Mulheres que se relacionam com mulheres sofrem com despreparo médico nas consultas ginecológicas

De acordo com a professora Marília Malaguth, convidada do Saúde com Ciência, assunto já deveria ser introduzido na agenda escolar antes da graduação em Medicina


12 de setembro de 2022 - , ,


*Eduarda Sperandio

Não é novidade que mulheres que se relacionam com mulheres, sejam elas lésbicas, bissexuais ou de outra sexualidade, enfrentam um enorme estigma social. E na saúde, o cenário não é diferente. Essas pacientes relatam que cuidar da saúde física, sexual e mental é um grande desafio, já que muitas vezes os profissionais da saúde apresentam desconhecimento para receberem demandas de mulheres LGBTQIA+.

Sofia Dolabela, mulher cis lésbica, graduanda em Relações Internacionais e autora do livro “Em Caso de Urgência”, revela que, diversas vezes, foi desconsiderada ao dizer que mantinha relações sexuais com mulheres.

“Ao falar da minha vida sexual, a médica deslegitimou a minha vivência, como se, por eu me relacionar com mulheres, não fosse suscetível a contrair Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) ou não precisasse olhar com cuidado para certos aspectos da minha saúde”, conta Sofia.

Mesmo com o senso comum de que o único tipo de relação sexual válida e passível de ISTs é a hétero, qualquer mulher que se relaciona sexualmente está suscetível a contrair alguma infecção, principalmente quando não há conhecimento sobre riscos e proteção, de acordo com Marília Malaguth, professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG e convidada do programa Saúde com Ciência. Portanto, os exames preventivos são fundamentais para um cuidado eficiente da saúde da mulher.

Sofia Dolabela ainda ressalta que o melhor caminho, neste caso, é buscar orientação e conhecimento acerca da saúde, além de procurar profissionais habilitados para atender essas demandas.

Como transformar esse contexto?

Pensando na problemática, a saída para a estigmatização da saúde das mulheres que se relacionam com mulheres é a transformação dos profissionais da área já durante o período de graduação. Segundo a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Marilene Vale, entrevistada do Saúde com Ciência desta semana, essa mudança de abordagem já vem acontecendo na UFMG, na disciplina de Saúde da Mulher e em atividades de extensão.

“Precisamos capacitar os profissionais para que eles saibam abordar isso e acolher essa mulher, para que ela possa expressar suas dúvidas e falar sobre a sua sexualidade”, afirma a professora

Nesse sentido, para Marília Malaguth, o ideal seria que o conhecimento sobre a diversidade das relações fosse difundido desde o período escolar, para que os graduandos da saúde já chegassem minimamente preparados para lidar com a medicina humanizada e social.

“Os cursos da saúde poderiam investir mais nisso. E não só de graduação, mas também deveria ser pauta da agenda escolar, de todos os níveis, inclusive de crianças, adolescentes e adultos”, afirma Marília.

O poder do acolhimento

Conforme Marília, é primordial discutir sobre a importância do acolhimento dessas mulheres, seja pelo próprio profissional da saúde, amigos, família ou até mesmo grupos de apoio da comunidade LGBTQIA+. Segundo ela, é essencial para essa mulher se sentir acolhida e encorajada a procurar informações sobre sua saúde e vivência da sexualidade de maneira saudável.

Vale ressaltar que, além da realização dos exames de rastreio, o profissional da saúde da mulher também precisa desempenhar o papel de ouvir, amparar e orientar a paciente, para que ela se sinta confortável ao cuidar da saúde.

Saúde com Ciência

O programa de rádio Saúde com Ciência desta semana aborda a saúde física, sexual e mental da mulher lésbica, ou melhor, saúde das mulheres que se relacionam com mulheres.

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.

*Eduarda Sperandio – estagiária de jornalismo

Edição: Giovana Maldini