Aumento dos casos de câncer envolve principalmente fatores externos

Na semana do Dia Nacional de Combate ao Câncer, Saúde com Ciência discute os fatores associados à incidência da doença e os tratamentos atuais, entre outros assuntos


20 de novembro de 2015


Na semana do Dia Nacional de Combate ao Câncer, Saúde com Ciência discute os fatores associados à incidência da doença e os tratamentos atuais, entre outros assuntos

ImpressãoA Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, nas próximas duas décadas, haverá um aumento de quase 60% para novos casos de câncer. Hoje, mais de um terço dos óbitos pela doença é resultado de cinco hábitos comportamentais e alimentares: alto índice de massa corporal, baixo consumo de frutas e verduras, falta de atividades físicas, tabagismo e ingestão de bebidas alcoólicas. Se a ideia é prevenir o câncer e outras doenças, é hora de adotar hábitos mais saudáveis.

“A gente vê que a introdução de produtos industrializados, cada vez mais precocemente, tem acarretado muitas mudanças nas doenças, inclusive com a incidência de câncer aumentando”, afirma a médica hematologista e professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Camila Cancela. “Então, a orientação que a gente passa nas consultas é de ter uma alimentação mais equilibrada, evitando essas coisas artificiais que têm sido, às vezes, a base da alimentação nesse nosso dia-a-dia de ‘correria’”.

Já se sabe, por exemplo, que as carnes industrializadas e enlatadas, assim como outros alimentos processados e artificialmente conservados, são cancerígenos. “Nas últimas semanas, muito se falou sobre isso. Mas nós já sabemos disso há muito tempo, que bacon, carne de sol, queijo curado, defumado, levam ao aumento da nitrosamina no organismo. E a nitrosamina é um agente cancerígeno”, explica o oncologista e professor da Faculdade de Medicina, André Murad.

Segundo Murad, 15% dos cânceres são genéticos, o que traz a possibilidade de um trabalho preventivo baseado na pré-disposição do indivíduo a desenvolver determinado tipo de câncer, a partir de mutações nos genes. Além disso, mais de 70% acontecem devido a fatores ambientais, que incluem agentes químicos, físicos e biológicos. “Entre os químicos, além da má alimentação, nós temos o tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e a obesidade, que a gente sabe hoje que provoca vários tipos de câncer. Físicos, por exemplo, a luz solar, principalmente entre às 10h30 e 15h, devido aos raios ultravioletas A e B”, cita o oncologista. Já entre os fatores biológicos, os vírus das hepatites B e C, HPV, associado ao câncer de colo do útero e HIV/Aids, também são potencialmente cancerígenos.

André Murad recomenda, portanto, uma dieta rica em legumes, verduras, frutas e grãos, e pobre em alimentos industrializados, enlatados, embutidos e processados. “Junto com isso, a gente preconiza o exercício físico periódico, pois as pessoas que praticam exercícios têm menos câncer. É fundamental se manter dentro do peso, combatendo a obesidade, além de não fumar e beber com extrema moderação”, completa.

Maus hábitos alimentares desde a infância têm trazido mudanças na incidência de doenças. Foto: Getty Images

Maus hábitos alimentares desde a infância têm trazido mudanças na incidência de doenças. Foto: Getty Images

Tratamentos atuais

Além das cirurgias específicas para cada tumor, o professor André Murad comenta cinco tratamentos no combate ao câncer: quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, terapia alvo-molecular e imunoterapia de última geração. A seguir, um resumo de cada um deles:

Quimioterapia: Tratamento sistêmico amplamente utilizado contra o câncer, consiste na aplicação de medicamentos que prejudicam ou impedem a divisão celular, retardando o crescimento do tumor. Pode ser um tratamento complementar ou exclusivo, existindo tumores muito sensíveis à quimioterapia, como leucemia e câncer de testículo. Em geral, é o principal instrumento para tratar a doença na faixa etária pediátrica.

Radioterapia: Tratamento mais localizado ou loco regionalizado, também pode ser usado de forma exclusiva ou complementar. Na radioterapia são utilizadas radiações para destruir as células do tumor ou impedir que elas aumentem em um local específico. 60% das pessoas com câncer fazem a radioterapia em algum momento do tratamento.

Hormonioterapia: Geralmente utilizada em combinação com cirurgia, quimio ou radioterapia, tem ação sistêmica e busca inibir o crescimento do tumor pela retirada do hormônio da circulação (privação) ou pela introdução de uma substância com efeito contrário ao hormônio. Muito recorrente contra cânceres de mama, próstata e endométrio.

Terapia alvo-molecular: Tratamento mais recente que tem sido integrado à quimioterapia, são drogas que agem em proteínas produzidas devido a mutações do DNA das células tumorais. A vantagem desta terapia é que, normalmente, ela ataca somente a célula tumoral, preservando os tecidos normais. “A gente entende que, futuramente, a quimioterapia será substituída, cada vez mais, pela terapia alvo-molecular”, diz André Murad.

Imunoterapia de última geração: “Se eu tivesse que escolher alguma coisa mais interessante dos últimos vinte anos na oncologia, eu escolheria o desenvolvimento dessas drogas”, afirma Murad. Também conhecidas como drogas inibidoras dos pontos de checagem, estudos já indicaram sua eficácia contra tumores de pele, rim e pulmão, entre outros. Elas “religam” a checagem do sistema imunológico desligada pelas células cancerígenas, fazendo com que o organismo volte a entender que aquelas células são malignas e o exército de linfócitos do sistema imunológico volte a combatê-las.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência apresenta a série “Estou com Câncer. E agora?” entre os dias 23 e 27 de novembro. De segunda a sexta-feira às 5h, 8h e 18h, ouça na rádio UFMG Educativa, 104,5 FM. O programa, produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG, tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde.

Ele também é veiculado em outras 174 emissoras de rádio, que estão inseridas nas macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.