Falta de acesso ao saneamento básico expõe brasileiros a doenças

Milhões ainda não têm acesso às redes de água e esgoto


17 de agosto de 2020 - , , , , ,


Lavar as mãos com frequência é uma das formas de prevenção contra o coronavírus. Mas imagine como fazer a higienização quando não há água em casa? Essa é a realidade de mais de 10% dos domicílios avaliados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), que aponta que, nessas residências, falta água pelo menos uma vez por semana. O acesso à água potável é um dos serviços que fazem parte do saneamento básico.

Além dos domicílios em que falta água, outros não têm acesso à água encanada e potável. O infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Vandack Alencar Nobre Júnior, alerta que essas pessoas estão mais expostas a doenças. “Sem o apoio a essas comunidades do ponto de vista formal das autoridades constituídas ou da sociedade civil, realmente não tem jeito: o pessoal vai ficar mesmo à mercê a aquisição de infecções, inclusive o coronavírus”, aponta. “O coronavírus fica nas superfícies e, contaminando as mãos, você pode pegar nos olhos, boca e nariz e pode se contaminar. Mas talvez a forma mais provável de infecção seja por via aérea mesmo. Nesse caso, o problema que talvez mais contribua seja a aglomeração de pessoas. Mas, juntando essas duas questões, se torna um prato cheio para a disseminação da doença”, acrescenta.

Saneamento e saúde

A relação entre os dois componentes é estreita: em lugares em que o esgoto é descartado diretamente na natureza e não há tratamento dos resíduos, há maior proliferação de doenças. “Primariamente, as doenças mais associadas à falta de saneamento básico são aquelas veiculadas pela água. São várias, mas talvez as mais importantes sejam as diarréias infecciosas. A população mais vulnerável às diarréias são as crianças”, chama a atenção. Além das diarréias, o professor destaca as hepatites, a esquistossomose e leptospirose.  Para evitar essas doenças, o professor Vandack dá algumas dicas:

“Ferver a água por dois minutos é suficiente para eliminar quase todas as possibilidades de infecção pela água. Nas zonas rurais, tem fogão à lenha, mas, nas grandes cidades, tem a questão do gás de cozinha, que é caro. Os filtros não eliminam, mas diminuem os riscos. Uns mais, outros menos, dependendo do processo de filtragem. A água mineral seria, obviamente, uma ótima alternativa, mas, de novo, tem a questão econômica”.

Coronavírus no esgoto

Projeto do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de Tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis), da UFMG, aponta presença do coronavírus nos esgotos. Na última análise divulgada, referente ao período entre 13 de abril e 24 de julho, todas as amostras de esgoto da Bacia do Rio Arrudas apresentaram a presença do coronavírus ao longo de sete semanas consecutivas. Nas amostras da Bacia do Onça, todas testaram positivo nas últimas nove semanas de monitoramento. As análises ajudam a mapear o número de contaminados.

De acordo com o professor Vandack, existe a possibilidade de infecção pelo contato com esgoto contaminado. “É interessante algumas questões porque existem alguns estudos que mostram que é possível recuperar o coronavírus nos esgotos de hospitais que tratam pacientes com a covid-19, por exemplo. Alguns trabalhos mostram que o vírus pode resistir ou permanecer até 10 dias em água, viáveis e infectantes – não especificamente o Sars-CoV-2, mas outros coronavírus previamente estudados, mas que são semelhantes a esse –. Já no Sars-CoV-2, estudos apontam essa presença até duas semanas. Essas gotículas geradas por essa água contaminada, por exemplo, poderiam infectar uma pessoa”, sintetiza. 

Questões ambientais

Além de impactar a saúde, a pandemia do coronavírus trouxe mudanças também no meio ambiente: as medidas de isolamento social diminuíram a emissão de gases poluentes nas grandes cidades. Por isso, o Saúde com Ciência dessa semana apresenta série sobre a relação do meio ambiente com a saúde e discute o acesso à água, ao esgoto e à coleta de lixo. Confira a programação:

:: Gases poluentes e qualidade do ar
:: Desmatamento
:: Lixo
:: Esgoto
:: Água

Sobre o Programa de Rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.