Os dois lados da ansiedade
Nova série de rádio “Quem é Ansioso?” aborda os impactos da ansiedade no mundo, debatendo a ansiedade existencial comum e a patológica
06 de janeiro de 2017
Nova série de rádio “Quem é Ansioso?” aborda os impactos da ansiedade no mundo, debatendo a ansiedade existencial comum e a patológica
Ela pode ser descrita como um sentimento de alerta à expectativa de um perigo iminente ou uma situação desconhecida. Em geral, a ansiedade é comum ao cotidiano de qualquer indivíduo, mas nos últimos anos houve um aumento considerável nos diagnósticos envolvendo o quadro, relacionado à manifestação de sintomas como tremores, sudorese, taquicardia, enjoos e até insônia.
Rapidez nas informações, trabalho exagerado, exigências por qualidade e alta produção. É nesse ritmo acelerado que quadros de ansiedade tendem a se disseminar a nível mundial, segundo a professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Tatiana Mourão. “Esse bombardear constante de informações e de uma instabilidade mundial, sem dúvida, nos tornaria mais propensos à ansiedade”, afirma.
Para ser considerada patológica, desencadeando transtornos mentais como o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e o do Pânico, os sentimentos desmedidos de alarme devem surgir sem um gatilho específico. “O nosso ambiente do século pode diminuir o limiar dos nossos gatilhos pela instabilidade, mas tem que ter alguma coisa na pessoa”, pondera Tatiana Mourão. Nesses casos, as manifestações ansiosas podem estar ligadas a questões psicológicas, de acordo com a forma de pensar do indivíduo, ou químicas – há casos de déficit de produção do hormônio serotonina, que é responsável pela regulação do humor e sono no corpo, dentre outras funções.
Para o psicanalista e professor do Departamento de Psicologia da UFMG, Guilherme Massara, encarar a ansiedade como um sentimento normal a qualquer ser humano é um bom caminho não só para controlar seus efeitos, mas também proporcionar entendimento de si mesmo. “Os sentimentos, via de regra, nos dão um índice intuitivo e de certeza bastante razoável em relação à nossa posição diante da realidade”, acredita.
Nessa perspectiva, o indivíduo deve se permitir a oportunidade de vivenciar experiências novas, a fim de lidar positivamente com as emoções incômodas, compreendendo-as e auto-aprendendo. “Esse arejamento da relação com as escolhas, com a vida e com o sentimento de identidade, costuma ter um efeito benéfico sobre a ansiedade”, opina Massara.
Medicamentos à revelia
O uso inconsequente de medicamentos ansiolíticos está associado aos altos índices de ansiedade em escala global. Para se ter uma ideia, entre 2014 e 2015 foram vendidas no Brasil mais de 23 milhões de caixas do “popular” Rivotril, medicamento que contém o princípio ativo clonazepam, usado para aliviar a sensação ansiosa.
“Não são todos os casos que vão se beneficiar com medicação”, garante Tatiana Mourão. Normalmente, quadros de ansiedade mais leves podem ser tratados com atividades físicas, hobbies, ioga e meditação. Quadros mais intensos podem exigir alguns tipos de psicoterapia, sendo que o uso de medicamentos deve ser prescrito somente pelo psiquiatra.
Os antidepressivos, em geral, agem de modo mais eficaz no combate à ansiedade e por isso são os mais indicados. O psiquiatra e professor aposentado da Faculdade de Medicina, Maurício Viotti, diz que esses remédios podem ser muito úteis se a pessoa fizer o uso correto. “Geralmente, são seis meses, às vezes mais conforme a necessidade da pessoa”, estima. Durante o tratamento, o paciente deve ser orientado a priorizar um estilo de vida mais saudável para que, mais tarde, o uso de medicamentos seja suspenso sem comprometer sua saúde.
Sobre o programa de rádio
O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.
O programa também é veiculado em outras 185 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.
Redação: Bruna Leles | Edição: Lucas Rodrigues