9 9726-9307 ou instragram @nodeumatch. A assistência virtual Amanda Selfie também pode ajudar! É só chamá-la para conversar pelo site (Prep1519.org), Facebook (@amandaselfie.bot).


Com assessoria de comunicação da PrEP 15-19 Minas


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