Doença falciforme: saiba mais

Lembrando o Dia Nacional de Luta pelos Direitos da Pessoa com Doença Falciforme (27/10), Saúde com Ciência reapresenta série sobre o tema


27 de outubro de 2016


Lembrando o Dia Nacional de Luta pelos Direitos da Pessoa com Doença Falciforme (27/10), Saúde com Ciência reapresenta série sobre o tema

ImpressãoUma das doenças genéticas e hereditárias mais comuns no Brasil, a doença falciforme afeta o formato das hemácias ou glóbulos vermelhos, que carregam a hemoglobina – pigmento responsável pelo transporte de oxigênio dos pulmões para o corpo. Quando isso acontece, a hemácia apresenta o aspecto de uma foice, daí o nome falciforme, dificultando a passagem do sangue pelos vasos e a oxigenação dos tecidos. Estudos sugerem que a alteração genética, que surgiu em regiões da África e Ásia, possibilitou a seleção natural dos indivíduos com o traço falciforme, protegendo-os da malária, infecção que dizimou milhares de pessoas nesses continentes.

É o que explica o professor emérito e pesquisador associado do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad), Marcos Borato. “Na época da escravidão, essas pessoas eram trazidas para o Brasil. Então, pela miscigenação de negros com negros, negros com brancos e negros com indígenas, o gene foi se disseminando. Atualmente, a doença está presente em todo o Brasil, mas se localiza fundamentalmente nos estados onde a escravidão foi de maior proporção”, afirma. Dentre esses estados, destacam-se Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Ter o traço falciforme não implica, necessariamente, em ter a doença. Mas quando homem e mulher apresentam o traço, a chance dos filhos manifestarem a doença é significativa. Os principais sintomas são dores agudas nas articulações e a anemia detectada pela palidez da pele e das mucosas. Apesar de não ter cura, existem tratamentos de acordo com o grau da doença. Hoje, é comum o uso da hidroxiureia, medicamento que reduz as dores pelo corpo e os episódios de pneumonia.

Outras medidas profiláticas são o uso do ácido fólico e antibióticos ao recém-nascido e transfusão de sangue em situações mais graves. O diagnóstico, feito através da triagem neonatal e conhecido como teste do pezinho, é fundamental para que essas e outras decisões sejam tomadas precocemente, trazendo mais qualidade de vida às pessoas com doença falciforme.

Hemácias normais e falcizadas. Imagem: www.biomedicinapadrao.com.br

Hemácias normais e falcizadas. Imagem: www.biomedicinapadrao.com.br

Racismo institucional

A doença falciforme é predominante na população negra – estima-se que 95% dos indivíduos com a doença em Minas Gerais sejam negros. O fato de eles terem vindo para o Brasil como escravos, condição extinta apenas em 1888, é um fator ligado à marginalização. “A conjunção de pessoas que têm pouco poder econômico e, portanto, pouco poder político, junto com o preconceito de cor, há um preconceito forte contra negros e pessoas com doença falciforme”, comenta Marcos Borato.

De acordo com a presidente da Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia do Estado de Minas Gerais (Dreminas) e da Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doença Falciforme (Fenafal), Maria Zenó Soares, a falta de conscientização em relação ao quadro está associada ao racismo institucional. “Sofrem racismo por ser pobre, por ser negro, por ter a doença. A discriminação de profissionais da saúde de não acreditar no nosso relato no momento de dor, principalmente nos serviços de urgência e emergência, considerando a gente como pessoas viciadas em morfina… A invisibilidade da doença falciforme se dá devido ao racismo das instituições de saúde”, afirma.

Apesar disso, ao conceder essa entrevista ao programa de rádio no ano passado, Maria Zenó nutria esperanças de que, em um futuro próximo, fosse proporcionada maior inclusão social a essas pessoas, nas áreas de assistência, educação, trabalho e lazer. “Como a gente está falando de população negra, de 98% de pessoas que são beneficiadas pelo Bolsa Família, a gente está falando de pessoas de baixa renda. Quanto menos educação você tem, menos acesso aos serviços você vai ter. Então eu espero que essas políticas sejam transversalizadas para que, de fato, as pessoas com doença falciforme tenham uma qualidade de vida melhor”, disse, na época.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 180 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

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Redação: Isabela Santiago | Edição: Lucas Rodrigues