Leishmaniose visceral é considerada uma doença negligenciada

Saúde com Ciência investiga transmissão, sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção da leishmaniose humana e canina.


27 de abril de 2018


Saúde com Ciência investiga transmissão, sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção da leishmaniose visceral humana e canina

Warlen Valadares*

A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é uma doença infecciosa potencialmente grave, principalmente quando acomete crianças ou não é diagnosticada de forma precoce. No continente americano, o Brasil responde por 90% dos casos registrados. Em 2016, 3.626 casos de leishmaniose visceral e 275 óbitos por complicações da doença foram confirmados pelo Ministério da Saúde, sendo o Norte e Nordeste as regiões de maior incidência. A região do Sudeste também é considerada endêmica. Apesar das estatísticas, não há campanhas de conscientização, em geral, sobre os hábitos dos vetores da doença.

A professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Regina Lunardi, considera a leishmaniose uma doença tropical negligenciada, mais prevalente em zonas rurais e áreas periféricas das grandes cidades. Nesses locais, o saneamento básico e coleta de lixo costumam ser precários. “Qualquer criança sabe que o mosquito da dengue gosta de água limpa, mas não sabe que a Lutzomyia gosta de sujeira e folha velha. Então, essas campanhas deveriam ser feitas para as pessoas ficarem alertas”, afirma a infectologista, sobre o fato de a população não ser devidamente informada em relação aos riscos de infecção por esses parasitas.

A leishmaniose é causada pelo protozoário Leishmania. O parasita é transmitido ao homem pelos flebotomíneos, vetores conhecidos popularmente como mosquito-palha, cangalhinha ou birigui. No Brasil, os principais vetores são as fêmeas da espécie Lutzomyia longipalpis. Regina Lunardi acrescenta que manter casa, quintal e galinheiro limpos é a principal medida preventiva a ser adotada, já que os mosquitos se reproduzem em ambientes quentes e úmidos, com prevalência de folhagens, lixo orgânico e fezes de animais. Além disso, é recomendável a vacinação e o uso de coleiras repelentes nos cães. O Ministério da Saúde ainda alerta para os riscos de locais muito próximos às matas e indica o uso de repelentes, telas de malha fina nas janelas e mosquiteiro nas camas como meios preventivos.

Transmissão e diagnóstico

Os principais reservatórios da leishmaniose visceral no ambiente silvestre são raposas e marsupiais. Nas áreas urbanas, o principal hospedeiro é o cachorro. “A doença precisa de um hospedeiro intermediário, que, na maioria das vezes, é um cão. Então, a Lutzomyia pica esse cachorro que está doente e depois pica o ser humano, transmitindo a doença”, resume Regina.

A doença afeta principalmente o fígado, baço e a medula óssea. Febre, inchaço abdominal, emagrecimento e palidez são os principais sintomas associados. Pode ocorrer ainda redução dos leucócitos – células de defesa do organismo –, e das plaquetas, provocando infecções e hemorragias. Para diagnóstico da leishmaniose, segundo a professora, o médico deve avaliar os dados epidemiológicos e as condições de moradia do paciente, além de realizar um exame clínico e solicitar testes laboratoriais, como o hemograma e a sorologia. De acordo com o hospital, pode ser feita uma punção de medula óssea para identificação do parasita.

Leishmaniose visceral canina

O tratamento para a leishmaniose visceral humana é oferecido no Sistema Único de Saúde (SUS) desde sua implantação. Por outro lado, alguns cães diagnosticados com a doença ainda são submetidos à eutanásia. Em 2017, os Ministérios da Saúde e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento autorizaram a utilização de uma substância chamada miltefosina para tratar a leishmaniose canina. No Brasil, o fármaco não estava sendo prescrito a seres humanos.

“Ainda não sabemos qual é a eficiência desse tratamento a longo prazo. Há vários veterinários utilizando [a miltefosina] e tendo boas respostas. Há melhora dos sinais clínicos e o animal, muitas vezes, passa a não apresentar positividade nos exames sorológicos, mas ainda não foi confirmada a cura parasitológica da doença”, pontua a professora da Escola de Veterinária da UFMG, Camila de Valgas e Bastos.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Redação: Warlen Valadares – estagiário de Jornalismo

Edição: Lucas Rodrigues