Solidão pode trazer prejuízos ao organismo, mas tem aspecto positivo
Quando associada ao sentimento de desesperança, solidão pode comprometer sistema imunológico. Por outro lado, pode beneficiar criatividade e produtividade
26 de janeiro de 2017
Quando associada ao sentimento de desesperança, solidão pode comprometer sistema imunológico. Por outro lado, pode beneficiar criatividade e produtividade
Luís Gustavo Fonseca*
A ideia de solidão parte de uma percepção individual, por exemplo, a pessoa pode estar num ambiente lotado e ainda assim se sentir solitária. Da mesma forma, ela pode estar só e se sentir satisfeita. São nos casos em que a solidão está associada a um sentimento de desesperança que pode haver prejuízos ao organismo do indivíduo. As repercussões disso podem ser conferidas no programa de segunda-feira da série “Solidão”, produzida pelo Saúde com Ciência.
A professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Tatiana Mourão, fala sobre como o sentimento de desesperança age na mente e no corpo, destacando a relação entre o sentimento e a desequilíbrio do sistema imunológico:
A solidão também está relacionada à depressão, ou seja, ambas podem estar ligadas ao sentimento de desesperança citado por Tatiana. Com o possível isolamento social da pessoa, a tendência é que se instale um círculo vicioso. A psiquiatra acrescenta que o indivíduo pode manter o comportamento de alguém que se isola socialmente, mesmo com o fim do tratamento medicamentoso da depressão:
Isso significa que sempre que a pessoa estiver sozinha será algo ruim? Não necessariamente. Tatiana Mourão cita como exemplo pessoas que precisam de momentos solitários para manifestarem sua criatividade:
Grupo de risco
Os idosos representam a população mais propensa ao sofrimento com a solidão no futuro. Além de os filhos saírem de casa para o início de uma nova etapa na vida, eles ainda estão suscetíveis à perda da saúde e mobilidade e, portanto, da autoestima. O programa de quinta do Saúde com Ciência dedicado à solidão é focado no idoso. Para Tatiana Mourão, caso o indivíduo mais velho apresente alguma limitação, as pessoas próximas devem contribuir para que ele não seja isolado da sociedade em geral:
A instituição do idoso em asilos é outro tópico abordado pela especialista. Segundo ela, muitos fatores influenciam nesta escolha: a impossibilidade de ter alguém para cuidar ou acompanhar o idoso durante o dia; os custos de mantê-lo em casa, dependendo de como sua saúde se encontra; o fato de hoje as famílias serem menores e, portanto, haver menos filhos que possam cuidar dos pais; e mesmo a questão da afetividade entre os familiares. Tatiana considera que, caso haja a institucionalização, a família deve se esforçar para passar um tempo com o idoso:
Na visão da psiquiatra, no Brasil já existe um respeito pelo idoso – um exemplo é a prioridade nas filas de bancos e supermercados. Ela conclui que essa consideração poderia ser mais sólida e eficaz caso as crianças menores fossem influenciadas e até ensinadas a cultivarem este apreço:
Em 50 anos, o percentual de idosos mais que dobrou no país. De acordo com o Censo 2010 do IBGE, quase 11% da população tinham 60 anos ou mais – em 1960, os idosos representavam menos de 5% do total. Essa tendência de envelhecimento da população brasileira nas próximas décadas é, segundo especialistas, praticamente irreversível.
ASPAS SONORAS
As “Aspas Sonoras”, nova produção do Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG, ampliam a discussão sobre os temas abordados nas séries realizadas pelo programa de rádio Saúde com Ciência. As matérias apresentam áudios e textos inéditos daquilo que foi apurado durante as produções.
A série Solidão foi reapresentada entre os dias 2 e 6 deste mês. Nela, foram abordadas as questões emocionais e físicas que podem ser desencadeadas pela solidão e depressão. O programa também destaca os principais grupos de risco e as formas de superação, que incluem ainda atividades físicas, companhia de animais, pensamentos positivos e iniciativas coletivas de apoio.
*Editado por Lucas Rodrigues