Integração social da pessoa com esquizofrenia passa por cuidado adequado

Em série de rádio dedicada à esquizofrenia, especialistas destacam importância da atenção primária e boa estrutura hospitalar para casos graves, dentre outros assuntos


06 de maio de 2016


Em série de rádio dedicada à esquizofrenia, psiquiatras destacam importância da atenção primária e boa estrutura hospitalar para casos graves, dentre outros assuntos

ImpressãoNas últimas décadas, houve avanços significativos no tratamento farmacológico e psicoterápico da esquizofrenia no Brasil. Ainda que exista um cenário de discriminação entre a população em geral, essa realidade também passa pela reintegração social do indivíduo diagnosticado com o quadro, de modo que ele possa desempenhar atividades pessoais e profissionais para as quais tenha sido preparado. Neste contexto, especialistas destacam a importância de uma atenção primária de qualidade, além de uma boa estrutura hospitalar para atender casos mais graves.

O foco na abordagem comunitária vai favorecer, além da reinserção social, a prevenção de crises agudas de esquizofrenia e o suporte ao tratamento. Já a internação do paciente em alas psiquiátricas deve ser uma alternativa para crises intensas, oferecendo uma recuperação adequada. “Para qualquer outra patologia é assim: a gente tenta por ambulatório, realça a importância de uma medicina de atenção primária. Mas isso não pode excluir a necessidade de que quadros mais graves requerem a internação em hospital psiquiátrico”, diz o subchefe do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Rodrigo Nicolato.

Apesar da lei antimanicomial de 2001, a ideia de hospital psiquiátrico ainda gera discussões, motivadas pela existência de sanatórios para “loucos” em meados do século XX. Hoje, segundo Nicolato, os hospitais devem ser submetidos a uma série de medidas legais que visam preservar os direitos dos pacientes. O psiquiatra acredita que é necessário evitar a atual redução de leitos, proporcionando qualidade no atendimento e tratamento do transtorno: “Eu acho que a gente reduziu muito (o número de leitos) e precisamos de bons hospitais, com uma hotelaria boa para atender quadros agudos, de surto. Às vezes, os aparatos que dispomos são insuficientes e a família acaba sendo prejudicada em um cuidado que ela não pode oferecer”.

Ilustração: Reprodução | Internet

Ilustração: Reprodução | Internet

Moradia assistida

Após uma crise aguda, receber apoio da família e amigos é fundamental para a plena recuperação e consequente reintegração social da pessoa com esquizofrenia. Em alguns casos, esse amparo não existe. Para diminuir o sofrimento desse indivíduo, a moradia assistida tem como conceito acompanhá-lo em uma casa com administração própria, onde ele restabeleceria sua autonomia para construir laços sociais antes de se reintegrar à sociedade. Nesse local, os direitos dos moradores devem ser garantidos, afastando a ideia de uma lógica manicomial.

“Uma pessoa com o transtorno, na hora de uma alta hospitalar, pra onde ela vai? Ela tem uma família para acolher? Se não, ela realmente pode precisar de uma moradia assistida”, questiona a psiquiatra e professora do mesmo Departamento, Tatiana Mourão. A proposta já conta com algumas experiências no Brasil, mas, de acordo com Tatiana, não em escala suficiente. “De modo geral, ainda fica muito a desejar, mas o que nós não podemos fazer é dizer que não está bom, que vamos desistir… Ainda existem poucas moradias no país, mas que têm o amparo legal e pertencem ao serviço público”, afirma.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 175 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.