Cirurgia bariátrica, isoladamente, não resolve obesidade


30 de agosto de 2017


Dificuldade em combater a obesidade faz da cirurgia bariátrica uma das principais possibilidades de solução para o problema.

 

Ives Teixeira Souza*

 

 

Alexandre Savassi Rocha apresentou dados sobre a cirurgia bariátrica no Brasil. Foto: Carol Morena

Expectativas irreais em relação à cirurgia bariátrica, como a resolução de problemas que vão além da saúde e da qualidade de vida, fazem com que muitos pacientes sejam operados sem as informações necessárias sobre o procedimento, sendo surpreendidos com os efeitos do processo pós-operatório, como destacou o cirurgião Alexandre Savassi Rocha, do Hospital das Clínicas da UFMG. O médico foi um dos participantes da mesa-redonda sobre cirurgia bariátrica na tarde desta quarta-feira, 30 de agosto, durante o Simpósio Assista a essas e outras palestras completas da segunda parte do Simpósio “Obesidade: estamos preparados para esse desafio?”.

A obesidade, considerada epidemias na atualidade, deve afetar, até 2025, 18% dos homens e 21% das mulheres em todo o mundo. Savassi Rocha alertou para o fato de que a cirurgia bariátrica, comumente apontada como principal só é indicada quando há insucesso no tratamento clínico. “A cirurgia é um elemento coadjuvante, útil no tratamento da obesidade, e um potencial catalisador no processo de mudanças de hábitos do paciente, com indicação seletiva”, afirmou.

De acordo com o médico, esse tipo de cirurgia no Brasil existe desde os anos 70, mas somente nos anos 90 houve a consolidação da prática, apesar das críticas e resistências na área de Saúde. Isso culminou em um aumento progressivo do número dos diversos tipos de procedimentos bariátricos, cerca de 100 mil cirurgias no Brasil em 2016, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. “Esse número é muito por causa do aumento da prevalência de obesidade, bons resultados científicos e novos padrões adotados, como a cirurgia por laparoscopia”, explica.

Critérios para a cirurgia
Apesar de ser um critério falho, por não revelar as consequências da obesidade no paciente, o Índice de Massa Corporal (IMC) é a principal forma de classificação para a necessidade da cirurgia. Conforme resolução do Conselho Federal de Medicina, que também ampliou a lista de doenças relacionadas à obesidade que são critérios de indicação para o procedimento, a cirurgia é avaliada em pacientes que apresentam IMC entre 35 e 39,5 Kg/m² e acima de 40 kg/m², sendo os últimos indivíduos com obesidade mórbida.

Para decidir quem pode ser operado o cirurgião pressupõe o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais de saúde. Entre as contraindicações destacam-se o uso de drogas ilícitas, alcoolismo e psicoses por parte dos pacientes. Antes da cirurgia, segundo o cirurgião, também é preciso tratar doenças pré-existentes, como a úlcera. É recomendável a perda de peso, entre 5% e 10%, para diminuir as complicações cirúrgicas.

“Quando se fala em resultados da cirurgia é preciso avaliar a qualidade de vida dos pacientes”, explica Savassi Rocha.  De acordo com ele isso é feito a partir de um acompanhamento daqueles que fazem o procedimento. “É avaliada a adaptação à dieta, os hábitos alimentares e intestinais, distúrbios psicológicos e psiquiátricos”, esclarece.

Segundo a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina e médica do grupo para tratamento cirúrgico de obesidade mórbida do Hospital das Clínicas da UFMG, Aline Beleigoli, quem continua fazendo essa avaliação posterior é motivado pelos resultados positivos alcançados no início do tratamento. “Cerca de 40% voltam ao acompanhamento, por cerca de dois anos”, avalia. Para melhores análises sobre a cirurgia bariátrica o ideal é realizar avaliações a médio e a longo prazo.

“Mas será que a perda de peso reflete nos efeitos clínicos?”, questionou a professora. Por enquanto, por causa dessa dificuldade de acompanhamento, é possível afirmar que a cirurgia provavelmente beneficia o controle do diabetes, a hipertensão, a apneia do sono, entre outras doenças. “Essa conclusão precisa ser encarada com cautela, pois é feita a partir de estudos com alto risco de viés de seleção, por causa das ausências de acompanhamento”, revela Beleigoli.

Aumento de peso
Um fator que compromete essa sequência de avaliações é o reganho de peso após a realização da cirurgia. Como explicou a professora aposentada do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG e endocrinologista, Maria de Fátima Haueisen Sander Diniz, os indivíduos tendem a readquirir o peso. “A obesidade é uma doença progressiva e recorrente”, alertou.

Segundo a especialista, diante de números tão expressivos, como a obesidade afetar 20% da população brasileira, outro desafio é como tratar a doença, considerando aspectos genéticos e de alimentação das pessoas, como o uso de aditivos químicos nos alimentos que alteram o modo do corpo estocar energia.  “Não se pode querer que um tratamento simples resolva um problema tão complexo quanto a obesidade”, ponderou, apesar dos medicamentos que tratam a obesidade serem um potencial gerador de graves efeitos adversos.

“Estamos diante de um problema que a solução é a prevenção. Desde o aleitamento materno, a educação alimentar das famílias, até o taxamento de alimentos processados, como acontece no México”, opinou a professora.

Carta de intenções
Ao longo das discussões durante o dia foi redigida uma carta de intenções embasada nos documentos e debates encaminhados pelos palestrantes com o objetivo de propor ações aos órgãos públicos e instituições privadas a fim de ampliar a atuação no tratamento da obesidade.

O documento foi apresentado pelo professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG (CLM), Nilton Alves de Rezende, e propõe nortear as diretrizes e propostas para uma ação integral aos pacientes portadores de sobrepeso e obesidade.

Assista a essas e outras palestras completas da segunda parte do Simpósio “Obesidade: estamos preparados para esse desafio?”

Confira a cobertura da primeira parte do Simpósio “Obesidade: estamos preparados para esse desafio?”

Congresso Nacional de Saúde
A programação da 4ª edição do Congresso reuniu mais de 10 mesas-redondas, workshops e oficinas em torno do tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”, além de três simpósios internacionais nas áreas de prática e ensino de Saúde.

A programação do Congresso Nacional de Saúde se encerrou hoje, 30 de agosto de 2017. Além da programação científica, o Congresso contou ainda com atividades culturais, exposições, apresentações, lançamentos de livros e intervenções durante toda a programação, que integrou  a programação das comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.

A Secretaria executiva do 4º Congresso Nacional da Saúde atende na sala 5, no térreo  da Unidade.

Confira a programação completa na página do Congresso Nacional de Saúde.
Mais informações: 3409 8053, ou ainda pelo e-mail 4congresso@medicina.ufmg.br
Acesse todas as notícias e coberturas de eventos sobre o 4º Congresso Nacional de Saúde.

*Redação: Ives Teixeira Souza – estagiário de jornalismo

Edição: Mariana Pires