Cerca de 73% das mães sem dificuldade para amamentar tiveram filhos por parto normal ou natural, aponta pesquisa

Entre o grupo das mães que não tiveram dificuldade na amamentação, apenas 25,6% passaram por cesárea.


19 de junho de 2023 - , , , , ,


* Elen Batista

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Pesquisa mostra que mães que tiveram seus filhos através de parto normal ou natural apresentam mais facilidade no processo de amamentação. O estudo foi realizado no Programa de Pós-Graduação de Ciências Fonoaudiológicas da Faculdade de Medicina da UFMG. Os dados mostram que no caso das mães que não relataram dificuldades, 73,6% tiveram parto normal ou natural e apenas 25,6% tiveram seus filhos via cesariana. 

A coleta foi feita a partir de um questionário feito no Ambulatório de Amamentação do Centro de Saúde Vila Maria, em Belo Horizonte. Foram analisados os prontuários de 269 puérperas, de agosto de 2019 a julho de 2022. 

A pesquisa mostrou que 51,1% das mães relataram alguma queixa quanto à amamentação, sendo a dor ao amamentar a mais comum. Além da dor, também foram motivos de reclamação fissuras, feridas e ingurgitamentos das mamas, popularmente conhecido como leite empedrado. 

As participantes foram separadas em dois grupos e os pesquisadores observaram uma associação entre via de parto e dificuldades. No grupo das mães que relataram dificuldades, 35,6% tiveram parto normal e 20,4% parto natural, enquanto 41% tiveram seus filhos por meio de cesáreas. Já no outro grupo, entre as puérperas que não relataram dificuldades, 40,3% tiveram seus filhos através de parto normal, 33,3% de parto natural e 25,6% de parto cesárea. 

“Pelas consequências do próprio ato cirúrgico, a mãe de parto cesárea apresenta mais dificuldades para posicionar o bebê e por isso tem mais impedimentos para, por exemplo, amamentar na primeira hora de vida”, alega a pesquisadora responsável, Carine Vieira. Também foram encontradas relações entre o parto cesárea e descida tardia do leite.

Pesquisadora defendeu mestrado em maio. Foto: acervo pessoal.

O tipo de alimentação também apresentou impactos nas dificuldades no aleitamento. Das mães que não tiveram dificuldades, 94% delas ofereciam alimentação materna exclusiva aos seus bebês, enquanto apenas 5,4% ofereciam uma amamentação mista ou complementada, que contava com outros meios para além do leite materno. 

Outra variante foi percebida entre crianças que mamaram ou não na primeira hora de vida. Entre os bebês que mamaram na primeira hora, 89,1% das mães relataram não ter tido grandes problemas no decorrer da amamentação, enquanto no caso das crianças que não mamaram, esse número caiu para 76,3%. “Essa primeira vez é muito importante para a criação de vínculo entre mãe e bebê, além de promover o adequado desenvolvimento de estruturas da face da criança”, destaca.

A chance de não apresentar dificuldade para amamentar foi 2,1 vezes maior nas crianças que mamaram na primeira hora de vida. “Quando a criança suga, se tem a estimulação da hipófise, que produz oxitocina e prolactina. E esses hormônios ajudam na produção do leite”, explica.

Os benefícios da amamentação são vários, tanto para mãe, quanto para a criança.“O leite materno diminui a probabilidade de desenvolvimento de processos alérgicos e gastrointestinais, além de favorecer o desenvolvimento cognitivo e psicomotor. Para a mãe, reduz a probabilidade da ocorrência do câncer de mama e auxilia a mãe a retornar ao peso anterior à gestação”, afirma Carine. “Além disso, o leite materno é um alimento renovável, produzido sem poluição, embalagens nem desperdícios, e outros leites carregam essa questão dos resíduos”, continua. 

O puerpério pode ser dividido em três fases: imediato (1º ao 10º dia após o parto), tardio (11º ao 45º dia) e remoto (a partir do 45º dia). 

Uma das conclusões do estudo foi que a fase mais difícil para as mães foi o puerpério imediato. As queixas mais comuns foram dor ao amamentar e problemas nas mamas. Já no puerpério tardio observou-se tendência de as mães não apresentarem queixas no aleitamento nem dificuldade para ganhar peso. 

O uso da chupeta e da mamadeira também foram marcadores de dificuldades na amamentação. A pesquisa mostrou que 24% das mães que não ofereceram chupeta para seus filhos relataram não apresentar dificuldades no aleitamento. Já no caso das que utilizaram, esse número vai para 44,4%. 

No caso da mamadeira, o uso também apresentou diferenças. Entre as mães que não utilizaram, 3,9% relataram dificuldades, contra 20% naquelas que usaram a mamadeira como complemento nutricional.

Fonoaudiologia pode ajudar

Carine reitera a importância do acompanhamento no centro de saúde, que muitas vezes não ocorre. “É muito importante a orientação tanto no pré-natal quanto no pós imediato. Não adianta o atendimento só antes do parto, porque é na hora que a criança nasce que vão aparecer as dificuldades. As orientações do pré-natal são muito importantes, porque a mãe já chega mais preparada e segura, mas o pós também é muito importante”, aponta.

Alguns dos problemas podem ser resolvidos através de acompanhamento com profissionais da fonoaudiologia. “O estudo mostra as principais características em cada período e como os profissionais da saúde podem ajudar a direcionar os cuidados. Também ajuda a observar quais as dificuldades que as mães apresentam e, então, trazer orientações e condutas específicas para essas dificuldades”, continua. “As mães conseguem ver que amamentar não é fácil. Há dificuldades, mas mesmo assim é possível prosseguir com o aleitamento”, ressalta.

O aleitamento materno pode parecer difícil, mas não deve ficar apenas na idealização das gestantes. “A amamentação é um tema muito discutido, mas costuma ser romantizado. Se tem a sensação de que vai ser muito fácil, que é só colocar a criança para mamar. É importante que as mães saibam que vai haver dificuldade, mas existem profissionais que conseguem ajudar com isso Se há um desejo, é possível oferecer uma alimentação exclusiva ao seu filho”, finaliza.

Pesquisa: Dificuldades no aleitamento materno durante o puerpério
Programa: Pós Graduação em Ciências Fonoaudiológicas 
Autora: Carine Vieira Bicalho
Orientadora: Andréa Rodrigues Motta 
Data de defesa: 03 de maio de 2023


* Elen Batista
Edição: Vitor Maia