Professor da Faculdade reforça dever do homem no combate ao machismo


08 de março de 2019


Professor da Faculdade de Medicina, Ulysses Panisset, participa do seminário Mulheres em Foco e promove reflexões sobre a opressão diária contra as mulheres. Foto: Carol Morena.

“Mesmo quando lutamos ativamente contra, nossas atitudes podem apresentar traços machistas e devemos estar atentos a elas”, avaliou o professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social, Ulysses Panisset. Ele abordou os mecanismos presentes na estrutura da sociedade e que sistematizam o machismo, durante o seminário “Mulheres em Foco”, realizado nesta sexta-feira, 8 de março, na Faculdade de Medicina da UFMG.

De acordo com o professor, é preciso refletir sobre a forma como o machismo está internalizado em nossa cultura e a importância da autocompreensão, principalmente entre os homens, para que machismo e masculinidade não se confundam. “Ninguém quer impedir os homens de serem masculinos, essa é simplesmente uma característica ligada ao gênero, com toda a sua variedade de expressões. Porém, essa não deve ser uma masculinidade para dominação, poder, força e nem autoritarismo”, esclareceu Ulysses.

Ele reforçou o papel do feminismo no processo de reconhecimento de atitudes e traços machistas. “O feminismo é uma ética e uma política que pode melhorar a autocompreensão das pessoas e, desse modo, ajudar a melhorar suas vidas”, completa.

Parafraseando a filósofa e escritora Márcia Tiburi, o professor reconheceu seu lugar de fala em um debate sobre mulheres e para mulheres, mas ressaltou a importância de todos os gêneros discutirem essa questão. “Em um tempo que muitos veem o ‘marxismo cultural’ e a ‘ideologia de gênero’ como maiores perigos para a sociedade, a verdadeira importância está em entender o machismo cultural que está presente em diversas camadas”, reflete.

Segundo o professor, não adianta combater apenas os machistas e o machismo em si. É preciso lutar contra a estrutura machista presente em diversas camadas da sociedade, inclusive nas políticas e estratégias de saúde.  “É um sistema que reflete na violação de direitos humanos, discurso de ódio, medo e intolerância para a sociedade”, acrescenta Ulysses.

Saúde sem sexismo

Ele destacou o papel dos profissionais de Saúde no combate dessas estruturas. “Durante muito tempo, as políticas de saúde pública e da própria Organização Mundial de Saúde (OMS) se reduziam ao órgão reprodutor da mulher. Hoje, a OMS já reconhece o cuidado com a vida sexual de qualidade como um direito”, ressalta.

Para Ulysses Panisset, o serviço de saúde tem importante papel no acolhimento de vítimas de violência de gênero, principalmente na Atenção Primária, por ser o primeiro ponto de acolhimento às mulheres. Para isso, de acordo com o professor, é preciso que os profissionais estejam abertos para ouvir e entender, sem uma posição normalizadora ou prescritiva.

“É essencial que todos, especialmente os profissionais de saúde, se mantenham vigilantes e tenham atenção para combater o machismo sistematizado”, conclui.

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