Resultados promissores de estudo aumentam esperança por vacina contra HIV
Pesquisa está em fase de recrutamento para testes da vacina em humanos e é tema do Saúde com Ciência
17 de maio de 2021 - Dia Mundial de Conscientização HIV, imunização, Johnson & Johnson, pesquisa mosaico, saúde com ciência, Vacina contra HIV
Maria Beatriz Aquino*
A ciência já descobriu uma forma de combater a covid-19: por meio das vacinas. Mas para um vírus muito mais antigo, o HIV, a busca por um imunizante ainda está a caminho. Porém, com a pesquisa Mosaico, que desenvolve vacina contra o vírus, essa busca está cada vez mais perto de um final satisfatório: “os resultados são promissores”, comenta o professor Titular da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador da pesquisa na Universidade, Jorge Andrade Pinto.
O estudo é realizado no âmbito da Rede HVTN, financiado em colaboração com a Johnson & Johnson, e conta com parceria da Faculdade de Medicina da UFMG e instituições de oito países. A pesquisa está em fase de testes em humanos, com recrutamento de voluntários aberto até julho deste ano.
O professor Jorge Andrade Pinto conta que com os primeiros testes, o imunizante se mostrou suficientemente imunogênico, o que significa que sua capacidade em prevenir um contato natural com o vírus HIV é razoável.
Ainda de acordo com o professor, os resultados primários dessa fase estão previstos para 2023 e caso o retorno seja positivo, a expectativa é que a vacina se torne tão importante quanto às demais asseguradas pelo Calendário Nacional de Vacinação.
“Eu penso que esse é o cenário ideal. Que tenhamos uma vacina contra o HIV que possa ser utilizada e incluída nos calendários vacinais das crianças e adolescentes”, estima.
Por que só agora?
Diferente do que se pensa, o desenvolvimento de uma vacina contra o HIV é um esforço que percorre décadas. A dificuldade de se encontrar uma solução eficaz para o problema vem das peculiaridades que esse vírus possui.
Uma das características específicas é sua capacidade de se esconder do sistema imunológico após a infecção do organismo, diferente da maioria das outras doenças, o que impede a resposta imune necessária para erradicar o vírus.
“Essa vacina consegue estimular uma resposta abrangente para os diversos subtipos do vírus. Por isso, estamos bastante otimistas”, ressalta Jorge Pinto Andrade.
O imunologista explica que a pesquisa envolve o estudo de duas vacinas: uma delas é produzida a partir de um vetor viral que expressa as proteínas do vírus e a outra, considerada como um reforço da primeira, é produzida apenas com as próprias proteínas.
Dividido em quatro doses, o imunizante é aplicado em duas etapas com intervalo de três meses, sendo que duas primeiras doses são compostas apenas pelo vetor viral e as duas últimas com as proteínas do HIV. O projeto segue a mesma tecnologia já utilizada pela farmacêutica Janssenn na produção da vacina contra o novo coronavírus. Para o professor, o método se mostrou uma estratégia vacinal mais seguro.
“É uma plataforma de vacina que já testou esse conceito de vetor viral contra o ebola, por exemplo, e vários outros patógenos. Entre eles, no momento, o HIV”, aponta.
HIV é uma doença que já acomete, aproximadamente, 40 milhões de pessoas no mundo atualmente. De acordo com o boletim de 2020, do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids), são registradas anualmente cerca de duas milhões de novas infecções pelo vírus.
Testes
O público alvo para essa nova etapa são homens cisgênero ou pessoas trans que fazem sexo com homens cisgênero e/ou pessoas trans, além de ter entre 18 e 60 anos de idade. Após o primeiro contato com a equipe responsável, o voluntário passa a ser acompanhado por 24 meses e recebem instruções sobre as medidas de prevenção já conhecidas e que precisam permanecer, como o uso de preservativos e redução do número de parceiros sexuais.
Aqueles que cumprirem os requisitos exigidos e vivem em Belo Horizonte, podem entrar em contato pelo telefone 31 99331-3658 ou pelo email mosaico.minasgerais@gmail.com. Outros links do estudo podem ser acessados em www.mosaicostudy.com.
Caso os voluntários participem dos testes para o novo imunizante anti HIV e estejam dentro do grupo de vacinação contra a covid-19, recomenda-se que seja respeitado um intervalo de quatro semanas entre a aplicação de uma vacina e outra. Esse espaçamento é um protocolo de segurança que evita possíveis interações prejudiciais ao efeito de uma das doses.
Saúde com Ciência
O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.
*Maria Beatriz Aquino – estagiária de Jornalismo
edição: Karla Scarmigliat