Prática médica deve ultrapassar o limite da Ciência


04 de setembro de 2014 -


“A relação médico-paciente é a dimensão mais preciosa, específica da prática médica, que foi possível preservar ao longo do tempo”, assim teve início a conferência “Relação médico-paciente na contemporaneidade”, proferida pelo professor Emérito da UFMG, Roberto Assis Ferreira, nesta quinta-feira, 4 de setembro.

Congressistas participam da Conferência "Relação médico paciente na contemporaneidade".

Congressistas participam da Conferência “Relação médico paciente na contemporaneidade”.

Roberto discutiu a conexão entre Medicina e Ciência, afirmando que a prática médica assume um caráter científico quando há um deslocamento do alvo de tratamento do doente para a doença. Segundo ele, quando isso acontece, o sujeito passa a estar à margem da relação, por isso o profissional da Saúde deve atuar em dimensões que ultrapassem o limite da técnica. “O paciente procura respostas técnicas, mas há algo além”, afirma.

Uma forma de entender essa conexão na atualidade, de acordo com o professor, é pensar na ideia de troca, ou transferência. Isto é, no momento da consulta, médico e paciente alternam a posição no discurso. O profissional deixa de ocupar apenas a posição de poder, ele deve, também, ser ouvinte e compreender as mensagens que são transmitidas para além do que é dito. Este seria o ponto que diferencia a prática médica do método semiológico, técnico.

“O médico deve se permitir ‘escapar’ um pouco do terreno técnico", Roberto Assis

“O médico deve se permitir ‘escapar’ um pouco do terreno técnico”, Roberto Assis

Reforçando seu discurso, expôs citações de renomados filósofos e especialistas da área, como Balint, que afirmou que “toda doença é também um pedido de amor e atenção”. Contando um trecho do filme “Minha Vida Sem Mim”, o professor exemplificou momentos em que esse relacionamento próximo e baseado no entendimento do outro se faz necessário na vida de uma pessoa enferma e alertou, ainda, para os riscos que um envolvimento excessivo pode apresentar para a saúde mental do profissional.

“O médico deve se permitir ‘escapar’ um pouco do terreno técnico, deixar que, até certo ponto, venha do paciente a angustia, as preocupações com a vida, enfim, questões aparentemente não ligadas à doença, mas que podem apontar para a demanda e o sofrimento do paciente”, concluiu.

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