Pesquisa da Faculdade apoiará vigilância de óbitos por covid-19

Parceria do Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal com a Fiocruz fará ensaios histoquímicos, digitalização e análise morfológicas de amostras com interesse epidemiológico vindos de óbitos no Hospital Eduardo de Menezes.


10 de julho de 2020 - ,


Uma pesquisa do Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal (APM) da Faculdade de Medicina da UFMG irá apoiar a análise epidemiológica de casos de óbito por covid-19 em Minas Gerais, por meio de autópsia minimamente invasiva. A ação é uma parceria com a Fiocruz, por meio do Instituto René Rachou (IRR), e compreende ensaios histoquímicos, digitalização e análise morfológicas de amostras com interesse epidemiológico vindos de óbitos no Hospital Eduardo de Menezes (HEM).

Os casos serão selecionados e incluídos no estudo após admissão no HEM. “Suas amostras biológicas, por motivos de biossegurança e infraestrutura, serão encaminhadas ao laboratório do Grupo de Imunologia de Doenças Virais do IRR para processamento e ensaios histoquímicos. Posteriormente, serão enviadas ao APM para digitalização e análise morfológica”, explica o coordenador da ação pelo APM, professor Marcelo Pascoal. Inicialmente o projeto prevê, no total, estudo de 50 casos.

A participação da Faculdade de Medicina será por meio do projeto de pesquisa “Estudo anatomopatológico de fatores prognósticos da COVID-19 fatal por meio da autópsia minimamente invasiva”, coordenado pelo professor Marcelo, que irá padronizar as análises histopatológicas das amostras teciduais.

As análises serão feitas pelos professores do APM, que contribuirão com o estabelecimento de critérios de gravidade das lesões teciduais e diagnóstico morfológico nas lâminas histológicas digitalizadas pelo equipamento de patologia digital do próprio Departamento. Já o serviço de imuno-histoquímica do IRR realizará biópsia pulmonar transtorácica nas amostras.

A investigação dos óbitos é etapa essencial para qualidade das informações do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), parte do DataSUS do Ministério da Saúde, e serve de suporte para gestores públicos tomarem decisões, além de ajudarem os cientistas a entenderem a doença. Em casos de surtos e epidemias, a parceria entre o APM da Faculdade de Medicina, o IRR da Fiocruz e o atual Centro Mineiro de Controle (CMC) da Subsecretaria de Vigilância em Saúde de Minas Gerais (da qual o Hospital Eduardo de Menezes faz parte) é de longa data. “Um exemplo recente foi o envolvimento de todos na investigação dos surtos de febre amarela ocorridos em Minas Gerais entre 2017 e 2019”, comenta o professor Marcelo Pascoal.

Verificação de óbitos

A pesquisa contribuirá para padronização metodológica emergencial para o projeto de organização da Rede de Serviço de Verificação de Óbito da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (RSVO/SES-MG). “A proposta incorporava inovação procedimental (a autópsia minimamente invasiva), uma reorganização classificada pela complexidade da infraestrutura disponível e a patologia digital ou telepatologia. Com o advento da pandemia de covid-19 e as restrições para realização das autópsias clássicas ou abertas, a proposta foi ajustada e otimizada para operacionalização no curtíssimo prazo”, explica Marcelo.

Até então, Minas Gerais não contava com um serviço de verificação de óbitos. Segundo o 15º boletim epidemiológico Coe-Covid19, do Ministério da Saúde, atualmente existem 43 serviços de verificação de óbitos habilitados na rede nacional, sendo 14 na região Nordeste, 13 na Sudeste, 10 na Centro-Oeste, quatro na Sul e dois na Norte. Além das cidades sede, os serviços existentes são referência para atendimento à população de suas regiões, alcançando um total de 2.596 municípios.

A importância desse tipo de serviço pode ser medida ao olharmos para os dados de registros de óbitos no país, levantados no boletim. Anualmente, o Brasil notifica aproximadamente 1,3 milhão de óbitos, dos quais cerca de 100 mil apresentam, inicialmente, a causa básica indefinida. Desses, 30 mil passam a ter uma causa bem definida após a investigação pelas equipes das vigilâncias locais.


Confira as pesquisas, artigos e ações de enfrentamento da Faculdade de Medicina da UFMG durante a pandemia de covid-19 no site especial.