Pesquisa analisa responsáveis e vítimas de acidentes de ônibus
Condutores masculinos são principais responsáveis e mulheres principais vítimas de acidentes de ônibus na RMBH.
23 de maio de 2017
Pesquisa analisou acidentes de trânsito dos ônibus do sistema de transporte público de passageiros da Região Metropolitana de Belo Horizonte e concluiu que condutores masculinos são principais responsáveis e mulheres principais vítimas de acidentes de ônibus
*Ives Teixeira Souza
Com o objetivo de analisar os acidentes de trânsito do sistema de transporte público coletivo de passageiros da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Promoção de Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Beatriz de Oliveira, examinou os dados referentes aos acidentes de trânsito ocorridos no Sistema de Transporte Metropolitano de Belo Horizonte entre 2012 e 2015, caracterizando os envolvidos, os graus de lesão, os tipos e os locais dos acidentes.
O estudo apontou que enquanto os homens (83%) são os principais envolvidos nos acidentes, principalmente entre 30 e 39 anos, as mulheres são as grandes vítimas, 69% do total de acidentados. Além disso, mais da metade dos acidentes, 67%, ocorreram por colisão ou abalroamento (batidas laterais ou transversais entre os veículos).
Segundo a pesquisadora, os dados apontam que a condição do veículo é fator determinante para as lesões fatais, que acontecem, principalmente, na madrugada. “A análise demonstrou uma associação forte entre os acidentes com lesões graves e fatais e aqueles ocorridos por causa da ação dos veículos, como batidas laterais. Dessa forma, os acidentes sem lesões aparentes estão associados aos fatores relativos ao condutor e à via, como falta de sinalização, buracos e alta velocidade”, relata Beatriz.
A dissertação também evidenciou as vias onde acontecem a maior parte dos acidentes, sendo destaque dois dos principais corredores de ônibus de Belo Horizonte: as avenidas Amazonas e Cristiano Machado. Além disso, estas e a avenida Antônio Carlos apresentaram um maior risco de acidentes com óbito.
Números
Os números da pesquisa indicam que, de 2012 a 2015, houve um total de 13.499 acidentes, com a média de uma vítima em cada 1,7 acidentes, sendo registrados 49 óbitos em 46 acidentes fatais. Os ônibus que fazem parte da rede da BHTrans sofreram 22.301 acidentes. Desses 18,99% apresentaram vítimas.
Quando analisados conjuntamente houve, no período estudado, o aumento da taxa de acidentes de 4,5 a 7,2 a cada 10 mil viagens. A dissertação também indicou um expressivo aumento de cerca de 61,8%, do número de acidentes em que os condutores foram os responsáveis em 2015. Resultado bem acima da média do ano anterior, que foi de aproximadamente 39%. Entre os possíveis motivos, relata Beatriz, está o possível aumento do nível de estresse dos motoristas e o aumento do percurso das linhas.
Metodologia
“A pesquisa se reflete sobre os ônibus com itinerários dentro da área urbana. Para isso, nós comparamos os números do Departamento de Estradas e Rodagens (DEER/MG), que correspondem às linhas de ônibus do Sistema metropolitano, além dos resultados dos ônibus do Sistema Municipal, registrados no sistema da BHTRANS”, esclarece a pesquisadora.
Beatriz explica que os dados utilizados pertencem ao sistema de dados do Registro de Eventos da Defesa Social (REDS), da Secretaria de Estado de Defesa Social, e ao sistema de acidentes de trânsito da BHTRANS (BH10).
Saúde no trânsito e soluções
Maria Beatriz ressalta que uma das motivações para a realização da pesquisa foi a análise dos dados com o objetivo de melhorar o gerenciamento do sistema de saúde. “É preciso um acompanhamento maior das empresas de transporte a respeito dos acidentes. Esses dados são fundamentais para a saúde pública. Por exemplo, quantas pessoas são internadas por causa de acidentes no transporte público? Qual é o gasto disso para o sistema de saúde? Quais são os indicadores de morbimortalidade?”, questiona a gestora de contratos do DEER.
Para Beatriz uma das soluções para a diminuição dos acidentes passa pela educação no trânsito e pelo controle da velocidade nas vias. “O que a gente pode pensar é sobre realmente um controle de velocidade, porque falta educação do motorista, que também não respeita o pedestre. Se o pedestre não é educado, cabe ao motorista ser educado. Dessa forma, a dissertação pode auxiliar a sociedade e os órgãos gestores a terem o conhecimento da realidade do sistema de transporte público metropolitano a fim de proporcionar melhorias”, conclui a pesquisadora.
Maio Amarelo
O Brasil figura entre os dez países responsáveis por 62% das vítimas em acidentes no mundo, sendo o quinto em mortes. O alto índice preocupa a Organização das Nações Unidas (ONU), que promove, até 2020, a Década de Ação para a Segurança no Trânsito. A intenção é colocar em pauta o tema segurança viária e mobilizar toda a sociedade, envolvendo os mais diversos segmentos: órgãos de governos, empresas, entidades de classe, associações, federações e sociedade civil organizada para discutir o tema, engajar-se em ações e propagar o conhecimento, abordando toda a amplitude que a questão do trânsito exige, nas mais diferentes esferas.
A cor amarela foi escolhida em alusão à sinalização de advertência, utilizada nos semáforos. Por isso ficou conhecida como a cor da atenção pela vida. Assim como os movimentos de conscientização de combate ao câncer de mama, de próstata e contra o vírus HIV, o Maio Amarelo também é simbolizado pelo laço, nesse caso, amarelo.
Divulgação
Título: Acidentes de trânsito ocorridos no sistema de transporte público de passageiros da Região Metropolitana de Belo Horizonte (2012-2015).
Nível: Mestrado
Autora: Maria Beatriz de Oliveira
Orientadora: Eliane Dias Gontijo
Coorientadora: Maria da Conceição Werneck Côrtes
Programa: Promoção da Saúde e Prevenção da Violência
Defesa: julho de 2016
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