Taxa de desligamento por morte de trabalhadores formais teve aumento expressivo na pandemia de covid-19 em MG
A chance de desligamento por morte foi elevada entre médicos, cuidadores, técnicos de saúde e trabalhadores de saúde do território
05 de outubro de 2023 - coronavírus, Covid-19, Pesquisa, Saúde do Trabalhador, trabalhador, TRABALHADORES SAÚDE, UFMG
No ano de 2021, o Novo Caged, o Sistema de Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, registrou um aumento de 107,7% no número de desligamentos por morte de trabalhadores nos setores da saúde em relação a 2019, ano anterior à pandemia de covid-19. Segundo estudo “Mortes de trabalhadores durante a crise sanitária Covid-19. Minas Gerais, 2019 – 2021” desenvolvido no Programa de Pós-graduação (PPG) em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG, durante o mestrado da pesquisadora e fisioterapeuta Débora Meier, é provável que o aumento da taxa de desligamento por morte esteja ligado tanto à maior exposição à carga viral quanto à oportunidade restrita de praticar o distanciamento social em outras ocupações da saúde e outras ocupações consideradas essenciais.
A especialista alerta para a necessidade de considerar as desigualdades ocupacionais na elaboração das medidas para controlar as crises sanitárias. “As medidas de flexibilização adotadas em 2021 podem ter acentuado a contaminação com reflexos sobre o número de desligamentos por morte neste ano”, afirma Débora Meier. Quando analisadas todas as ocupações, a pesquisa observa um aumento de 64,7 pontos percentuais no número de desligamentos por morte em Minas Gerais, no período de 2019 a 2021.
Entre os trabalhadores essenciais fora da saúde, o maior número de desligamentos por morte foi registrado entre os operadores de utilidades, como operadores de máquinas a vapor, de instalações de captação e tratamento de água, esgoto e gases, por exemplo. A taxa de desligamento por morte entre profissionais essenciais fora da saúde registrou um aumento de 59,6% em 2021, comparado a 2019.
O estudo examinou a hipótese sobre as diferenças de oportunidade, de acordo com o tipo de ocupação, de se beneficiar do distanciamento social, medida de saúde pública reconhecida e propalada à época. Por meio de regressão logística foram consideradas informações sobre tipo de emprego, tipo de admissão e tipo de desligamento. Modelos estatísticos foram usados para avaliar as chances de desligamento por morte de acordo com três grupos ocupacionais, sendo os seguintes: setor saúde, setor essencial fora da saúde e setor não essencial.
Ambiente de trabalho está associado ao aumento da chance de desligamento por morte
A exposição ao vírus Sars-Cov-2 depende de múltiplos fatores, entre os quais a ocupação é variável relevante, junto à escolaridade, renda, raça/cor, apontam os especialistas. Por sua vez, a exposição a elevada carga viral, como é o caso dos profissionais de saúde que lidam diretamente com os pacientes sintomáticos ou assintomáticos, aumenta o risco de contaminação nesses ambientes.
A disponibilidade de equipamentos, treinamento adequado, isolamento em relação aos familiares quando sintomático e medidas de engenharia, como a construção de áreas específicas para assistência aos pacientes, é fundamental. “Os nossos resultados indicam reforçar medidas de vigilância à saúde ocupacional, conforme já preconizado pelas políticas de saúde do trabalhador. Isso, de forma permanente, durante e depois dos períodos pandêmicos. O registro de informações sobre o emprego e a ocupação está aquém do ideal. Além disso, o acesso restrito à testagem e a ausência da causa da morte no sistema explicam porque tivemos de usar uma informação ‘indireta’, no caso, taxa de desligamento por morte”, afirma a professora Ada Assunção, orientadora da pesquisa.
Segundo a professora do PPG em Saúde Pública, os resultados se somam a outros que mostraram no cenário da pandemia o valor do trabalho e dos trabalhadores em nossa sociedade.