Fissura: quando a recompensa se torna a dependência

Saúde com Ciência desta semana é dedicado à dependência, conhecida cientificamente como Transtorno Relacionado ao Uso de Substância


17 de outubro de 2014


Programa de rádio esclarece o que é dependência

saudecomcienciaConhecida cientificamente como Transtorno Relacionado ao Uso de Substância, a dependência é associada ao comportamento obsessivo do indivíduo que sente falta de uma determinada substância ou objeto. Ansiedade, sudorese e hipertensão são alguns dos sintomas físicos que podem ocorrer durante os períodos de abstinência, que, além de prejudicar a saúde do indivíduo, pode afetar a sua vida pessoal e social.

“Quando a pessoa passa a ter uma fissura, ela passa a procurar a substância deixando atividades sociais e prazerosas de lado”, relata a professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Tatiana Mourão. Segundo a psiquiatra, os sintomas da abstinência estão relacionados a uma alteração no sistema de recompensa presente no cérebro do indivíduo, responsável por liberar sensações de prazer e contentamento.

Estudos feitos pela pesquisadora Nora Volkow, referência norte-americana sobre o assunto, mostraram que ratos de laboratório estimulados por longos períodos com substâncias que induziam ao prazer, acabaram ativando seus sistemas de recompensa apenas olhando para o objeto.

Dependência de substâncias químicas é um dos destaques da série. Foto: www.hiperativo.com

Dependência de substâncias químicas é um dos destaques da série. Foto: www.hiperativo.com

“A grande pergunta que a doutora Nora Noskow nos faz é: quem usou muito a substância de uma forma intensa, que chegou à fissura, será que pelo resto da vida ela vai ter necessidade dessa ‘recompensa’?”, propõe Tatiana, que explica que o período de abstinência é tão desconfortável para o indivíduo dependente por causa dessa alteração. “Quando a pessoa entra em abstinência, ela vai ter que reaprender a lidar com a ausência dessa substância que causa prazer e que afeta o sistema de recompensa”.

Tratamento: caminhada conjunta

Apesar de difícil, o tratamento da dependência não é impossível. O primeiro passo precisa ser dado pelo próprio indivíduo que aceita entrar na fase da abstinência e abdicar do uso da substância ou do objeto. No entanto, essa caminhada não deve ser percorrida sozinha – o médico é parte fundamental desse processo.

“A pessoa quando deseja parar com o uso da substância deve procurar um profissional da área, que, junto com a pessoa, irá fazer todo o planejamento da abstinência e os seus riscos”, pontua Tatiana Mourão. Esse tratamento varia de acordo com o paciente e com a dependência que está instalada nele. Atualmente, são usados principalmente medicamentos e terapias cognitivo-comportamentais.

“Uma vez instalada a abstinência, nós passamos a utilizar as técnicas de prevenção da recaída, que são de curto e médio prazo dependendo da substância”, comenta a psiquiatra. Os “escorregões”, momentos em que a pessoa faz um uso único de uma substância e se abstém logo em seguida, são diferentes da recaída, que acontece quando o paciente retoma o uso por um período maior.

Caso essa recaída se prolongue por tempo indeterminado, todo o esforço para interromper a dependência pode ser comprometido. “Quanto antes interromper a recaída, mais fácil será continuar na estrada do tratamento. Dependendo do tempo de recaída, a pessoa pode ter até que começar do zero”, alerta Tatiana Mourão. “Isso também vai depender da fase em que ela se encontra perante o uso da substância”.

Tema da semana

O Saúde com Ciência desta semana destaca o que caracteriza a dependência, quais substâncias podem levar a ela, seus sintomas, os desafios da prevenção e o tratamento. Confira a programação:

O que é dependência? – segunda-feira (20/10/14)

Substâncias que causam dependência – terça-feira (21/10/14)

Principais sinais – quarta-feira (22/10/14)

Tratamento – quinta-feira (23/10/14)

Prevenindo a dependência – sexta-feira (24/10/14)

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. De segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h05, ouça o programa na rádio UFMG Educativa, 104,5 FM. Ele ainda é veiculado em 70 emissoras de rádio de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Estados Unidos. Também é possível conferir as edições pelo site do Saúde com Ciência.