Por que é tão difícil parar de fumar?


20 de maio de 2013


Notícia publicada no Saúde Informa

De um modo geral, as pessoas só conseguem vencer a dependência à nicotina depois de duas ou mais tentativas, afirmam especialistas

O tabagismo é a maior causa de morte evitável no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Entretanto, mesmo conscientes dos malefícios, para muitos fumantes abandonar o vício de vários anos parece uma barreira intransponível. Lucas Miranda, 22, decidiu abandonar o hábito, depois de seis anos. O funcionário da Faculdade de Medicina se sentia incomodado com efeitos indesejáveis do cigarro, como a dificuldade de respirar ao fazer exercícios físicos. Porém, os sintomas provocados pela abstinência decretaram o fim da tentativa. “A ansiedade, impaciência e irritabilidade me fizeram desistir. Não consegui ficar dois dias sequer longe do cigarro”, reclama.

A chamada “síndrome da abstinência” sentida por Lucas é provocada pela ausência da nicotina no corpo. Segundo a professora Maria Aparecida Martins, integrante da Comissão Multidisciplinar de Controle do Tabagismo do Campus Saúde da UFMG, a crise começa poucas horas após a cessação, podendo durar até alguns meses. “O desejo intenso de fumar, agressividade e dificuldade para se concentrar, além das associações automáticas que o fumante faz, por exemplo, tomar café e fumar, ligar o computador e fumar e muitas outras dificultam o êxito da tentativa”, explica.

Segundo o Ministério da Saúde, a cada ano, cerca de 80% dos fumantes tentam parar de fumar, mas somente 3% conseguem sem ajuda profissional. “O tabagismo é uma doença crônica e o fumante deve ser tratado como um dependente”, afirma o pneumologista Luiz Fernando Pereira, coordenador do Ambulatório de Cessação do Tabagismo do Hospital das Clínicas da UFMG.

Dicas

Após uma tragada de cigarro, a nicotina atinge o cérebro em, no máximo, 20 segundos. A partir daí, estimula a liberação de substâncias que causam sensações de prazer, bem-estar, relaxamento, redução da ansiedade, aumento da atenção, da concentração e diminuição do apetite. Tudo isso faz com que a satisfação em fumar suplante o incômodo de continuar fumando.

Para vencer essas sensações, é preciso se distrair e fugir das situações de risco. “A fissura, ou seja, o forte desejo de fumar, não leva mais de cinco minutos para passar”, revela Luiz Fernando Pereira. Por isso, aos que sonham em ver seus pulmões livres da fumaça, o médico recomenda mudar os hábitos, preenchendo o tempo com mais atividades desassociadas ao cigarro.

Marcar uma data para iniciar o controle do vício é outro fator importante. Segundo a pneumologista responsável pelo Programa de Controle do Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Maria das Graças Rodrigues de Oliveira, esta data deve estar dentro dos 30 dias após a tomada da decisão de parar. “É necessário que os fumantes conheçam os mecanismos da dependência à nicotina e desenvolvam habilidades para a prevenção de recaídas, como a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável”, recomenda.

Também é necessário o acompanhamento de um profissional da saúde capacitado, além do uso de medicamentos, para reduzir o sofrimento na fase da abstinência e aumentar o índice de sucesso no tratamento. Os remédios, normalmente, são indicados para pacientes que fumam mais de dez cigarros por dia ou que tiveram insucessos em tentativas anteriores. Os principais são em forma de adesivo e goma de mascar, classificados como repositores de nicotina; os antidepressivos, como bupropiona e nortriptilina; além da vareniclina, que age sobre os receptores de nicotina. “Esses medicamentos são indicados por meio de avaliações individuais, que levam em consideração os efeitos colaterais, as interações medicamentosas e até mesmo os preços. De modo geral, são utilizados durante os três primeiros meses do tratamento”, explica Maria das Graças.

Ambiente livre de tabaco

A Comissão Multidisciplinar de Controle do Tabagismo do Campus Saúde da UFMG, em processo de reativação, pretende capacitar profissionais da saúde para desenvolver ações de apoio aos fumantes que queiram abandonar o vício. Também está prevista a realização de inquéritos no Hospital das Clínicas da UFMG para avaliar a prevalência de fumantes. A partir das informações, os adeptos do cigarro que desejem parar serão encaminhados para tratamento na unidade. A meta da comissão é que o campus se transforme em um “ambiente 100% livre do tabaco”. “Por se tratar de um ambiente onde se cuida da saúde, devemos dar o exemplo”, enfatiza Maria Aparecida Martins.