Simpósio discute ocorrências do zika em gestantes, recém-nascidos e adultos


26 de fevereiro de 2016


Durante a mesa-redonda do WebSimpósio Zika Vírus: Panorama atual, ocorrido nesta sexta-feira, 26 de fevereiro, na Faculdade de Medicina da UFMG, profissionais  discutiram as manifestações relacionadas às infecções transmitidas pelo Aedes aegypti. De acordo com a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Instituição, Regina Amélia Aguiar, o mais importante em relação às mulheres grávidas é trabalhar a prevenção do contágio.

Foto: Karen Costa

Foto: Karen Costa

Regina afirmou que o curso da zika não se altera na gravidez, pois normalmente não apresenta sintomas graves. “Não existe, ainda, nenhum teste que possa ser feito em pessoas assintomáticas, então a triagem não pode ser aplicada durante a gravidez”, conta. No entanto, devido a possível relação da doença com as manifestações de transtornos neurológicos no feto, é preciso que as gestantes estejam atentas principalmente a proteção pessoal contra o vetor. Sobre o uso dos repelentes, ela diz que não há contraindicações, mas sua eficácia está sujeita as condições climáticas do ambiente, por exemplo.

Regina destacou a importância de um acompanhamento psicossocial das gestantes infectadas pelo vírus. “Essas mulheres estão vivendo um verdadeiro pânico com a série de informações divulgadas pela mídia, às vezes de forma equivocada, e é preciso que elas sejam acompanhadas”, concluiu.

Acompanhamento é essencial para diagnóstico e reabilitação de bebês com microcefalia

A neonatalogista e coordenadora do Ambulatório de Seguimento do Recém-nascido de Risco da Unidade de Referência Secundária Saudade, Andrea Chaimowicz, explicou que o cuidado a aos bebês com microcefalia deve ser feito por uma equipe multiprofissional, iniciada com a busca pelas possíveis causas da má formação. Entre essas, podem estar antecedentes maternos, possíveis contatos com substâncias tóxicas e medicamentos utilizados durante a gestação.

Andrea também conta que, de acordo com a organização Mundial de Saúde (OMS), são classificados dentro do quadro de microcefalia recém-nascidos com perímetro cefálico menor ou igual a 32 centímetros, mas considerando o peso e a altura da criança. Nos casos de dúvida sobre o diagnóstico, é preciso haver um acompanhamento mensal do desenvolvimento do bebê. Como a microcefalia está relacionada a problemas como o comprometimento da visão, audição e fala, esse acompanhamento também é indispensável para o encaminhamento da reabilitação. “A reabilitação é um conjunto de medidas que ajudam pessoas com deficiência ou prestes a adquirir deficiências a terem e manterem uma funcionalidade ideal em relação ao seu ambiente. Por isso é preciso construir redes de atenção e capacitar as equipes a lidarem com essas crianças”, pontua.

De acordo com Andrea, apesar da identificação do zika no leite materno poder auxiliar no diagnóstico da doença, não há relatos de transmissão pelo aleitamento. Além disso, durante o debate, esclareceu que ainda não é possível estabelecer um período de segurança para que mulheres infectadas por zika possam engravidar sem preocupações, já que não se sabe esclarecer efetivamente a ação do vírus e a produção de anticorpos para ele.

Zika está relacionada com manifestações neurológicas graves em adultos

Foto: Karen Costa

Foto: Karen Costa

O neurologista do Hospital das Clínicas da UFMG, Paulo Christo, por sua vez, abordou as manifestações neurológicas em adultos relacionadas ao vírus da zika. Segundo ele, o primeiro alerta dessa relação veio do aumento da ocorrência da síndrome de Guillain Barré em regiões com surtos da doença. A síndrome provoca inflamação dos nervos, levando a paralisia muscular.

Mas, o contágio pelo zika também pode ser relacionado a outras enfermidades, como a encefalite e a cefaleia, interferindo nos níveis de consciência e associado a distúrbios comportamentais. “Uma infecção viral, assim como a zika e a dengue, podem acometer simultaneamente múltiplas regiões do sistema nervoso, como o encéfalo e a medula. Por isso, primeiro é preciso identificar o tipo de manifestação para, então, investigar se ela pode estar relacionada a algum vírus”, conta. Ele afirma que existem quatro famílias de arbovírus, entre as 14 existentes, que podem provocar comprometimento do sistema nervoso. “É importante preparar as equipes não só para o combate ao zika, mas também a esses outros tipos. O vírus da dengue, por exemplo, pode comprometer cerca de 20% dos pacientes contaminados”, alerta.

Uso do telessaúde auxilia na assistência das epidemiologias atuais

Maria do Carmo Barros de Melo, coordenadora do evento e do Centro de Tecnologia em Saúde (Cetes) da Faculdade, discorreu sobre as possibilidades da telessaúde em assessorar o diagnóstico e tratamento das doenças, inclusive na preocupação atual com as gestantes com suspeita ou confirmação de zika. Isso porque, o uso da telessaúde possibilita a interação entre os profissionais de saúde ou entre estes e seus pacientes, bem como o acesso remoto a recursos de apoio diagnósticos e terapêuticos através da robótica.

“A telessaúde é uma ferramenta que pode ajudar a solucionar a importante problemática relacionada ao Aedes. É importante que os profissionais de saúde saibam que não precisam diagnosticar e encaminhar a pessoa de modo individual. Eles podem contar com o grupo de especialistas selecionados para auxiliá-los na assistência”, afirma.
Entre os objetivos do programa nacional de Telessaúde estão o de qualificar a prática da assistência da Atenção Primaria a Saúde (APS), ajudar nas tomadas de decisões clínicas e gerenciais, aumentar a resolubilidade e melhorar a saúde da população. Segundo a coordenadora, ele permite auxiliar aos profissionais do interior a darem a mesma assistência aos usuários do SUS que aqueles presentes na capital ou em regiões referências.

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