Causas das doenças e combate ao vetor fecham encontro sobre o Aedes


29 de fevereiro de 2016


Na última mesa do Simpósio, professores discutiram o panorama atual das doenças transmitidas por mosquitos

Foto: Karen Santos

Foto: Karen Santos

Fechando o simpósio “Aedes e as Epidemias Atuais: Realidade, Possibilidades e Ações”, no dia 26 de fevereiro, na Faculdade de Medicina da UFMG, os arbovírus foram o tema tratado pelo professor do Departamento de Clínica Médica da Instituição, Unaí Tupinambás.

Ele explicou que os arbovírus têm como hospedeiros aves e mamíferos, e causam doenças como encefalites, fenômenos hemorrágicos e artrites. As arboviroses são infecções em que os vírus causadores são transmitidos exclusivamente por artrópodes como os mosquitos. “O Brasil é um território fértil para esse tipo de transmissão. O país tem clima favorável, vetores disponíveis, hospedeiros e vasta extensão territorial”, apontou o professor Unaí Tupinambás.

Segundo o professor, os arbovírus têm grande capacidade de adaptação de hospedeiro e vetores, e sofrem mutação para uma transmissão e infecção ainda mais fácil. “O vírus da Chikungunya, por exemplo, já sofreu mutações para se adaptar, e a doença pode ser transmitida tanto pelo Aedes aegypti, quanto pelo mosquito Anopheles, comum nos países tropicais”, contou.

Para o professor Enio Pietra, também da Clínica Médica, nem só o vírus ou o mosquito transmissor tem participação no processo de adoecimento das populações. Ele ressalta que os seres humanos também são agentes causais dos problemas. “Tudo tem a ver como tratamos a nós mesmos e ao planeta. Como comemos, bebemos, nos exercitamos ou sentimos”, afirmou. Dentre os fatores enumerados há o colapso nas medidas de saúde pública; a demografia e comportamento humano, incluindo guerras, populacional e comportamento sexual; e mudanças ecológicas e tecnologia, incluindo a mudança de produção e processamento de alimentos.

Não há doença mais importante

De acordo com Pietra, as doenças emergentes que estão surgindo, como a Herpes 8, têm impactos de aspetos biológicos a repercussões sociais. Já as reemergentes haviam sido controladas e voltam a acontecer, como no caso da Cólera e da Leishmaniose.

“As doenças negligenciadas são endêmicas, ou seja, estão restritas a um território geográfico. Elas acometem populações que não tem voz, de baixa renda, e os infectados sofrem com o pouco investimento em pesquisa e cura”, disse o professor. Segundo Pietra, essas doenças, que incluem a dengue, chagas e ebola, infectam um bilhão de pessoas e matam entre 500 mil a um milhão no mundo anualmente.

Apesar das endemias e epidemias, porém, o professor destacou que todas as doenças merecem a atenção da população e poder público. “Doenças como Malária, Tuberculose, e até mesmo vírus Sabiá, da febre hemorrágica brasileira. Todos os vírus buscam uma oportunidade para se instalar e causar problemas”, comentou.

Produto químico mata larvas do mosquito

Professor Jadson Belchior demonstra atoxicidade do produto. Foto Karen Santos.

Professor Jadson Belchior demonstra atoxicidade do produto. Foto Karen Santos.

O professor Jadson Belchior, do Departamento de Química da UFMG, apresentou um dispositivo químico para combater ao Aedes aegypti, desenvolvido por ele, junto ao professor Luiz Carlos Oliveira, em parceria com três alunos de graduação e pós-graduação do Departamento. O projeto, denominado Cerâmica Fotoquímica, teve início em 2013, quando decidiram investigar as larvas do mosquito. “Era preciso desenvolver um conhecimento que fosse propício a atacar algo e não permitisse nascer o mosquito”, explica o professor.

A equipe resolveu testar um tijolo poroso e de baixa densidade que flutua na água,  capaz de atacar as larvas que precisam ir à superfície para sobreviver. O tijolo passa por tratamentos químico e térmico que criam uma substância tóxica à larva, mas totalmente atóxica para saúde humana. Em contato com radiação e com a água, o tijolo libera a substância, que “queima” a membrana celular da larva quando ela emerge. Mesmo que não morra pela queimadura, a larva fica impedida de chegar à superfície, matando-a por falta de alimentação.

De acordo com o professor Belchior, o baixo custo e alta durabilidade do produto são suas principais vantagens. “”Ele não apresenta risco algum para saúde humana, uma vez que, no momento em que perde contato com a luz, a água em que o tijolo ou tecido foi depositado está pronta para consumo”, defende.

O professor ainda apresentou as perspectivas futuras, que consistem em ampliar a pesquisa, buscando uma forma de eliminar também a pulpa do mosquito. Ao término, Belchior enfatizou a necessidade de todos atuarem no combate ao mosquito. “Todos nós podemos contribuir. Todos tem que estar no combate. Não adianta usar a Cerâmica Fotoquímica e os outros recursos se nós não formos capazes de contribuir”, finalizou.

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