Desastres exigem maior cuidado psicológico

Processo de luto é vivenciado de maneira intensa e exige preparo dos profissionais no acolhimento


08 de abril de 2019


Processo de luto é vivenciado de maneira intensa e exige preparo dos profissionais no acolhimento dos atingidos

Nathalia Braz*

Homenagem às vítimas do massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, São Paulo. Foto: Nelson Almeida / AFP

O luto é caracterizado pela perda de alguém ou algo que tenha um elo significativo. Esse processo não necessariamente acontece somente após a morte de uma pessoa querida, pode ser também pela perda de bens materiais, desempregos, relacionamentos afetivos e até a própria casa. Situação em que se encontram os parentes e amigos das vítimas do massacre de Suzano e os moradores que viviam perto da região em que houve o rompimento das barragens da Vale em Brumadinho, Minas Gerais. Para quem perdeu o lar e todos seus pertences, o processo de luto é vivenciado de maneira mais intensa, podendo ter algumas sequelas para os que ficaram e o cuidado com essas pessoas pelos profissionais da saúde é de extrema importância. O tema é abordado em série do Saúde com Ciência.

Os psicólogos têm papel fundamental em tragédias. A situação é extremamente delicada, pois os indivíduos não estavam esperando a perda de nenhum familiar, pertence ou até mesmo a própria casa. O tempo para processar tudo o que aconteceu é muito menor do que se espera e por isso alguns podem precisar de cuidados psicológicos, pois podem enfrentar as cinco fases do luto, que é a negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.

Atualmente, em casos de desastres tecnológicos, existe uma estratégia criada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que chama Primeiros Cuidados Psicológicoso, como exemplifica o psiquiatra e professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Frederico Garcia: “A estratégia busca minimizar o trabalho individual e maximizar o trabalho coletivo. A ideia de que a própria rede de apoio da pessoa no local onde o desastre acontece é mais eficaz na prevenção do que quando vai fazer as consultas individuais”.

Algumas abordagens psicológicas precisam ser evitadas, como uma técnica antiga chamada the briefing, que é fazer a pessoa repetir a história da vivência traumática. Quando se repete algum fato, a memória do fato traumático fixa ainda mais. Frederico Garcia explica que essa técnica aumenta as chances do indivíduo desenvolver o transtorno de estresse pós-traumático e deve ser evitada. “Infelizmente, no nosso país, ainda estamos muito pouco preparados e não temos em cada estado uma célula para abordagem de catástrofes tecnológicas. E acaba observando um trabalho de voluntariado.”, observa o professor.

Infográfico: CCS Medicina

Os sobreviventes de catástrofes e tragédias, como a queda da barragem em Brumadinho, podem desenvolver algumas consequências na saúde decorrentes do trauma, como o transtorno do estresse pós-traumático. Esse transtorno é caracterizado por três sintomas, como explica o psiquiatra Frederico Garcia: “O primeiro é ter se exposto a esse evento de ameaça de vida ou um evento traumático maior. O segundo é o surgimento de um quadro de evitamento das situações que lembram ou que possam levar à reexposição a essa situação traumática. E a terceira, é quando a pessoa tem crises, como a de ansiedade, e que, durante ela, são revividas as coisas que aconteceram naquele momento do trauma”.

Esse transtorno não acontece com todas as pessoas que sofreram a perda ou passaram pelo processo de luto. Mas quando afeta, chega a ser incapacitante. Essa dificuldade de seguir em frente e continuar realizando as atividades costumeiras após a tragédia, precisa de atenção. Segundo o professor Frederico Garcia, a vítima pode ter riscos maiores de depressão, consumir drogas e ter uma série de outras consequências negativas. Por isso, é necessária uma equipe para cuidar dessas pessoas que passaram por esses desastres tecnológicos.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 145 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

*Nathalia Braz – estagiária de jornalismo

Edição: Maria Dulce Miranda