Calculadora pode auxiliar no tratamento de febre amarela

Modelo matemático desenvolvido na UFMG pode ser a principal ferramenta para decisão de tratamento adequado para doença.


11 de setembro de 2023 - , , ,


Vitor Pepino *

Calculadora em desenvolvimento na Faculdade de Medicina da UFMG consegue estimar qual a probabilidade de óbito para pacientes com febre amarela. Tecnologia é essencial para definir tratamentos mais adequados, aponta tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Cirurgia e Oftalmologia. 

Esses cálculos auxiliam o médico na tomada de decisão sobre quais pacientes necessitam de tratamentos mais ou menos invasivos, como o transplante. “Surgiu a necessidade de algo que determinasse a tomada de decisão, se for necessário o transplante de fígado, qual o paciente e quando será feito”, explica a pesquisadora e autora do estudo, Carolina Lins.

Por meio dos escores de risco, a calculadora utiliza um modelo matemático com as informações laboratoriais do paciente: “É necessário a idade, valor da creatinina, transaminase, oxalacética, bilirrubina direta e o lactato, exames fáceis de serem feitos, até mesmo em laboratório com pouco recursos”, defende a pesquisadora.

A partir desse resultado, a calculadora gera uma porcentagem com a probabilidade de óbito, alertando o médico responsável sobre o prognóstico. De acordo com Carolina, “transplantar um fígado não pode ser um tratamento para doença, mas sim uma medida salvadora em último caso”.

No Brasil, aproximadamente 25 casos precisaram do transplante desde 2018 (quando foi realizado o primeiro para essa doença), com sobrevida muito baixa. Possivelmente, esses pacientes não estavam no melhor momento para tal procedimento. Dessa forma, com a calculadora e analisando os exames desses pacientes retrospectivamente, percebeu-se que a porcentagem dada já indicava o momento fragilizado do paciente na hora do transplante.

O trabalho foi feito por análise dos prontuários de 273 pacientes do Hospital Eduardo de Menezes em 2017, buscando entender quais eram os fatores compartilhados pelos doentes que evoluíram mal. Os resultados da pesquisa serão publicados nas próximas semanas e fazem parte do doutorado de Carolina Lins, orientado pela professora Wanessa Trindade Clemente.

O modelo matemático será testado em outras regiões para sua validação, uma vez que os dados utilizados são de casos exclusivamente de Minas Gerais.

Febre amarela

A febre amarela é uma doença viral aguda, transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti, atingindo principalmente o fígado e causando uma insuficiência hepática. O vírus circula no ambiente silvestre e, por esse motivo, Belo Horizonte não teve nenhum caso na área urbana no último surto registrado, em 2017. 

Carolina Lins / Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina.

Nesse período, foram identificados 1.147 casos em Minas Gerais, com 446 confirmados para doença e 209 óbitos de dezembro de 2016 a junho de 2017, momento mais quente do ano, favorecendo a propagação da febre. “A cobertura vacinal era muito baixa na época, e essa é a única forma de prevenir a doença, que a princípio não tem tratamento”, aponta a pesquisadora.

Atualmente, a vacina é produzida no Brasil, indicada em todo território brasileiro para aqueles com mais de nove meses, de forma gratuita. Segundo a doutora, em vários casos as pessoas tomavam a vacina tardiamente, isto é, muitas vezes já estavam infectadas quando buscavam a primeira dose. “Ela tem um tempo de 10 dias para se tornar imunizada após a vacinação. Após o surto de 2017 a imunização aumentou e milhares de doses foram aplicadas”, conta.

A pesquisa é o primeiro trabalho sobre febre amarela com uma casuística grande, principalmente por ser uma doença que acontece em países de baixa renda que não conseguem conduzir estudos sobre o tema. “O trabalho cumpre um papel social, que trata de uma doença negligenciada e é uma ferramenta para quem está na linha de frente. Espero que ele ultrapasse as páginas de livro e de publicações e possa salvar a vida das pessoas”, conclui Carolina Lins.

Saúde com Ciência

A febre amarela e a pesquisa de Carolina Lins também são tema do Saúde com Ciência desta semana. No programa, conversamos sobre a doença, vacinação e cobertura vacinal no território brasileiro, os tratamentos alternativos identificados para a febre amarela e os resultados observados pela pesquisadora.

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.


* Vitor Pepino – Estagiário do Centro de Comunicação da Faculdade de Medicina da UFMG
Edição: Vitor Maia