Deputadas visitam Biotério Central, uma das instalações mais ameaçadas pela Stock Car

ALMG vai preparar relatório técnico para embasar pedido de mudança do local da prova; outras estruturas da UFMG serão visitadas nas próximas semanas


22 de março de 2024


As deputadas estaduais Bella Gonçalves (à direita) e Beatriz Cerqueira ouvem a apresentação da professora Adriana Abalen sobre o biotério; à esquerda, o pró-reitor de Pesquisa, Fernando Reis
As deputadas estaduais Bella Gonçalves (à direita) e Beatriz Cerqueira acompanham a apresentação do biotério feita pela professora Adriana Abalen; à esquerda, o pró-reitor de Pesquisa, Fernando Reis
Foto: Raphaella Dias | UFMG

Se depender da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a prova da Stock Car, prevista para agosto, não será realizada no entorno do campus Pampulha. Uma equipe do legislativo mineiro deverá preparar um relatório técnico detalhado de todos os impactos que a corrida provocará nas atividades acadêmicas da UFMG para reivindicar junto à Prefeitura de Belo Horizonte a mudança de local.

O primeiro passo desse trabalho foi dado na tarde desta quinta-feira, dia 21, durante a visita das deputadas estaduais Beatriz Cerqueira (PT), presidenta da Comissão, e Bella Gonçalves (PSOL) ao Biotério Central da UFMG. O local, que abriga animais destinados a pesquisas, será um dos mais afetados pela corrida caso ela ocorra na Pampulha.

As duas parlamentares e seus assessores foram recebidos pela professora Adriana Abalen, coordenadora do Biotério Central, e pelo pró-reitor de Pesquisa, Fernando Reis. Segundo Adriana, os animais que vivem no espaço não suportarão o barulho e a vibração provocados pelos motores dos carros da Stock Car. Ratos e camundongos aguentam até 70 decibéis sem estresse, e a prova gera cerca de 110. “O nível de estresse será tão insuportável para ratos e camundongos, que eles poderão cometer atos de canibalismo, eliminando uns aos outros e interrompendo várias pesquisas em andamento”, alertou a professora.

O Biotério Central produz ratos e camundongos usados em estudos científicos conduzidos por cerca de 100 pesquisadores da UFMG vinculados a 27 programas de pós-graduação. A estrutura também atende demandas de outras instituições de Minas Gerais, como as fundações Oswaldo Cruz e Ezequiel Dias, as universidades federais de Ouro Preto, Alfenas e Viçosa, e de outros estados, como a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, a Fiocruz RJ, a Universidade Federal do Paraná e o Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais (CNPEM).

Das vacinas à genética do alcoolismo
Durante sua explanação, Adriana Abalen destacou que o Biotério Central da UFMG, um dos maiores do país, é uma estrutura que dá suporte a variados tipos de estudos, relacionados, por exemplo, ao desenvolvimento de vacinas, mediadores inflamatórios de doenças e investigações sobre dependência química. “Gene associado ao alcoolismo, por exemplo, foi estudado em camundongos produzidos aqui. Modelos animais são fundamentais para compreender os mecanismos de doenças”, afirmou a professora.

Inicialmente, a visita contemplaria também o Hospital Veterinário, a Estação Ecológica, o Centro Esportivo Universitário e uma clínica da Faculdade de Odontologia, também impactados pela prova. No entanto, ao constatar a complexidade das operações do Biotério Central, a deputada Beatriz Cerqueira optou por aprofundar o levantamento de informações sobre a estrutura. Novas visitas serão marcadas nas próximas semanas para avaliar o impacto nos outros espaços. “Nosso objetivo é coletar dados para a produção de um relatório substancial. Vamos usá-lo para reivindicar junto à Prefeitura a troca do local de realização da prova”, anunciou a presidente da Comissão de Educação.

Corrida ou ciência?
Beatriz Cerqueira se disse impressionada com o que viu durante a visita. “Saio daqui com a seguinte pergunta: o que queremos para a cidade? Uma corrida de carros ou uma estrutura fundamental para o avanço de pesquisas em vários campos”? questionou a deputada.

Bella Gonçalves endossou as palavras da colega. “Essa corrida vai gerar uma riqueza concentrada em cinco anos, mas uma instalação como essa gera benefícios muito mais duradouros”, afirmou. “Belo Horizonte deveria, na verdade, se preparar para ser um polo de geração de ciência e tecnologia no campo da saúde e, para isso, precisa se aproximar da UFMG e valorizar estruturas como o Biotério Central”, defendeu.

Antes da visita ao biotério, Beatriz Cerqueira e Bella Gonçalves foram recebidas no saguão do prédio da Reitoria pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida. A dirigente da UFMG disse acreditar que Stock Car poderá ainda ter seu local de realização alterado e espera que os apelos da Universidade sejam ouvidos pelo poder público municipal. “O impacto vai muito além de perturbação sonora. Meio ambiente, ensino, pesquisa e extensão serão muito prejudicados. Historicamente, sempre participamos de todas as discussões relacionadas aos grandes eventos no Mineirão, como a Copa do Mundo. Nossos estudos, realizados em 2013, mostraram que os eventos dentro do estádio são manejáveis em termos de impactos para UFMG, mas o que se passa na esplanada e no entorno, não. Por isso, a Stock Car vai impactar tanto a UFMG”, reiterou a reitora.

A visita também foi acompanhada pela Rádio UFMG Educativa. Ouça a reportagem de Ruleandson do Carmo.

Reitora Sandra Goulart entre as deputadas estaduais Bella Gonçalves e Beatriz Cerqueira
Reitora Sandra Goulart entre as deputadas estaduais Bella Gonçalves e Beatriz Cerqueira
Foto: Redes Sociais UFMG

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