Música é aliada no tratamento da esclerose múltipla

Harmonia física e emocional de uma pessoa com esclerose múltipla é importante aliada do tratamento da doença.


31 de agosto de 2021 - , , , ,


30 de agosto é o Dia Nacional de Conscientização Sobre a Esclerose Múltipla

“Quem canta, seus males espanta”, já diria o ditado popular e que agora vem sendo comprovado pela ciência. Isso porque a música tem capacidade de modificar o cérebro ao ativar uma série de operações emocionais, auditivas, fonéticas e motoras. E toda essa movimentação, que também pode causar uma grande sensação de relaxamento, tem sido importante aliada no tratamento da esclerose múltipla, uma doença crônica e autoimune que atinge 30 mil brasileiros.

Por ter natureza inflamatória, a enfermidade leva a série de “ataques” ou “surtos”, principalmente no seu estágio inicial, com sintomas como fraqueza, problemas de sensibilidade, diminuição de locomoção, dormência, formigamento do corpo e outros. Além de ser inflamatória, a doença tem ainda componente degenerativo, que é progressivo, em que a pessoa tende a piorar no curso dos anos.

“Em geral, as pessoas vivem bem e tem uma vida praticamente normal, podem exercer sua profissão e atividades normalmente, mas a doença é variável em diferentes pessoas”, explica o professor do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Marco Aurélio Lana, coordenador do Centro de Investigação em Esclerose Múltipla de Minas Gerais (Ciem).

Para o tratamento tanto da fase aguda da doença quanto para diminuir a progressão, existem medicamentos eficazes e mais confortáveis para o uso. Mas especialistas frisam a importância do tratamento multidisciplinar. É aí que entra a musicoterapia, que já vem sendo experimentada há anos no Ciem, em parceria com professores da Escola de Música da UFMG.

“Com a musicoterapia, nossos pacientes não só têm esse relaxamento, essa parte mental, mas também a atividade motora, aprendem a tocar instrumento, compor e série de movimentos, de dança, por exemplo, que ajudam muita na recuperação do equilíbrio, motora, no treinamento dos nossos pacientes. É um grande sucesso”, destaca Lana.

De acordo com o professor, há sensação de melhora no bem-estar, na ansiedade e depressão. Como os pacientes ficam mais entusiasmados e se sentem protagonistas no tratamento, tendem até a aderirem mais ao tratamento medicamentoso.

“Temos publicados diversos estudos sobre isso e ficamos muito felizes de ver como essas pessoas gostam do tratamento”, comenta o professor da Faculdade de Medicina e coordenador do Ciem.

Mente e saúde

Existe uma relação muito próxima da parte mental com o sistema imunológico, de defesa do organismo. E o tratamento com a musicoterapia pode trazer uma sensação de bem-estar que fortalece o sistema de defesa.

 “Não são poucos os casos que a gente vê, em que a doença (esclerose múltipla) começa depois de um problema emocional grave, de separação de casal, perda de algum familiar, morte.  Isso pode desencadear um surto da doença, reativá-la ou até mesmo iniciar uma doença”, explica Marco Aurélio Lana.  

Todo nosso sistema imunológico funciona em base bioquímica, com a liberação de determinadas substâncias, como as citocinas ou quimiocinas, que são fabricadas por determinadas células de defesa do organismo. A quantidade em que serão fabricadas vai depender de inúmeros mecanismos, inclusive a parte mental.

“Temos consciência que estamos acordados, mas muita coisa a gente faz automaticamente, por exemplo, as batidas do coração. Isso tudo funciona pelo cérebro, que comanda nosso sistema nervoso autonômico. Quando estamos mais nervosos, por exemplo, nosso coração bate mais depressa, porque nossa parte mental ativa o sistema autônomo e de defesa, que produz essas sustâncias, que tem relação próxima com doenças autoimune”, exemplifica o especialista.  

A dica é não parar

Se por um lado é importante manter o equilíbrio emocional para melhores resultados no tratamento, por outro, a pandemia de covid-19 tem levado a diversos impactos na saúde mental das pessoas que convivem com a doença.

A sensação de isolamento, que causa maior ansiedade e preocupação com a evolução da doença diante das dificuldades de acessar aos serviços de saúde neste momento, tem gerado sensação quase de abandono para esses pacientes.

“O que a gente sempre orienta, é que mesmo em casa, as pessoas usem redes sociais, se comuniquem com outras pessoas, para dar uma sensação de estar junto, de identificação com o outro”, orienta Lana.

Ele também recomenda fazer exercício físico em casa, se for preciso, com a ajuda de um familiar, mas que não deixe de manter a parte multidisciplinar do tratamento. “Mas acho que estamos passando por uma nova fase de retomada do atendimento, em que essas pessoas estão sendo novamente acolhidas”, acrescenta

Ciem

Centro de Investigação em Esclerose Múltipla de Minas Gerais (Ciem). Localizado no Hospital das Clínicas da UFMG, além de realizar pesquisas, realiza o tratamento de mais de 2 mil pessoas coma doença ou suspeita da doença. O acesso é livre basta marcar uma consulta pelo telefone.

O acesso é livre, todo mundo pode ir, basta marcar consulta por telefone. Mais informações: http://www.ciem.com.br/Index.aspx

Saiba mais no Saúde com Ciência

O programa de rádio “Saúde com Ciência” esclarece quais são os sinais e sintomas da esclerose múltipla, tratamentos e como está a situação dessas pessoas agora na pandemia. Ouça aqui.

O programa é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.