Evento debate desafios do Alzheimer e outras demências
Evento reúne pesquisadores da Faculdade e da University of East Anglia
23 de julho de 2019 - Alzheimer, Demência, Evento, Geriatria, Saúde

O rápido envelhecimento da população é uma questão já conhecida. Por isso, debater o assunto do ponto de vista epidemiológico, social e clínico é importante, ainda mais nos países em desenvolvimento como o Brasil. No entanto, segundo o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Paulo Caramelli, há um distanciamento entre a relevância do problema e o que está sendo feito para lidar com a situação, como a qualificação, seja dos profissionais ou das instituições que provêm saúde. Por isso, junto à professora da University of East Anglia (UEA), Eneida Mioshi, ele coordena um evento, entre os dias 25 a 27 de julho, para debater os desafios do comprometimento cognitivo e demências.
O workshop, com nome “Challenges in cognitive impairment and dementia: (mis)perceptions, (mis)diagnosis and care management”, será uma oportunidade de estudantes já selecionados de doutorado ou pós-doutorado, britânicos ou brasileiros de diferentes regiões do país, discutirem seus projetos de pesquisa sobre o assunto, colaborarem com os demais e terem acesso a mentores com aclamação internacional. Caramelli comenta que a programação tem temas diversos como diagnóstico, tratamento, envelhecimento saudável, doença de Alzheimer e outras demências.
Ao todo participarão cerca de dez ingleses e mais de 20 brasileiros com apresentação de 29 trabalhos. O evento é patrocinado com recursos próprios das duas instituições e conta com o envolvimento, por parte da Faculdade, dos professores do Departamento de Clínica Médica, Leonardo Cruz de Souza, Maira Tonidandel, e o coordenador brasileiro, Paulo Caramelli. Já da Universidade de East Anglia, participam os professores Michael Hornberger, Naoko Kishita e a coordenadora Eneida Mioshi.
“Essa é uma atividade inserida na proposta de internacionalização da Universidade e é um caminho importante. É uma oportunidade para essas pessoas conhecerem o que fazemos no Brasil em termos de pesquisa na área”, afirma Paulo Caramelli. De acordo com ele, a ideia é também propor a elaboração de artigos científicos com reflexão e revisão crítica da literatura, a partir das propostas nascidas durante o workshop. Outro ponto é fomentar ainda mais a colaboração entre as duas instituições envolvidas, o que já tem sido feito com o desenvolvimento e orientação de pesquisas da pós-graduação.
Ele ainda explica que o formato de workshop foi escolhido para que os próprios alunos tenham participação ativa, seja com a apresentação dos seus trabalhos ou durante a formação de grupos para debater propostas dentro de cada um dos eixos da programação, como iniciativas para melhorar o conhecimento da população, a atenção aos cuidadores, o diagnóstico, etc. “Isso com a mistura de britânicos e brasileiros na troca de conhecimentos e experiências do que é feito lá e aqui, o que é muito interessante. Aqui no Brasil temos uma grande experiência na heterogeneidade da população, como os diferentes níveis socioeconômicos e de escolaridade. Agora eles também têm se deparado com esse ponto com a imigração”, discorre Caramelli.
Desafios da doença de Alzheimer e outras demências
“Há muito desconhecimento da população em relação às demências. Muitos sintomas são confundidos com os do envelhecimento, o que também contribui para o diagnóstico tardio. E ainda tem o estigma que exclui as pessoas diagnosticadas com Alzheimer, profissionalmente ou socialmente”, conta o professor Paulo Caramelli.
Médico neurologista do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG, ele comenta que o desconhecimento também está no serviço de saúde, com destaque para a ausência de qualificação dos profissionais, como os da Atenção Primária (APS). “Atendemos muitos pacientes aqui – no Ambulatório de Neurologia Cognitiva do HC – que passaram por postos de saúde e não foram diagnosticados em fases iniciais. Assim há um atraso no diagnóstico, muito em função da falta dessa qualificação”, conta.

A questão do diagnóstico precoce é um desafio atual destacado pelo professor. “Quanto mais cedo for diagnosticado maior é a chance da pessoa e a família se beneficiar do tratamento. Também temos o desafio do diagnóstico diferenciado para o Alzheimer de outras doenças possíveis de confusão, que exigem tratamentos e orientações diferentes umas das outras”, reforça. Outra necessidade é estimular o uso de instrumentos de diagnóstico que sejam adaptados para a população brasileira, dentro das especialidades ou para os não especialistas.
“Além disso, há os desafios do tratamento como a polifarmácia, comum a esses pacientes, que podem trazer efeitos negativos. É preciso lembrar que o idoso é mais sensível, então a medicação deve ser administrada corretamente, avaliando a combinação dos medicamentos. E também as comorbidades que podem se apresentar como doenças que agravam o quadro, impedem o desenvolvimento cognitivo do paciente ou interferem no tratamento”, acrescenta.
Ele ainda lembra a importância do tratamento não medicamentoso e a abordagem multidisciplinar, como o que é oferecido no Ambulatório em que trabalha, onde há as áreas de neuropsicologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, além dos neurologistas, geriatras e psiquiatras que compõem a equipe.
Caramelli ressalta que toda essa discussão é muito presente na geriatria e neurologia, por exemplo, mas em outras especialidades, principalmente na APS, porta de entrada do SUS, ainda não acontece com a devida importância.
“Esse é um dos pontos em que o evento se insere, discutindo os desafios de diagnóstico, por exemplo, como o manejo terapêutico desses pacientes, não só medicamentoso, o que é mais conhecido, mas também as abordagens não medicamentosas”, discorre. “Isso inclui toda a orientação para os familiares e cuidadores, já que as doenças que causam demência também são desafiadoras para as famílias. Isso é ainda mais agravante em famílias com nível socioeconômico mais baixo que não tem condições de pagar um cuidador e, então, um membro da família acaba abandonando seu emprego e demais atividades para cuidar da pessoa com demência”, completa.
Confira a programação do evento (clicando aqui) e a página do Grupo de Pesquisa em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, do qual também fazem parte os professores da Faculdade envolvidos no workshop.