Uso de celular não altera proteínas da glândula parótida


05 de novembro de 2015


Notícia publicada na edição nº 48 do Saúde Informa

A tese foi a primeira análise mundial sobre a associação do uso do aparelho com um grupo de proteínas salivares e não identificou alterações associadas ao desenvolvimento de tumor

Na literatura existem associações do uso do telefone celular e o surgimento de problemas de saúde, incluindo a possibilidade da formação de tumores, mas ainda com controvérsias. Sabe-se que o uso dos aparelhos em chamadas telefônicas leva a um aumento da temperatura da pele próxima à orelha, região em que está localizada a glândula salivar parótida. Considerando que só no Brasil 75,2% da população com dez anos ou mais usam o aparelho, segundo PNAD 2013, caso a suspeita seja confirmada, podemos estar diante de um novo problema de saúde pública mundial.

É o que afirma o cirurgião-dentista Fabrício Tinoco Alvim de Souza que, a fim de esclarecer alguns dos pontos ainda controversos desta associação, desenvolveu sua tese de doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação de Medicina Molecular. Ele foi o primeiro no mundo a analisar o grupo específico de proteínas apresentado.

“Esse foi o primeiro estudo a fazer uma análise molecular de proteínas presentes na saliva, as quais são produzidas pela glândula parótida. Mais especificamente, a análise trata das diferentes proteínas relacionadas ao estresse celular que o uso do aparelho poderia ocasionar”, conta Souza. “As proteínas do estudo foram escolhidas porque estão ligadas diretamente com o processo de diferenciação celular. Seus estados de normalidades dizem que o indivíduo não tem nenhuma alteração, mas quando estão aumentadas ou diminuídas podem indicar alterações metabólicas no organismo”, completou. Desta forma, ele enfatiza a importância da sua pesquisa para a comprovação da possibilidade do aparelho celular levar a distúrbios que futuramente poderiam trazer uma formação de tumores, por exemplo.

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Foto: Carol Morena

A análise

O estudo contou com a participação de 62 jovens saudáveis, em média com 24 anos, que faziam uso frequente do celular e, preferencialmente, de um lado da face, isto para que fosse possível comparar se o respectivo lado apresentava mais alterações do que o outro. Além disso, segundo Fabrício, foram escolhidos jovens que fizessem o uso há mais de dez anos, pois uma das preocupações da literatura é saber se o uso do celular pode trazer algum dano à saúde no estágio de formação dos tecidos do corpo.

O dentista ainda relata que seu estudo analisou o fluxo salivar, a concentração de proteína total e níveis de algumas proteínas específicas. “As p53 e p21 protegem as células contra a formação de tumores; a glutationa (GSH) é uma enzima que protege o organismo contra radicais livres – também fizemos a contagem desses radicais; as proteínas do choque térmico 27 e 70 (HSPs) são induzidas pelo calor, o qual poderia ser inf uenciado pelo celular; e a Imunoglobulina A (IgA) é uma proteína de defesa do organismo”, pontuou.

Resultado e consequências

O estudo não encontrou nenhuma diferença para qualquer um dos parâmetros considerados, mesmo quando se fez o agrupamento de indivíduos por período de uso do telefone celular em anos ou por chamadas médias mensais em minutos. Com isso, concluiu-se que o aparelho não interfere na formação das proteínas analisadas, mas ainda é necessário outros estudos para chegar a uma conclusão final, inclusive em relação à formação do tumor. “Muitas vezes, as pessoas acham que isso pode ser uma quebra de expectativa, mas, na verdade, a literatura está precisando saber se o celular causa ou não causa alterações e problemas de saúde”, argumenta Fabrício.

De acordo com ele, as pesquisas estão iniciais, não só no Brasil como no mundo inteiro, por se tratar de uma tecnologia também recente. No Brasil, por exemplo, o uso da telefonia celular tem cerca de 20 anos.
Título: Efeito do uso de aparelhos de telefone celular sobre glândulas parótidas

Nível: Doutorado

Autor: Fabricio Tinoco Alvim de Souza

Orientador: Ricardo Santiago Gomez

Coorientadora: Carolina Cavaliéri Gomes

Coorientadora: Jeane de Fátima Correia Silva Alves

Programa: Medicina Molecular

Defesa: 18 de dezembro de 2014