Aumento de doenças transmitidas pelo Aedes é alerta de simpósio

Maior facilidade na difusão de informações pode ajudar a identificar e tratar doenças, mas diagnósticos, principalmente do zika vírus, ainda buscam melhores resultados


26 de fevereiro de 2016


Maior facilidade na difusão de informações pode ajudar a identificar e tratar doenças, mas diagnósticos, principalmente do zika vírus, ainda buscam melhores resultados

O panorama histórico e as principais características do zika vírus abriram as palestras do simpósio “Aedes e as Epidemias Atuais: Realidade, Possibilidades e Ações”. Dentre os assuntos discutidos, destaque para o intenso fluxo internacional de pessoas, que contribui para a disseminação de doenças, além de um novo cenário dos quadros epidemiológicos na chamada era da informação.

Para ilustrar essa comunicação, a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Marise Fonseca, lembrou da situação alarmante dos primeiros diagnósticos de zika no Nordeste, que teve a informação difundida rapidamente no meio virtual. “Chama a atenção alguns fatos, como a ocorrência de uma epidemia no período onde a gente tem a tecnologia de informação. A gente vê as posições de colegas do Nordeste por grupos de WhatsApp, comentando o alto número de doenças exantemáticas parecido com a dengue, com febre chikungunya, porém com resultado negativo”. Segundo Marise, isso dá agilidade para perceber o que está acontecendo de diferente e identificar doenças úteis.

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Marise Fonseca comentou a repercussão dos primeiros casos de zika no Nordeste do país. Foto: Carol Morena

A professora ainda ressaltou o pouco conhecimento disponível sobre o zika vírus, que impossibilita definir acertadamente as associações do vírus com outras complicações, como a microcefalia e a Síndrome de Guillain-Barré. Juntamente com os novos casos de zika, as doenças tiveram seu número de incidências amplamente aumentado.

Na palestra seguinte, a representante da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Andrea Luchesi, falou sobre as manifestações clínicas e exames laboratoriais das doenças transmitidas pelo Aedes Aegypti. Ela citou as dificuldades no diagnóstico do zika vírus e o equívoco na avaliação da doença em suas primeiras manifestações: “Há pouco tempo, falava-se que o zika era uma doença benigna, o dengue benigno. Era o dengue que não matava, que não tinha complicações. O que aconteceu pra gente é que a coisa mudou”, afirmou.

Por outro lado, um quadro comparativo com os sintomas relacionados à dengue, chikungunya e zika vírus, doenças transmitidas pelo mesmo vetor, revelou diversas semelhanças, o que significa que somente os sintomas são inconclusivos para o diagnóstico. De acordo com Andrea, ainda há uma carência nos procedimentos para detecção do zika, já que os exames precisam ser realizados durante a fase virêmica da doença, que dura cerca de sete dias. Para mostrar o objetivo de se obter a confirmação adequada da possível infecção e o vírus responsável, a palestrante apresentou os fluxogramas de diagnóstico propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras instituições especializadas.

Dados atualizados

Inaugurando a palestra “Microcefalia: Diagnósticos, Critérios”, a médica do Hospital Odilon Behrens, Marli Marra, definiu: “A microcefalia é um desequilíbrio no período da proliferação dos neurônios ou um aumento da morte celular. Isso pode levar a uma alteração do crescimento do encéfalo”.

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Palestras sobre o Aedes aconteceram nessa sexta, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da UFMG. Foto: Carol Morena

As novas recomendações para classificação da microcefalia, publicadas no último dia 25 pela OMS, foram apresentadas. “Segundo a OMS, a microcefalia é diagnosticada em todos os recém-nascidos com circunferência do crânio menor que ‘dois desvios padrões abaixo da média’. A OMS não especifica valores absolutos, mas podemos traduzir como crianças com circunferência do crânio menor que 33 centímetros. Já a microcefalia severa é diagnosticada com um perímetro craniano de 32 centímetros”, esclareceu a médica. Marli também alertou que, por enquanto, o fato da criança nascer com um perímetro craniano normal não exclui a possibilidade de o feto ter sofrido uma encefalopatia intraútero pelo zika vírus.

Já o representante da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Rodrigo Said, ministrou a palestra “Situação Epidemiológica e Medidas de Prevenção”, onde apresentou os dados do último boletim sobre a dengue do Ministério da Saúde, publicado em janeiro deste ano. “Quando nos deparamos com as ultimas informações divulgadas em 2016, todas as regiões apresentam um aumento de casos comparado com o mesmo período do ano passado. E o ano de 2015 representou a maior epidemia de dengue em cenário nacional”, afirmou.

Em 2016, segundo Said, houve um aumento de 54% dos casos de dengue em Minas Gerais comparado com o mesmo período de 2013, quando ocorreu a grande epidemia de dengue do estado. Até o último dia 16, foram notificados 62.271 casos prováveis de dengue, sendo oito óbitos confirmados e 31 ainda sob investigação. Já a febre chikungunya teve 11 casos confirmados em 2015, mas todas as infecções aconteceram em viagens. Por sua vez, o zika vírus apresentou dois casos confirmados em Belo Horizonte e 303 estão sendo investigados no estado. Em relação à microcefalia, foram notificados 130 casos, com 15 confirmados e 111 sob investigação.

Por fim, o profissional da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Argus Leão, deu mais detalhes sobre os casos das doenças associadas ao mosquito Aedes Aegypti na capital. O zika vírus teve 177 casos notificados em 2016, sendo 78 em gestantes, além de 170 pendentes. No caso da microcefalia, foram notificados vinte casos – destes, nove são residentes de Belo Horizonte (três já foram descartados) e 11 de outros municípios do estado. Já a febre chikungunya não teve nenhum caso confirmado na capital em 2016. Os casos de dengue acompanham os dados de Minas Gerais.

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