Diagnóstico de câncer não é sentença de morte, afirma especialista

Avanços tecnológicos têm permitido maior índice de cura dos pacientes.


23 de novembro de 2018 - , , ,


Médica oncologista do hospital das clínicas, Carolina Vieira, afirma que, com as novas possibilidades de tratamento e a descoberta precoce da doença, os riscos de óbito caem consideravelmente.

Carol Prado*

Receber o diagnóstico de câncer pode parecer amedrontador num primeiro momento, já que a doença é uma das que mais mata no mundo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 8 milhões de pessoas morrem por ano em decorrência da doença no Brasil, que aparece em oitavo lugar da lista de doenças que mais matam no país. Juntamente à insuficiência cardíaca e o Acidente Vascular Cerebral (AVC), o câncer faz parte de mais da metade das causas de morte mundiais, segundo a Organização Mundial de Saúde. Entretanto, avanços tecnológicos têm permitido a otimização do tratamento, com maiores chances de sucesso e menos efeitos colaterais ao paciente.

Arte: CCS

Estratégias como a terapia alvo – que utiliza anticorpos específicos para destruir apenas as células tumorais– e a imunoterapia – que incita o sistema de defesa do próprio corpo a agir contra o tumor – são exemplos. Além disso, o uso da robótica permite que as cirurgias sejam mais assertivas e que a radioterapia seja realizada em pontos menores e mais sensíveis, tratando de casos de câncer no cérebro. Os avanços são responsáveis por uma quebra de paradigmas para encarar o câncer. “Diagnóstico de câncer não é sentença de morte”, afirma a médica oncologista do Hospital das Clínicas da UFMG, Carolina Vieira.

A grande maioria dos cânceres é causada por fatores ambientais, sendo apenas 15% deles advindos de pré-disposição genética. “Até 50% das causas de câncer são preveníveis” alerta Carolina Vieira. “Essas causas são a obesidade, o sedentariasmo, e o tabagismo” conta.

“Eu oriento a ter uma dieta saudável, eliminando ao máximo os alimentos industrializados, praticar atividade física e abandonar o tabagismo” esclarece Carolina. “Tendo uma vida saudável, a chance de ter câncer é muito menor, e esses hábitos vão ter impacto não só no câncer, mas nas doenças cardiovasculares como AVC, hipertensão e diabetes” conclui.

Mitos e verdades sobre o câncer

Algumas informações podem gerar dúvidas e até preconceitos contra o paciente com câncer. Tentando desmistificar esses mitos, a oncologista Carolina Vieira responde a mitos e verdades sobre a doença:

O câncer é contagioso?

Não, o câncer não é contagioso. É uma dúvida frequente entre os pacientes que a gente atende. Algumas infecções virais podem estar relacionadas ao câncer, por exemplo, o HPV e o câncer de colo uterino; o vírus da hepatite B, relacionado ao câncer de fígado; mas o câncer não passa. Utilizar o mesmo copo, o mesmo garfo, a mesma toalha, dormir na mesma cama… isso não vai passar a célula cancerígena do paciente para o seu familiar. O paciente que está fazendo tratamento para o câncer, principalmente a quimioterapia, pode ter sua imunidade diminuída. Então é preciso tomar esses cuidados para não passar uma infecção, uma gripe, um resfriado para a pessoa em tratamento.

Câncer é hereditário?

Uma minoria dos canceres é hereditário. Isso é chamado de mutações germinativas no DNA e o paciente já nasce com elas. A maioria dos tumores, no entanto, são por mutações, por danos no DNA, que são adquiridas ao longo da vida. Tumores hereditários são mais raros, mas um exemplo é o caso da Angelina Jolie. A mãe dela tinha uma mutação nos genes de câncer de mama e aquilo foi passado, ela fez a testagem genética e descobriu que tinha essa mutação genética também. Então a chance de câncer de útero e de ovário era muito alta, o que a motivou a procurar um tratamento preventivo. Mas isso é muito raro. A maioria dos tumores não são hereditários.

Câncer de mama pode acontecer em homens?

Sim, a gente tem até 5% dos casos de câncer de mama em homens. É importante o homem procurar atendimento especializado se ele notar algum nódulo, dor ou vermelhidão na mama. Os tratamentos são muito semelhantes aos realizados em mulheres: Cirurgia, quimioterapia e radioterapia, e até a hormonioterapia pode ser utilizada em alguns casos.

O consumo de carne vermelha aumenta o risco de câncer?

A carne vermelha, num consumo exagerado, está relacionada a um aumento da incidência de alguns tipos de tumores, como o câncer de intestino e o câncer colorretal. Então não é que a gente não deva consumir carne vermelha, mas ter moderação nesse consumo. Não deve ser de consumo diário, e nem em grandes quantidades, alternar com peixe, com frango, com outras formas de proteína.

Dormir com o celular perto do corpo pode influenciar no aparecimento de câncer?

Esse é um fator que nunca teve comprovação em estudos científicos. Vários estudos avaliaram até antena de sinal de celular, se poderia aumentar a chance de tumores, principalmente cerebrais, que é o grande medo da população, mas isso nunca foi confirmado. Ainda tem-se esse medo, existem pesquisas em andamento, mas isso não é um fator de risco de câncer baseado na literatura que a gente tem.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

 

*Carol Prado– estagiária de Jornalismo

Edição: Maria Dulce Miranda