Conheça iniciativas de acolhimento e combate à violência contra mulheres


08 de março de 2019


Divulgação dos serviços durante seminário contribuíram para fortalecer e orientar sobre boas práticas de promoção da saúde da mulher


Mariana Meinberg apresentou o Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual do HC. Foto: Carol Morena.

Projetos de humanização do acolhimento de mulheres vítimas de violência foram destaque no seminário “Mulheres em Foco”, realizado no Dia Internacional da Mulher, na Faculdade Medicina da UFMG. Durante palestra, a médica do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG e doutoranda da Faculdade de Medicina, Mariana Meinberg, apresentou o Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual do HC, no qual ela coordena junto à professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade, Sara Paiva.

“Em 2013, foram 50.320 casos de estupro no Brasil. E desses, apenas 10% foram reportados à polícia. Por que essa mulher não está procurando ajuda? É porque ela não é bem atendida? É por que ela sofre preconceito?”, indagou Mariana, para mostrar a importância de iniciativas de acolhimento humanizado.

Segundo ela, a violência sexual torna a vítima mais vulnerável a outras situações de violência e problemas de saúde, como depressão, tentativa de suicídio e estresse pós-traumático. “Então é isso que a gente tem que prevenir e tratar nos nossos serviços. É evitar sequelas físicas e psicológicas da violência, oferecer uma rede de apoio no caso de gravidez indesejada e desses outros traumas”, explicou.

Por isso, o atendimento do Serviço não envolve só médicos, mas equipe composta por multiprofissionais. De acordo com a coordenadora, entre os serviços ofertados, estão orientações de cunho jurídico e encaminhamento para assistente social, caso a paciente deseje. Já na parte laboratorial, há exames de avaliação do estado físico e psicológico da mulher, além da prevenção de infecção do vírus HIV e de gravidez, e da coleta de vestígios do agressor, que é enviada ao Instituto Médico Legal (IML) para identificação de DNA.

O processo de acompanhamento das vítimas no HC dura de seis a oito meses e, segundo a palestrante, há uma média de 20 a 30 atendimentos por ano. “Meu sonho é que um dia esse ambulatório possa acabar: que não existam mais vítimas de violência sexual. Mas enquanto há, quanto mais cedo elas nos procurarem, mais a gente pode fazer por elas”, almeja Mariana.

Para a médica residente do Hospital das Clínicas, Ana Carolina, de 28 anos, a palestra cumpriu importante papel de divulgação, não só do serviço em si, mas do tipo de tratamento e acolhimento que as mulheres têm direito de buscar e que todo profissional de saúde deve saber prestar às vítimas. “Acredito que essa palestra tem que ser levada para outros lugares, como faculdades e Unidades Básicas de Saúde, para contribuir mais para a saúde das mulheres”, compartilhou.

Para Elas

Professora e uma das coordenadoras do Para Elas, Elza Machado, convidou
integrantes do projeto para contarem sobre o trabalho desenvolvido por elas. Foto: Carol Morena.

O seminário também contou com a apresentação de outra iniciativa de acolhimento às mulheres em situação de violência: o Para Elas. Coordenado pelas professoras dos Departamentos de Medicina Preventiva e Social e de Ginecologia e Obstetrícia, Elza Machado e Myrian Celani, o projeto abarca diversas ações de enfrentamento da violência, dentro e fora do atendimento hospitalar.

A apresentação do projeto, no entanto, não foi feita como o público esperava. Ao subir ao palco, Elza Machado surpreendeu ao dizer que não poderia falar sozinha: “acredito que vocês verem as pessoas que fazem o Para Elas é muito mais importante que verem uma apresentação de Power Point. São elas que devem contar essa história, contar como manter esse projeto, pelo braço, pela força de todas”, declarou emocionada.

As integrantes convocadas ao palco envolviam tanto leigas quanto profissionais de saúde. Ao longo dos depoimentos, as experiências e a importância do serviço foram sendo expostas. Para Cláudia, mestranda da Faculdade de Medicina e integrante há um ano, a roda de conversa é o momento principal das reuniões. “Ela gira horizontal e linearmente e todas têm o direito e o dever de falar e ouvir. Além das mulheres, nós recebemos as famílias vítimas de violência, as crianças, os agressores. Só a roda é capaz de transformar”, contou.

Ainda sobre a estrutura do projeto, a coordenadora Myrian Celani explicou que 18 consultórios compõem o Para Elas no Hospital das Clínicas, distribuídos, principalmente, no Instituto Jenny Faria. “Tem serviços de psicologia e psiquiatria, teatro, advocacia, clínica médica, salão de beleza”, detalhou.

Ela destacou, ainda, que a rede de apoio só funciona através do compartilhamento de experiências e do acolhimento. “Cada losango dessa colcha é uma mulher que foi violentada e que se uniu com outras que foram violentadas e hoje faz parte do Para Elas”, mostrou Myrian, referindo-se à peça exposta no palco.

A professora Elza também informou que o Para Elas passou a funcionar, recentemente, em ambulatório na Unidade Básica de Saúde São Francisco, região da Pampulha. Segundo ela, trata-se do esforço de ampliar a rede do projeto. “Há, também, oficinas semanais em diversos bairros da metrópole, que são desdobramentos do ambulatório fundado no HC, para continuar o trabalho autônomo que as pessoas do projeto desenvolvem”, divulgou.

O momento foi encerrado com a música “O Que É, o Que É”, de autoria de Gonzaguinha, cantada por todos os presentes no auditório, após pedido da coordenadora Elza. Segundo ela, a música é uma marca dos encontros do projeto: “viver e não ter a vergonha de ser feliz (…)” — entoaram os participantes do evento.

Leia também:Mulheres em foco: Marlise Matos, da UFMG, alerta para violência contra mulheres na política

Dificultar o acesso ao aborto legal é uma violação dos direitos das mulheres

Professor da Faculdade reforça dever do homem no combate ao machismo

Conheça iniciativas de acolhimento e combate à violência contra mulheres