Como um arco-íris: autismo e neurodiversidade

Compreender a forma de organização cognitiva do autista ajuda a desenvolver o potencial dessas crianças


15 de abril de 2019 - ,


Compreender a forma de organização cognitiva existente no autista permite acolher e incentivar potencial de crianças com a doença

*Carol Prado

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma síndrome comportamental que afeta principalmente a capacidade de comunicação e interação social. Não necessariamente é ligado ao intelecto, sendo que apenas 35% dos autistas possuem alguma doença relacionada à capacidade mental. O autismo não tem cura, apesar de existirem várias formas de abrandar casos mais graves da deficiência, como terapias e estímulos à interação. Compreender a neurodiversidade, ou seja, outra forma de organização cognitiva, existente no espectro autista, permite acolher e não desperdiçar o potencial das pessoas acometidas pela doença. O TEA é tema da série do Saúde com Ciência dessa semana.

A professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Ana Maria Lopes, explica a origem do termo. “Autismo vem da psiquiatria clássica: auto erotismo, que seria um erotismo à satisfação voltado para si mesmo. Ao longo do tempo esse termo foi sofrendo alterações”, conta. Na Classificação Internacional de Doenças (CID) de 2014, a deficiência passou a ser denominada como TEA. “Espectro é como se fosse um arco-íris, em que existem várias gradações de acometimento. Então, há tanto crianças com um Transtorno do Espectro Autista leve, moderado, como há crianças com um transtorno grave”, esclarece a professora.

Segundo recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, toda criança deve passar pelo teste de triagem do TEA entre 18 e 24 meses de idade. A avaliação consiste em um conjunto de questões a serem respondidas pelos pais ou responsáveis para avaliar a forma de socialização da criança. No caso do autismo, um diagnóstico precoce é fundamental: quanto antes começarem as intervenções, melhor a resposta. “Se você tem uma criança que, aos 18 meses, está com prejuízo do sorriso social, prejuízo da comunicação, ela ainda não começou a sonorização, o balbucio… você intervindo, vai conseguir que essa criança tenha uma evolução favorável”, destaca Ana Maria Lopes.

O autista na escola

A forma de aprender do autista é diferente de uma criança com desenvolvimento típico. A professora do Departamento de Psicologia da UFMG e uma das coordenadoras do Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo (PRAIA/UFMG), Maria Luiza Nogueira, revela que: “A criança com autismo, como ela tem uma baixa motivação social, ela não tem, em geral, bem estabelecida às capacidades de imitação e atenção compartilhada. Portanto, elas deixam de receber informação porque estão envolvidas nas suas próprias atividades, nos seus interesses restritos”.

A escola é um espaço importante de socialização, mas não apenas isso. “Não é suficiente que ela (a criança com autismo) tenha acesso à escola, mas é preciso também que tenha oportunidades de aprendizado”, argumenta Maria Luiza Nogueira. “É preciso que a equipe de educação também tenha informação de qualidade. Que usem as estratégias e metodologias que já foram desenvolvidas para crianças com autismo que vão falar de uma rotina bem estruturada, de uso de suporte visual, de diminuição do tempo de tela, da redução do excesso de estímulos dentro do contexto escolar… As crianças passam muito tempo na escola e é preciso que esse tempo seja bem aproveitado”, acredita a psicóloga.

PRAIA/UFMG

O Programa de Atenção Interdisciplinar ao Autismo (PRAIA/UFMG) é um projeto de extensão que visa levar conhecimento de qualidade sobre o autismo para pais e profissionais interessados no assunto. O programa é composto por professores de diferentes áreas: medicina, educação, arte e musicoterapia. O PRAIA promove palestras mensais, abertas ao público mediante inscrição e valor simbólico. Para saber mais, envie um email para praia.ufmg@gmail.com ou acompanhe o instagram.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 145 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

*Carol Prado – estagiária de jornalismo

Edição: Maria Dulce Miranda