Pesquisadores debatem excesso de procedimentos e medicamentos

Cultura pode ocasionar tratamentos e procedimentos médicos desnecessários.


29 de agosto de 2017


A cultura de estabelecer diagnósticos para os sintomas e queixas dos pacientes pode ocasionar tratamentos e procedimentos médicos desnecessários

 

Maria Sofia Fuentes ministrou palestra sobre a prevenção quaternária e atenção primária à saúde. Foto: Carol Morena

Questionar o que é saúde, cura, doença e como a abordagem médica deve compreender os pacientes é uma atividade que permeia a discussão sobre a prevenção quaternária, nome dado às atitudes que buscam evitar procedimentos médicos desnecessários.

A médica de família e professora da Universidade Peruana Cayetano Heredia, Maria Sofia Fuentes considera que há um exagero nos diagnósticos médicos por uma cultura de rotular as queixas dos pacientes. “Sintomas, sentimentos, ideias, expectativas fazem parte das pessoas. Na sociedade em que vivemos a resposta que se dá a isso muitas vezes é etiquetar, diagnosticar, e é isso que a prevenção quaternária busca evitar”, avaliou Maria Sofia.

Durante uma mesa-redonda sobre a prevenção quaternária, a professora falou sobre o tema sob a perspectiva da medicina de família e comunidade. Ela ressaltou que a promoção de saúde não tem apenas a perspectiva da cura de doenças, criticando o exagero na prescrição de medicamentos. A solicitação de exames sem necessidade também foi discutida na palestra e apresentada como um paradoxo por aumentar a ansiedade dos pacientes, comprometendo sua qualidade de vida.

“Os verdadeiros profissionais fornecem conselhos considerados. Às vezes não fazer nada é o correto a se fazer. Na medicina é o mesmo: um médico que não lhe prescreve nada pode ser o que realmente preza por você”, concluiu a professora Maria Sofia Fuentes, citando o pesquisador em medicina da família e comunidade, Gilbert Welch.

Prevenção quaternária e câncer

Arn Migowski ministrou palestra sobre a relação entre prevenção quaternária e campanhas de rastreamento de câncer. Foto: Carol Morena

As campanhas de diagnóstico precoce de câncer como o “Outubro Rosa”, para o câncer de mama e o “Novembro Azul”, para o câncer de próstata são formas de promover o rastreamento, ou seja, realizar exames em pessoas saudáveis para detectar um eventual indício da doença.

O chefe da Divisão de Detecção Precoce de Câncer e Apoio à Organização de Rede do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Arn Migowski, considera que é preciso pesar os benefícios e malefícios das campanhas de rastreamento, que pode resultar em ansiedade por conta da realização excessiva de exames ou até em tratamentos para casos em que a doença não apresenta riscos à saúde ou indícios de progressão.

Migowski, na palestra, questionou o uso do aumento do tempo de vida após o diagnóstico, a sobrevida, como argumentação para constatar a eficácia dos exames de rastreamento. Ele explicou que o diagnóstico precoce e o aumento no número de diagnósticos provocado pela maior quantidade de exames aumenta, consequentemente elevando o tempo de vida caracterizado como sobrevida do paciente.

“Muitas vezes não fazer esses exames é uma forma de prevenção, a prevenção quaternária, porque são pessoas saudáveis e temos que conservar a saúde evitando danos excessivos, que é um dos preceitos éticos da medicina”, concluiu Arn Migowski.

Congresso Nacional de Saúde
A programação da 4ª edição do Congresso reúne mais de 10 mesas-redondas, workshops e oficinas em torno do tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”, além de três simpósios internacionais nas áreas de prática e ensino de Saúde.

O Congresso Nacional de Saúde vai até 30 de agosto de 2017, com atividades pela manhã e à tarde, divididas em três eixos temáticos e um eixo transversal. O evento conta com atividades culturais, com exposições, apresentações, lançamentos de livros e intervenções durante toda a programação, que integra ainda as comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.

A Secretaria executiva do 4º Congresso Nacional da Saúde atende na sala 5, no térreo  da Unidade.

Confira a programação completa na página do Congresso Nacional de Saúde.

Mais informações: 3409 8053, ou ainda pelo e-mail 4congresso@medicina.ufmg.br

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