Anorexia e bulimia: a importância do tratamento interdisciplinar

Acompanhamento com médico, psicanalista e outros profissionais pode ser necessário para casos de anorexia ou bulimia


13 de agosto de 2018


Nathalia Braz*

Os transtornos alimentares são caracterizados por alterações no comportamento e padrão alimentar do indivíduo. A anorexia pode ser definida pela redução intencional da ingestão alimentar e a bulimia ocorre quando há períodos de alimentação compulsiva e, posteriormente, práticas purgativas como vômitos e uso de laxantes. Nesses casos, recomenda-se um tratamento interdisciplinar, já que os quadros são considerados de saúde mental e necessitam de uma abordagem tanto clínica como psíquica.

Segundo o professor da Faculdade de Medicina e coordenador do Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia (Niab) do Hospital das Clínicas da UFMG, Henrique Torres, ambas as doenças são classificadas como psiquiátricas. Elas constam no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria e no Código Internacional de Doenças (CID). Uma das abordagens indicadas para o tratamento das doenças é psicanalítica, quando, por meio de sessões, o paciente conversa com o especialista sobre as questões que o incomoda.

Torres acrescenta que, na literatura da bulimia, é mais clara a existência de medicamentos para melhora dos sintomas, diminuindo a ansiedade e os períodos de compulsão alimentar. A bulimia e, principalmente, a anorexia podem estar relacionadas a comorbidades psiquiátricas, como depressão e transtorno bipolar. O professor reforça a importância de escutar o paciente: “É um tratamento psicanalítico, então são encontradas diversas questões: como foi o desencadeamento da doença; em que momento ela surgiu; qual é o papel que aquela doença ou condição passa a desenvolver na pessoa; quando o paciente passa a se relacionar com o meio e com os outros através das doenças”.

A maioria dos pacientes é do sexo feminino, mas existe uma parcela masculina diagnosticada com as doenças. De acordo com Henrique Torres, relata-se um homem a cada dez mulheres com anorexia e cerca de um a cada quinze na bulimia. “No caso específico da anorexia, a literatura internacional fala que tem uma cura de 50%, cerca de 20% permanecem com sintomas residuais, que afetam pouco a vida do indivíduo. 15 a 20% permanecem com sintomas graves e existe uma taxa de mortalidade em torno de 10%, em 10 anos”, completa.

Foto: pixabay.com

Imagem corporal

A abordagem clínica também é necessária em casos de anorexia e bulimia, já que é preciso fazer uma revisão laboratorial para avaliar o grau de comprometimento que as práticas purgativas provocaram. O acompanhamento nutricional, por exemplo, tem como objetivo não necessariamente ensinar como comer e, sim, buscar possibilidades de substituir as práticas de bulimia.

A psiquiatra infantil e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade, Ana Maria Lopes, pontua ainda que a escuta do paciente é importante para esse eixo que a psicanálise pode oferecer, que é quando ele pode reconstruir em que ponto da história surgiu uma insatisfação da própria imagem. Esta é, muitas vezes, a razão que leva as pessoas a esses transtornos. “Por isso, é um transtorno que tem início habitualmente na adolescência, adulto-jovem, que é o momento em que a questão da imagem corporal se coloca mais evidente, devido à mudança do corpo de criança para o adulto, junto com os caracteres sexuais”, afirma Ana Maria.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Redação: Nathalia Braz – estagiária de Jornalismo

Edição: Lucas Rodrigues