ISTs avançam entre os jovens e mostram redução no uso de preservativos

Dados da PrEP 15-19 Minas, projeto desenvolvido pela Faculdade de Medicina da UFMG, aponta números alarmantes de sífilis, gonorreia e clamídia entre jovens em BH participantes do projeto


29 de junho de 2021 - , , , , , , , ,


A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima seis milhões de novos casos de sífilis por ano, sendo a maioria em países em desenvolvimento, onde essa infecção é considerada endêmica. No Brasil, os adolescentes e jovens adultos são o grupo que mais contribui para aumentar as estatísticas de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), apesar de representarem apenas um quarto da população sexualmente ativa. Para se ter uma ideia, as maiores taxas de sífilis adquirida – transmitida por meio do contato sexual – são encontradas na faixa etária de 20 a 29 anos. Entre os jovens de 13 a 19 anos, a taxa de detecção para essa infecção aumentou 1,654% entre 2010 e 2020.  

Embora o número de novos casos de ISTs avance entre adolescentes e jovens de todos os gêneros e orientações sexuais, afeta desproporcionalmente aqueles que se identificam como homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres trans em todo o mundo, consideradas populações-chave para as ações de saúde. Em Belo Horizonte, essa população tem apresentado alta prevalência para infecções como sífilis, gonorreia e clamídia.

Dados do PrEP 15-19 Minas – projeto desenvolvido pela Faculdade de Medicina da UFMG para avaliar o uso da Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP) nessa população-chave entre 15 e 19 anos – mostram que dos 214 participantes recrutados de 2019 a junho de 2021, 13,64% foram testados com sífilis, percentual maior que o encontrado na população geral da mesma idade. E ao analisar dados entre a população-chave de homens que fazem sexo com homens, a taxa identificada em Belo Horizonte se mostrou maior.

Jovens participantes do projeto têm acesso à informação adequada, camisinha, lubrificante, e teste para diagnóstico de HIV e outras ISTs

“Em outros estudos, essa prevalência entre HSH fica entre 5% a 10%, o que mostra que estamos recrutando uma população ainda mais vulnerável, com risco acrescido para práticas desprotegidas, múltiplas parcerias, vulnerabilidades raciais, econômicas, entre outras”, pontua o infectologista e professor da Faculdade de Medicina UFMG, Mateus Westin.

Já infecções como clamídia e gonorreia não são de notificações compulsória. Mas o infectologista salienta que dados comparativos com outros estudos mostram que o percentual identificado pela PrEP 15-19 Minas, de 19,48% para gonorreia e 10,23% para clamídia, está próximo às taxas encontradas na população-chave. Porém, os números ainda são considerados alarmantes.

“Os números chamam atenção por refletirem relações sexuais desprotegidas e que veiculam infecções que facilitam a efetivação da infecção pelo HIV, seja por úlceras ou inflamações das células do canal uretal, anal ou vaginal”, observa Westin.

Práticas de maior vulnerabilidade

Os jovens de 15 a 19 anos estão em uma faixa considerada de maior risco para ISTs. Isso porque a adolescência envolve o desejo de autonomia, com relações com múltiplas parcerias sexuais, uso menos frequente de preservativos e uso de drogas durante a prática sexual. E no grupo de homens que fazem sexo com homens, mulheres trans e travestis também se somam fatores como maior dificuldade de acesso ao sistema de saúde, falta de acolhimento e aconselhamento nestes serviços, entre outras vulnerabilidades sociais e econômicas.

Estudo

E para conhecer melhor os fatores de risco comportamentais entre os participantes da PrEP 15-19, outro estudo realizado pelo projeto* coletou dados de 289 jovens que estavam iniciando o recrutamento no projeto em 2019, nos três polos do projeto: em Belo Horizonte, Salvador e São Paulo. Os resultados, obtidos por meio de testes de ISTs e questionário estruturado sobre comportamento, mostraram que cerca de 78% desses jovens praticavam sexo anal desprotegido e 60,5% disseram fazer uso de alguma droga psicoativa durante a prática sexual, especialmente o álcool.

Informação

Para os autores do estudo, os achados preliminares reforçam a importância de aprofundar estudos sobre essa população e a necessidade de facilitar o acesso a todas as ferramentas de prevenção combinada, incluindo a PrEP para essa faixa etária.

“Delinear um estudo para adolescentes com ações de prevenção, focalizadas nesse público de homens que fazem sexo com homens e meninas trans é de suma de importância para cumprir medidas que em conjunto chamamos de prevenção combinada, isto é, que além da PrEP envolve a testagem regular para HIV e outras ISTs, fornecimento de preservativos, de gel lubrificante, encaminhamento precoce para tratamento e educação em saúde sexual”, completa Westin.

Simpósio satélite IAS 2021

Os dados de prevalência de ISTs coletados pelo projeto PrEP 15-19 em Belo Horizonte e nos outros dois polos do projeto serão apresentados na 11ª Conferência IAS sobre Ciência do HIV (IAS 2021), que será realizada virtualmente de 18 a 21 de julho de 2021. O evento organizado pela International Aids Society (IAS) visa conectar a comunidade científica global em torno da pesquisa de ponta em HIV, inovação clínica e estratégias globais de resposta à pandemia, e tem como cidade-sede Berlim, na Alemanha.

*Dirceu Greco, U. Tupinambás, M. Westin, Y. Martinez, M. Greco, A.P. Silva, A. Granjeiro, M. Depallens, L. Miranda Marques, G. Barreto Campos, L. Magno, I. Dourado. Prevalence of STIs among adolescent men who have sex with men (MSM) and transgender women (TGW) at high risk of HIV infection. 2020. Trabalho apresentado no AIDS 2020 – 23rd International AIDS Conference San Francisco and Oakland, US, on 6-10 July 2020.

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Com assessoria de comunicação da PrEP 15-19 Minas