Machismo está presente no atendimento à mulher vítima de violência

Mesmo com maioria feminina, grupo de gestores mostrou falhas na percepção de situações de violência


04 de janeiro de 2016


Notícia publicada na edição nº 49 do Saúde Informa

Mesmo com maioria feminina, grupo de gestores mostrou falhas na percepção de situações de violência

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, sete em cada 10 mulheres no mundo já sofreram ou sofrerão algum tipo de violência em suas vidas. Pelo Mapa da Violência 2015 – Homicídio de Mulheres no Brasil, a taxa de feminicídios no país cresceu 21% entre 2003 a 2013.

Visando avaliar a percepção dos gestores de saúde acerca da violência contra a mulher, um estudo entrevistou 93 gestores participantes dos seminários do projeto Para elas, por elas, por nós em todo o Brasil. Esse projeto capacita profissionais da saúde para o atendimento à mulher vítima de violência. Esse estudo foi realizado junto ao Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG.

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Infográfico: Alex Mamedes

Questionados sobre o que pensavam em relação a temas como a obediência da esposa ao seu parceiro, os entrevistados surpreenderam em algumas situações. “90,3% do público pesquisado era feminino e por isso esperávamos que essas mulheres estivessem mais sensíveis à percepção das situações de violência. Mas algumas delas têm comportamentos considerados machistas”, ressalta o autor do estudo, Wallace Medeiros Xavier.

 

Entre os resultados obtidos, 96,7% dos gestores discordam que é obrigação da esposa manter relações sexuais com seu marido. Entre os dados também está o de que 87,4% dos gestores não concordam com a submissão da mulher ao parceiro e 80,2% disseram que a esposa não deve obediência ao marido. “Esses números mostram grande sensibilidade aos direitos femininos, mas chama a atenção pela relação ao número de mulheres presentes na pesquisa. A expectativa era que todas as entrevistadas discordassem dessas situações”, lembra Xavier.

 

A discussão de problemas familiares com pessoas de fora da família também foi abordada. “Os gestores são os responsáveis pela implementação das políticas de acolhimento e enfrentamento da violência contra a mulher, então são favoráveis a essa intervenção”, explica. “Mas 27,5% deles concordaram parcialmente que os problemas deveriam permanecer em casa”, diz.

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Imagem: reprodução/internet

Capacitação e sensibilização

Wallace declara que embora o atendimento seja efetivo, não é resolutivo para as vítimas. Isso porque essas mulheres voltam, muitas vezes, para o mesmo ambiente violento. “Mas podemos propor a elas outra realidade”, opina.

Nos seminários realizados pelo projeto Para elas, gestores e gerentes das áreas técnicas de Saúde da Mulher, em todos os estados brasileiros, discutiram ações para implementação de uma rede integrada de atenção à mulher em situação de violência no país.

Um dos pontos indicados pelos profissionais da saúde foi à necessidade de sensibilização e capacitação daqueles que atuam frente à mulher vítima. Para o pesquisador, isso seria fundamental para minimizar as consequências da violência. “A vítima passa por vários serviços e às vezes é revitimizada por essa exposição. Com a capacitação, teríamos olhares mais sensíveis e a mulher se sentiria mais acolhida”, argumenta.

Mas o autor ressalta que não basta interligar serviços como a assistência social e delegacia da mulher. “Precisamos empoderar as mulheres para que elas conheçam os seus direitos e se sintam seguras para procurar suporte”, afirma.

Para elas, por elas, por nós

O projeto Para elas, por elas, por nós é desenvolvido pelo Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher em Situação de Violência, fruto de uma parceria entre o Núcleo de Promoção de Saúde e Paz do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG e o Ministério da Saúde. Além de capacitar profissionais da saúde para o atendimento à mulher vítima de violência, ele produz conhecimento e material científico sobre o tema.

Título: Percepção dos gestores de saúde acerca da violência contra a mulher

Nível: Mestrado

Autor: Wallace Medeiros Xavier

Orientador: Victor Hugo de Melo

Programa: Promoção da Saúde e Prevenção da Violência

Defesa: 29 de janeiro de 2015