Evento debate impacto do racismo no processo de adoecimento e na formação do profissional de saúde

Além de refletir sobre as ações e ferramentas de combate à discriminação racial, dentro e fora da Faculdade de Medicina, o evento contará com relatos pessoais de vítimas. Pessoas da comunidade acadêmica e usuárias dos serviços de saúde de BH podem enviar sobre suas experiências de forma anônima.


05 de julho de 2021 - , , , , , , ,


A Comissão Permanente de Enfrentamento ao Racismo (CPER) da Faculdade de Medicina da UFMG promove a “Roda de conversas trajetórias negras e indígenas: relatos de vivências”, no dia 20 de julho. Esse será um evento online, com relatos anônimos de racismo tanto da comunidade acadêmica da Faculdade quanto de usuários dos serviços de saúde em Belo Horizonte. Quem desejar compartilhar essas experiências pode enviá-las até 11 de julho por um formulário online (clique aqui). A partir delas, será produzido um material audiovisual em que os membros da Comissão narram as histórias.

Esse momento também contribuirá para as discussões do “Seminário interfaces do racismo: uma abordagem de saúde”, que a CPER promove no dia 22 de julho. De acordo com Elis Borde, professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social (MPS) e coordenadora da Comissão, o Seminário visa a sensibilizar sobre o racismo e suas influências nos processos de saúde-adoecimento-morte e refletir sobre o papel dos profissionais de saúde e da Faculdade de Medicina no combate ao racismo institucional na saúde. Além disso vai discutir ações, ferramentas e experiências da oferta de cuidado integral e com equidade.

“O racismo estrutura a sociedade brasileira, impacta profundamente a vida da população negra e indígena. Se expressa nas desigualdades étnico-raciais em saúde, interfere no acesso aos serviços de saúde, na qualidade da atenção, também configura processos de adoecimento e produz morte prematura a partir de diversas violências”

professora Elis Borde

A professora reconhece que houve avanços, mas destaca que ainda há muitos desafios e pouca discussão sobre a questão racial na formação em saúde ou nas pesquisas em saúde pública e epidemiologia. Por isso, esses eventos buscam promover uma sensibilização da comunidade acadêmica sobre o tema, com um debate transparente sobre os desafios enfrentados na Unidade. Isso auxiliará, inclusive, a definir prioridades de ação da CPER a partir das necessidades levantadas pelos discentes, docentes e técnico-administrativos da Faculdade.

Julliane Correia, representante dos estudantes indígenas na Comissão, também considera a roda de conversas uma oportunidade da comunidade de uma instituição composta majoritariamente por brancos atentar-se ao impacto do racismo na vida das pessoas. Para que questione, por exemplo, “como é ser discente, docente e servidor(a) negro(a) e indígena nesta instituição”.

Pensando nisso, além dos relatos, a roda contará com a participação de uma pessoa indígena que irá apresentar sua visão enquanto usuária dos serviços de saúde. “Pretendemos, com isso, traçar um paralelo entre como tem sido a formação dos profissionais de saúde e seu impacto no fornecimento de saúde aos povos de identidades culturais diversas”, conta Julliane.

Roda de Conversas

Para participar da “Roda de conversas trajetórias negras e indígenas: relatos de vivências”, é necessário se inscrever até 19 de julho (clique aqui). Já os relatos podem ser enviados até 11 de julho. Como esse momento é voltado para a troca de experiências e vivências da comunidade acadêmica e dos usuários de serviços de saúde, o público-alvo são estudantes e trabalhadores da Faculdade de Medicina, mas não é exclusivo e outras pessoas também podem participar.

A roda será realizada às 17h30, pelo Zoom, sendo que o link será enviado para o e-mail cadastrado na inscrição. Ela contará com a participação de discentes, docentes e técnico-administrativos negros e indígenas da UFMG. De acordo com a professora Elis, com diferentes gerações representadas, esse será um momento de trocas de experiências de racismo, mas também sobre resistências.

Julliane Correia ainda lembra que os inscritos também terão a possibilidade de relatar suas experiências durante o evento, caso se sintam confortáveis. “Um dos aspectos importantes deste espaço de troca está em visibilizar histórias de pessoas que estão próximas a nós, que compartilham do mesmo espaço, mas que experienciam o atravessamento da questão racial nas suas relações interpessoais e na relação com a própria Faculdade”, discorre.

Seminário

O “Seminário interfaces do racismo: uma abordagem de saúde”, em 22 de julho, será realizado às 17h30 com transmissão pelo Youtube. É um evento aberto a todos e sem necessidade de inscrição prévia. Durante sua transmissão, será divulgado um link de cadastro no chat para que os participantes preencham e sejam certificados.

A programação conta com três especialistas reconhecidos, incluindo o diretor do Grupo de Trabalho Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Luis Eduardo Batista. A discussão abordará as interfaces do racismo na saúde, trazendo reflexões sobre racismo institucional, desigualdades étnico-raciais em saúde, branquitude, saúde da população negra e indígena, entre outros assuntos.

“Enquanto estudante indígena, acredito que a realização de um seminário que discute saúde e racismo, construído por uma Comissão Permanente de Enfrentamento ao Racismo em uma instituição de ensino como a UFMG, representa o importante papel social e político desta Universidade no momento em que o Brasil vive um cenário de retrocessos sociais, especialmente para as populações indígenas, em razão do Projeto de Lei 490, que influencia diretamente no processo saúde-doença-morte dos povos originários, uma vez que representa retrocessos no direito à sua própria existência”

Julliane Correia

Os relatos de discriminação racial serão coletados para orientar as discussões na roda de conversa e pautar as atividades da CPER. No entanto, é importante lembrar que para fazer denúncias formais sobre experiências de racismo é preciso procurar a Ouvidoria da UFMG.

Além da Comissão Permanente de Enfrentamento ao Racismo da Faculdade de Medicinada UFMG, a organização e realização do Seminário é apoiada pela articulação estratégica de diversos setores da Unidade, incluindo  o Centro de Comunicação Social (CCS), o Grupo de Estudos de Negritude e Interseccionalidades (GENI), a Liga de Saúde Coletiva (LIASC) e a Liga Acadêmica de Saúde da População Negra da UFMG (Laspon).

Leia também:
As interfaces do racismo e o impacto na saúde e formação de profissionais serão temas de debates em seminário