Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG homenageia Frei Chico em sua 22ª edição

Falecido no início de 2023, religioso holandês foi o principal pesquisador da cultura popular da região.


04 de maio de 2023 -


Foto: Lori Figueiró/Divulgação.

Começa na próxima segunda-feira, 8 de maio, a 22ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG. Este ano, o evento volta a ser realizado na semana que antecede o Dia das Mães e segue até o sábado, 13, na Praça de Serviços, no Campus Pampulha da UFMG. Organizada pela Pró-reitoria de Cultura da UFMG (Procult), por meio do programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, a feira espera reunir 90 expositores de 28 municípios, em uma amostra representativa da vasta produção de artesanato e outros bens culturais da região do Jequitinhonha. A entrada é gratuita e aberta a toda a população.

Desde 2009, o evento homenageia mestres e mestras de ofício do Vale do Jequitinhonha, entre ceramistas, trançadeiras, tamborzeiros, fiandeiras, tecelãs, bordadeiras, escultores em madeira e outros artistas . Porém, em 2023, a feira dedica sua homenagem ao religioso Frei Chico, principal pesquisador da cultura popular do Vale, que faleceu em janeiro de 2023, aos 83 anos.

Nascido na Holanda, Frei Francisco Van der Poel chegou ao Brasil na década de 1960. O frade franciscano morou durante muitos anos em Araçuaí, município do Vale do Jequitinhonha e dedicou mais de 40 anos de sua vida a pesquisar a cultura do Vale. Ele fundou o coral Trovadores do Vale e escreveu o Dicionário da religiosidade popular: cultura e religião no Brasil, com 8,5 mil verbetes e 350 ilustrações relacionados à cultura popular.

“Frei Chico foi a pessoa que percebeu a beleza da cultura popular do Vale e mostrou aos próprios moradores da região o quanto aquilo era valioso. É muito comum as pessoas não valorizarem a cultura que está ali, no quintal de casa ” explica Maria das Dores Nogueira, coordenadora do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha.

No documentário “De Baixo Para Cima – From The Bottom Up”, de Angelica Macklin e Jonathan Warren, Frei Chico contou que um de seus primeiros contatos com a cultura popular do Vale foi com a cozinheira da casa paroquial em Araçuaí. “Ela cantava na cozinha e a casa não tinha forro. Então eu ouvia ela do outro lado e dizia ‘Filó, isso é bonito’ e ela respondia ‘é bobagem’. Mas ela gostava dos elogios e aos poucos ela me deu as músicas que formaram o primeiro repertório dos Trovadores do Vale”, contou o frei no filme de 2014.

Homenagem em forma de música, objetos, livros e vídeos

O tributo a Frei Chico terá apresentações do coral Trovadores do Vale, uma tenda com exposição de objetos, livros e vídeos do religioso e a presença da artesã Lira Marques, mestra de ofício, ceramista e parceira de Chico em suas  pesquisas.  

Lira Marques e Frei Chico se conheceram em 1970, quando ela começou a participar do coral Trovadores do Vale.  A artesã logo reconheceu, no repertório do coral, as músicas que ouvia sua mãe cantar e passou a ajudar o frade nas pesquisas e registros das diferentes manifestações artísticas da população do Vale do Jequitinhonha. Juntos, Lira e Frei Chico, começaram a entrevistar moradores e registrar, em um gravador, os cantos, cantigas de ninar, cantigas de trabalho, músicas religiosas da população da região. No documentário “De Baixo para Cima”, ela diz que as pessoas tinham vergonha de mostrar as músicas a ela, pois achavam que aquilo não tinha valor. “Então que questionava elas: o padre canta. Nós estamos cantando. E tem valor. Aí quando eu mostrava a importância e o valor daquilo eles iam dando mais coisa e eu ia anotando”, contou à época. O resultado dessas quatro décadas de dedicação da dupla está nas mais de 1 mil páginas do ‘Dicionário da religiosidade popular – Cultura e Religião no Brasil’. Exemplares da obra serão colocados à venda na feira, trazidos pelo Museu de Araçuaí – um presente de Frei Xico e Lira Marques. 

O tributo a Frei Chico vai contar ainda com duas apresentações do coral Trovadores do Vale, uma no projeto Quarta Doze e Trinta, no dia 10 de maio, a partir das 11h30, e outra no Projeto Ao Cair da Tarde, no dia 11 de maio, às 17h30, ambas na Praça de Serviços. No repertório estão as canções populares registradas por Chico e Lira. Já o espaço dedicado ao homenageado vai contar com livros, vestimentas, objetos pessoais do Frei, incluindo um de seus instrumentos musicais.

“Para nós, é uma honra homenagear Frei Chico. Ele é uma pessoa muito amada no Vale, não só em Araçuaí. As pessoas têm uma referência muito forte, um amor muito grande por ele, por esse conhecimento e esse amor ao Vale do Jequitinhonha”,  afirma Maria das Dores Nogueira.

Programação cultural

A 22ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG contará com programação cultural durante todo o evento. Nesta edição, além do Coral Trovadores do Vale, apresentam-se o violeiro Victor Batista, com o show Viola de arame, Rubinho do Val  e a dupla Beatriz Farias e Tau Brasil. 

Serviço

22ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG

8 a 13 de maio

Praça de Serviços do campus Pampulha (Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha)

Segunda a quarta e sexta-feira, das 9h às 18h; quinta, das 9h às 19h, e sábado, das 9h às 14h

Programação cultural

Todos os eventos, gratuitos, serão realizados na Praça de Serviços, no campus Pampulha.

Viola de Arame –  show de Victor Batista

8 de maio, segunda-feira, às 12h30

Remetente – performance de Adelita Siqueira

9 de maio, terça-feira, às 12h30

Rubinho do Vale e Coral Trovadores do Vale – homenagem a Frei Chico

Participação especial: Olegário Alfredo

10 de maio, quarta-feira, a partir das 11h30

Coral Trovadores do Vale

11 de maio, quinta-feira, às 17h30

Beatriz Farias e Tau Brasil em cantoria – show musical

12 de maio, sexta-feira, às 12h30


Filipe Sartoreto – Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Cultura da UFMG