Memória do bebê pode ser afetada por uso de drogas na gestação

Consumo de substâncias como álcool e tabaco pela gestante aumenta a possibilidade de haver dificuldades relacionadas à memória na infância


20 de janeiro de 2017


Série de rádio mostra que consumo de substâncias como álcool e tabaco pela gestante aumenta a possibilidade de haver dificuldades relacionadas à memória na infância

ImpressãoA memorização de fatos, acontecimentos e informações é algo fundamental no aprendizado do ser humano. A capacidade de memorizar está em constante ampliação até os seis, sete anos de idade. O consumo de determinadas substâncias pelas gestantes, porém, pode comprometer a “saúde” da memória da criança.

A neuropediatra e professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Cláudia Siqueira, diz que drogas como álcool, tabaco, maconha e crack durante a gestação aumenta a possibilidade de a criança apresentar dificuldades de aprendizado, atenção e memorização. O consumo das mesmas substâncias por crianças e adolescentes também tende a prejudicar a memória. “Os efeitos dessas drogas, a longo prazo, é muito prejudicial ao cérebro. Nós vemos pessoas que tinham um potencial intelectual muito alto apresentar dificuldade de memória e comportamento, atrapalhando atividades do dia-a-dia”, explica Cláudia.

Em geral, é na infância que a criança aprende coisas que não vai esquecer pelo resto da vida. Atividades que exigem repetição de movimentos são mais difíceis de serem esquecidas, segundo a especialista: “As chamadas memórias do automatismo, como andar, falar, andar de bicicleta e dirigir, são memórias difíceis de serem apagadas do cérebro”. Esse tipo de memória envolve habilidades que, uma vez aprendidas, são processadas pelo cérebro com pouco ou nenhum esforço consciente.

A produção das memórias é um processo que funciona em rede, ativando diversos campos do cérebro, cada um deles responsável por um tipo de memória. “Essas atividades exigem várias áreas cerebrais para serem construídas. Quanto mais áreas do cérebro eu dependo para construir minha memória, mais difícil é de eu esquecê-la”, aprofunda Cláudia Siqueira.

De acordo com ela, a pessoa já nasce com uma pequena capacidade de memória, desenvolvida ainda na gestação. O bebê consegue reconhecer a voz e a língua falada pela mãe e, caso os pais pratiquem duas línguas em casa, a criança pode reconhecer ambas. “Há estudos que mostram que jogos eletrônicos que envolvem tarefas como construir cidades, ajudam no desenvolvimento da memória operacional, principalmente das pessoas mais idosas” acrescenta.

Por outro lado, Cláudia recomenda cautela no uso desses jogos pelas crianças: “Na criança, temos o problema do vício em jogos. Por isso, há o receio de você indicar algum jogo e, depois, essa criança ter algum problema de ‘adição’ a jogo”.

Foto: Reprodução | Internet

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Saúde da memória

Há atitudes que colaboram na prevenção de episódios associados à “perda” de memória, a fim de aprimorá-la. O neurologista e professor da Faculdade de Medicina, Paulo Caramelli, observa que um sono de qualidade é importante para a manutenção de uma boa memória – o indivíduo deve dormir, em média, entre sete e nove horas.

A prática de exercícios também ajuda nesta manutenção. “Atividades físicas, sobretudo aeróbicas, como caminhada, bicicleta, corrida e natação, trazem um benefício muito claro para a memória e o cérebro como um todo”, indica o neurologista, que não descarta outras atividades, como pilates e academia. A recomendação é que a pessoa faça, em média, 150 minutos de exercícios por semana.

Caramelli ainda comenta que existem estudos que mostram que a alimentação também influencia na prevenção de problemas associados à memória. “A mais estudada é a chamada dieta do Mediterrâneo. Ela tem uma carga de proteína menor, sendo voltada para o consumo de carne branca, como peixe e frango, e menos carne vermelha”, afirma. “Há também o consumo de grãos, folhas, frutas e azeite de oliva. As pessoas que participaram desse estudo apresentaram, a longo prazo, um menor declínio de memória, com menor risco de desenvolver doenças, como o Alzheimer”, conclui o neurologista.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 185 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

Redação: Luís Gustavo Fonseca Edição: Lucas Rodrigues