Especialista tira as principais dúvidas sobre a menstruação

Convidada do Saúde com Ciência explica o ciclo menstrual e os sinais de alerta para procurar atendimento médico


06 de dezembro de 2022 - , , ,


A menstruação está presente na vida de milhões de pessoas, sejam elas mulheres cisgênero, homens transgênero e aquelas que se identificam como não binárias. Mesmo sendo algo comum e cotidiano, esse processo ainda pode gerar diversas dúvidas.

Por isso, a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Mariana Seabra, convidada do Saúde com Ciência desta semana, responde alguns dos principais questionamentos sobre o tema.

Confira algumas respostas a seguir. O programa completo está disponível aqui.

SC: Existe risco de entrar no mar ou na piscina menstruada?

MS: Não existe risco de a paciente ir na piscina, nadar no período menstrual. Ela precisa ter cuidado com a higiene. Se ela tiver com absorvente interno, que é introduzido dentro da vagina, ela deveria fazer a troca depois de estar úmido, porque isso pode alterar a flora vaginal e aumentar a chance de ter alguma infecção. Se o biquíni ou a peça íntima estiver muito úmida, também realizar a troca.

SC: Entre absorventes e dispositivos reutilizáveis, existe algum que é mais indicado?

MS: A indicação vai estar associada ao acesso. Precisamos saber onde ela está inserida para falar qual a melhor opção. Quando falamos de dispositivos reutilizáveis, pensamos que aquela paciente vai ter acesso a condições de higiene, a banheiro e a saneamento básico para lavar a calcinha ou o coletor menstrual, ou que tem acesso ao mínimo, como banheiro com água e sabonete. Do ponto de vista ambiental, seria melhor. Por outro lado, uma paciente em condição de vulnerabilidade, de rua ou que não tenha saneamento básico e disponibilidade de banheiro, talvez os dispositivos não reutilizáveis sejam as melhores opções para essas pacientes. O mais importante é que elas tenham acesso a algum tipo de recurso.

Segundo a Unicef, no Brasil, 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em casa e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.

SC: No caso do fluxo menstrual, como a paciente pode perceber se o fluxo dela está alterado?

MS: Quantificar fluxo menstrual, até do ponto de vista científico e pesquisa clínica, não é um conceito fácil. Mas temos alguns parâmetros que podem ser utilizados pela própria paciente. Por exemplo, uma paciente que usa dois pacotes de absorventes em um ciclo menstrual; ou que sempre vê coágulos, o que significa que o volume está muito grande; ou que suja a própria roupa ou roupa íntima; ou que, à noite, o dispositivo que ela utiliza não está sendo suficiente; ou apresenta anemia e deficiência de ferro. Então, são sinais que ela pode identificar e relatar ou ter o diagnóstico em uma consulta ginecológica direcionada.

SC: Além do fluxo menstrual alterado, quais outros sinais relacionados a menstruação podem ser alertas para a pessoa que menstrua procurar um médico?

MS: Uma questão muito importante é a cólica incapacitante, que não resolve com medicamento habitual, ou que piora ao longo dos anos, ou que tenha outros sintomas associados, como alteração intestinal ou urinária. O fluxo menstrual também tem um cheiro, mas não é ruim, é um cheiro de sangue, de ferro. Então, se tiver um sangramento com odor diferente do habitual pode significar algum processo infeccioso uterino.

SC: Mesmo que o risco de engravidar seja maior no período fértil, é possível engravidar menstruada?

MS: Ela pode engravidar menstruada se ela tem um ciclo mais curto. E como ela não conhece a duração do ciclo dela, pode ter uma relação sexual no final da menstruação e ovular próximo a menstruação. E se os espermatozoides continuarem viáveis no trato genital feminino, ela pode engravidar.

A menstruação ocorre após a ovulação, quando o óvulo é liberado do ovário para ser fecundado. Se não houver fecundação, ocorre a descamação do endométrio, que é um tecido que reveste o útero, e é liberado com sangue pela vagina.

SC: Em alguns casos, as pessoas relatam que continuaram menstruando mesmo grávida. Isso é possível?

MS: A gente não menstrua grávida. Pode acontecer algum tipo de sangramento, principalmente no início da gestação, mas geralmente esse não é o sangramento que a paciente tem habitualmente. Ele é de menor volume, irregular ou em dias que ela não estava esperando.

Saúde com Ciência

O programa de rádio Saúde com Ciência desta semana vai abordar sobre a menstruação, os sintomas de cada uma das fases do ciclo e a pobreza menstrual.

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.