Quando o silêncio é sinal de alerta


02 de maio de 2013


Demora no diagnóstico do atraso da fala pode causar problemas futuros

A falta de conhecimento dos pais e até mesmo a baixa percepção de alguns pediatras podem causar sérios danos a crianças que apresentam alterações no desenvolvimento da linguagem oral. Por não perceberem sinais de atraso na fala nos dois primeiros anos de vida da criança, os pais só recorrem ao tratamento adequado quando os sintomas são bem mais fortes e podem estar relacionados a outros distúrbios. Diagnósticos equivocados, associados a crendices como “basta esperar que a fala aparece com o tempo”, podem causar impactos irreparáveis na primeira infância ou acompanhar o indivíduo para o resto de sua vida.

Foto: sxc.hu/Milan Jurek

As crianças tendem a adquirir a linguagem no decorrer do segundo ano de vida. As que chegam nessa faixa etária sem apresentar essa forma comunicativa merecem atenção especial. “Elas podem estar com alterações de linguagem”, alerta a professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Rita de Cássia Leite.

O atraso da linguagem oral pode estar relacionado a surdez, deficiência mental, comprometimentos neurológicos e outros fatores chamados de secundários. “Esse transtorno é mais facilmente identificado pela família ou pelo médico, pois apresenta sinais maiores, traços clínicos mais evidentes. São esses que chegam ao consultório mais cedo”, comenta a professora.

Por outro lado, os fatores primários, mais difíceis de serem diagnosticados, são chamados de Alterações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem. “São crianças, em geral, com resultados de exames normais, mas que não conseguem desenvolver a linguagem oral conforme o esperado”, explica Rita de Cássia. Esse distúrbio pode atingir entre 5% a 10% das crianças.

Diagnóstico

A especialista chama a atenção para a necessidade de um diagnóstico até os dois anos de idade. Segundo ela, depois dessa idade, algumas habilidades podem ser mais comprometidas. “O prognóstico favorece uma intervenção terapêutica preventiva, bem planejada, segura e eficiente; evitando outras alterações tardias, como distúrbios de aprendizagem, desvios fonológicos e até mesmo alterações emocionais e sociais”.

Para uma identificação prévia, pediatras e pais devem abandonar as crenças e se atentar aos sinais reais das crianças. “Não devem simplesmente dizer que os meninos começam a falar depois das meninas, ou que irmãos mais novos começam a falar mais tarde em relação aos mais velhos. Esses fatores podem contribuir para uma variação normal, mas eles não deveriam ser usados para explicar o motivo pelo qual uma criança não alcança marcos essenciais”, ressalta a professora.

Orientações

A linguagem se divide em pré-linguística e linguística. A primeira consiste na troca comunicativa por meios não verbais, como o olhar e gestos, e acontece até 10 meses de vida. Já no período linguístico, que ocorre até os 24 meses, as crianças são capazes de formar frases de duas palavras como “mimi não” e “mamãe quero”. Com três anos, os pequenos apresentam vocabulário mais amplo e com mais elementos gramaticais.

Para o bom desenvolvimento da fala e da linguagem, a professora dá as seguintes dicas: “Manter interações comunicativas com seus filhos desde os primeiros meses de vida, falando com entonação diferenciada, ficar atentos aos sinais como gestos e expressões faciais, aproveitar as situações diárias (banho, alimentação) para nomear os objetos e levar as crianças para conhecerem outros ambientes em que terão uma diversificação linguística, como os parques”.