Insônia afeta funcionamento cerebral e atividades diárias
Nesta Semana do Sono, aproveite para saber os principais benefícios de ter uma boa noite de descanso
13 de março de 2020 - ansiedade, Cognição, depressão, Saúde, sono
*Giovana Maldini
Dificuldade para dormir é uma das queixas mais comum nos dias atuais. Mas, apesar de desconfortante, o problema maior é quando esse sintoma passa a ser frequente e com consequências na realização de atividades diárias. Ou seja, quando a ocorrência pontual passa a ser o transtorno de insônia, distúrbio que atinge cerca de 40% dos brasileiros, segundo o Ministério da Saúde.
“Mais do que isso, é importante verificar se há repercussão durante o dia. Às vezes, as pessoas queixam da dificuldade para dormir, mas exercem suas funções cotidianas normalmente, como trabalho e estudo. Isso é considerada uma queixa de insônia, mas não é o transtorno em si”, afirma o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Rogério Beato, especialista em neurologia cognitiva e medicina do sono.
Beato pontua que a falta de sono interfere diretamente no funcionamento cerebral dos indivíduos. Além de repercutir no comportamento das pessoas, como provocar constante irritabilidade, ela está relacionada a dificuldades cognitivas e de tomadas de decisão, por exemplo. Até a decisão de compra pode ser afetada, fazendo com que o indivíduo gaste mais do que o necessário.
“Muitas vezes, com a falta de sono, elaborar ou analisar uma situação se torna mais desgastante. Se a pessoa está dormindo mal, algumas áreas do cérebro não vão funcionar normalmente. Por isso, vai necessitar de mais áreas cerebrais ativadas, mobilizar mais energia para tomar determinada decisão”, explica o médico.
A insônia também pode levar a outros problemas de saúde, de acordo com Beato, como o aumento das chances de desenvolver doenças cardiovasculares, obesidade ou mesmo a dificuldade de controlar o diabetes, como mostra uma pesquisa do Programa de Pós-graduação em Neurociências da UFMG.
Fatores que contribuem para a insônia
Não há uma única causa relacionada. Mas, determinados indivíduos têm mais predisposição a ter o transtorno. O professor Rogério Beato cita o sexo feminino, por exemplo. De acordo com ele, estudos apontam que mulheres tendem a ter mais insônia do que homens, assim como os idosos são mais predispostos em relação às pessoas mais jovens.
Outro fator que contribui para o desenvolvimento do quadro é alguma situação estressante. Isso vai desde problemas familiares como divórcio, viuvez ou perda de parente até questões financeiras como dívidas ou desemprego. Inclusive a própria cobrança em dormir um tempo ideal por noite pode ser uma condição de estresse.
O professor ressalta que esses pensamentos negativos sobre o sono criam um ciclo vicioso: a pessoa acaba ficando mais estressada e isso, consequentemente, contribui para manter o quadro de insônia. “Tem indivíduos que ficam olhando para o relógio, preocupados porque não conseguiram dormir ainda e mentalizando sobre o dia seguinte. A pessoa fica cada vez mais ansiosa, buscando dormir rapidamente e não consegue. O fato de forçar o sono é negativo e terá efeito contrário”, explica Rogério.
Higiene do sono
O professor esclarece que o tratamento para a insônia é relativo. Algumas pessoas necessitam de acompanhamento mais estruturado e a longo prazo. Outras já conseguem dormir melhor apenas com uma rotina estruturada ou adoção de hábitos benéficos, o que é chamado de higiene do sono.
Mas a escolha desses hábitos deve ser bem pensada. Atividades na cama como ler ou utilizar aparelhos eletrônicos condiciona o cérebro a ficar acordado e alerta, ainda que esteja no horário de dormir. Outro exemplo citado pelo professor é a prática de exercícios aeróbicos a noite como forma de relaxar. Caminhada, corrida ou natação causam fadiga física e podem ser positivas para um descanso de qualidade. No entanto, essa prática noturna deixa o cérebro mais alerta em outras pessoas. Assim, essa recomendação deve ser avaliada individualmente.
“É importante valorizar o sono. Às vezes, determinados períodos são complicados, mas é preciso sempre buscar uma boa noite de descanso e dormir atendendo às suas necessidades”, ressalta Beato. “Não deixe para recuperar as noites de sono nos fins de semana, férias ou feriados, pois muitas vezes não é possível resgatar o que perdeu. Sono não é perda de tempo. Ele é positivo para a nossa saúde hoje e no futuro”, conclui.
A Semana do Sono é um evento anual, criado em 2004 pela Associação Brasileira do Sono. O principal objetivo é conscientizar a população sobre a importância de dormir bem e divulgar conhecimentos científicos sobre a temática. A campanha, que ocorre sempre no mês de março, neste ano traz o slogan “Sono e sonhos melhores para um mundo melhor”.
Para saber mais, acesse o site.
*Giovana Maldini – estagiária de jornalismo
Edição: Deborah Castro