Atenção primária e interdisciplinaridade na Saúde
30 de agosto de 2017
Simpósio debateu estratégias e desafios no ensino da Atenção Primária em Saúde a partir de experiências nacionais e internacionais
Carol Prado*
Retratada na crônica da estudante de Medicina da UFMG, a frieza e impessoalidade do ambiente hospitalar foi descrita no verso “… a vida nos ensina a engolir o choro, a esconder a angústia, a ficar branco”. Produção para a disciplina de “Iniciação em Atenção Primária à Saúde (APS)I”, o texto, que versa sobre uma adolescente em gestante em situação de rua, abriu o Simpósio Internacional de Educação em Saúde, que integrou a programação do 4º Congresso Nacional de Saúde na tarde de hoje, 30 de agosto, na Faculdade de Medicina da UFMG.
Na opinião da professora Maria Sofia Fuendes, da Universidad Peruana Cayetano Heredia (UPCH), os alunos deixam a faculdade acreditando que a única complexidade existente é a médica. “Não podemos usar o mesmo método para todas as pessoas”, afirmou, defendendo a necessidade de estar sempre aprendendo, já que a prática clínica é permeada por outras áreas de atuação, como a enfermagem.
A professora utilizou do conceito de metacognição, que é pensar sobre o próprio pensamento em situações novas, para explanar a necessidade de “tirar do automático” a prática médica, permitindo a aproximação tanto de médico e paciente quanto de professor e aluno. Para Sofia, cabe ao professor praticar o que ela denominou “diagnóstico estudantil”: a adequação aos alunos, para potencializar a formação.
Formação interdisciplinar
Por videoconferência, a professora Francé Legaré da Université Laval, no Canadá, apresentou uma perspectiva espacial e cultural de um país diferente. A universidade tem como ênfase a formação em atenção primária: 50% dos estudantes se graduam nessa área. Segundo a professora, além da grande percentagem de formandos em APS, há um esforço para a formação interdisciplinar. Existem dezessete departamentos voltados para a atenção primaria em saúde na Université Laval, dentre eles o departamento de Medicina da Família e Emergência, do qual a professora Francé faz parte.
Ela pontuou alguns motivos para o estudante de medicina ter a formação em Atenção Primária: o humano, a ampla gama de campos de atuação, já que o profissional de atenção primaria pode trabalhar na prática clinica, em gestão, em projetos de pesquisa. Para ela, a APS representa, ainda, uma área que facilita o equilíbrio na vida pessoal e uma carreira desafiadora do ponto de vista intelectual. “O médico de família pode trabalhar desde o casal gestante ao idoso, a emergência”, justificou. Por último, a professora destacou o ambiente de trabalho interdisciplinar que permite a colaboração com outros profissionais, da área de Saúde e também de outras, quanto ciências políticas e humanas.
Prática na rede municipal de saúde
As professoras do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Cláudia Lindgren e Cristina Alvim, trataram de questões práticas relacionadas à abordagem de APS na Faculdade, desde a mudança efetiva de currículo em 2014, que colocou novos conceitos e objetivos e implantou o estágio, antes obrigatório, agora opcional, na rede municipal de saúde.
Cláudia falou sobre a importância da relação entre a universidade e a rede municipal de saúde, e mencionou a Lei Orgânica da Saúde, em que é proposta que as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) devem ser campo de prática e pesquisa em ensino. 23 unidades de saúde em cinco regionais de Belo Horizonte recebem estudantes de medicina como parte das disciplinas de iniciação a APS (I, II e III).
A apresentação da professora Cristina Alvim foi focada na importância de uma formação acadêmica baseada em competências. Segundo ela, a partir desse modelo, é mais fácil estruturar uma formação mais participativa e eficaz e que atenda às demandas atuais da medicina. “Quais são os problemas que os estudantes devem estar aptos a mudar? É esse tipo de pergunta que precisamos responder com o conteúdo em sala de aula”, propôs.
Congresso Nacional de Saúde
A programação da 4ª edição do Congresso reuniu mais de 10 mesas-redondas, workshops e oficinas em torno do tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”, além de três simpósios internacionais nas áreas de prática e ensino de Saúde.
A programação do Congresso Nacional de Saúde se encerrou hoje, 30 de agosto de 2017. Além da programação científica, o Congresso contou ainda com atividades culturais, exposições, apresentações, lançamentos de livros e intervenções durante toda a programação, que integrou a programação das comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.
A Secretaria executiva do 4º Congresso Nacional da Saúde atende na sala 5, no térreo da Unidade.
Confira a programação completa na página do Congresso Nacional de Saúde.
Mais informações: 3409 8053, ou ainda pelo e-mail 4congresso@medicina.ufmg.br
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*Redação: Carol Prado – estagiária de jornalismo
Edição: Mariana Pires