Lixo: utilidades, possibilidades e desafios

Realidade do lixo no Brasil é debatida por especialistas de diferentes áreas de atuação


16 de fevereiro de 2017


Realidade do lixo no Brasil é debatida por especialistas de diferentes áreas de atuação

Bernardo Estillac*

Caixas, sacolas, embalagens plásticas, papéis, restos de comida e quase tudo que compramos e consumimos. Você já parou pra pensar em quanto lixo produz em apenas um dia? Lidar com todos esses resíduos gerados por uma sociedade consumista, porém, tem um “preço”.

Para o professor da Faculdade de Medicina e integrante do Projeto Manuelzão da UFMG, Antônio Radicchi, é um desafio de gestão que precisa ser encarado com consciência e responsabilidade ambiental. Portanto, enfrentar a realidade do lixo no Brasil passa pela necessidade do reaproveitamento:

 

Vidro, Papel, Metal, Plástico e Lixo Não Reciclável. Foto: Carol Morena | Edição: Clarice Passos

Agentes da limpeza

A criação do serviço de coleta de lixo marca uma revolução quando se trata de limpeza urbana. Apesar da importância social do trabalho que realizam, os agentes da limpeza podem ser afetados por um estigma social que ainda paira na sociedade brasileira. Esse cenário pode ser conferido no programa de quinta-feira da série “Lixo: Realidade Brasileira”, produzida pelo Saúde com Ciência.

A professora do Departamento de Psicologia da UFMG, Vanessa Barros, explica como o produto do trabalho pode afetar a saúde mental de quem lida diretamente com o lixo:

Estudo divulgado em 2016 pelo Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre) revelou que 85% da população brasileira não tinham acesso à coleta seletiva. Logo, a atividade dos catadores de material reciclável ganha força como agentes que possibilitam suprir a carência desse serviço.

O gestor ambiental Pedro Alcântara comenta o trabalho de valorização e reconhecimento desses catadores durante sua experiência no Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR):

 

Política Nacional de Resíduos Sólidos

O país convive com o descarte e armazenamento inadequados dos resíduos sólidos, sendo que em 2015 apenas 3% de todo o lixo produzido era reciclado. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, criada em 2010, apresenta resoluções que buscam mudar esse cenário. Saiba mais sobre a política no programa de sexta. Pedro Alcântara também fala sobre seus principais objetivos:

 

Arte que vem do lixo

A reciclagem não se limita ao reaproveitamento dos resíduos no processo de produção para consumo. Unir assistência social, educação ambiental e artística é o propósito do “Arte da Saúde”, desenvolvido pela Prefeitura de Belo Horizonte. O programa atende crianças e adolescentes entre seis e 18 anos em situação de vulnerabilidade social e funciona por meio de oficinas, que incentivam a utilização de materiais recicláveis com finalidade artística.

A educadora de arte Marelli Baptista diz que a abordagem lúdica e artística contribui para a formação ecológica dos participantes do programa:

No mundo contemporâneo, a questão da gestão e armazenamento do lixo vai se tornando cada vez mais importante de acordo com o ritmo crescente de consumo. Reunir especialistas de diferentes áreas do conhecimento e investir em educação ambiental deve ser uma das prioridades em escala global, antes que seja tarde e as possíveis soluções atuais também sejam “jogadas fora”.

ASPAS SONORAS

As “Aspas Sonoras”, nova produção do Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG, ampliam a discussão sobre os temas abordados nas séries realizadas pelo programa de rádio Saúde com Ciência. As matérias apresentam áudios e textos inéditos daquilo que foi apurado durante as produções.

A série Lixo: Realidade Brasileira foi ao ar entre os dias 11 e 15 de abril de 2016. Nela, foram tratados assuntos como os resíduos industriais, os grupos mais expostos aos prejuízos causados pelo lixo mal gerido e a relação com o mosquito Aedes Aegypti, além de destacar os profissionais de limpeza urbana e a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

*Editado por Lucas Rodrigues