Novos fármacos prometem alternativas de tratamento

Insulina em pó e hidrogel à base de gengibre amargo devem chegar ao mercado ainda neste ano.


05 de julho de 2019


Aparelho medidor de glicose. Foto: Pixabay

Dois novos medicamentos anunciados no mês de junho, com previsão de comercialização ainda em 2019, prometem novas alternativas para pacientes com diabetes. O Afrezza, insulina em pó para inalação, é uma alternativa à insulina bolus injetável de ação rápida. Já o hidrogel à base de gengibre amargo, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), é direcionado ao tratamento das úlceras em pacientes com pé diabético.

O diabetes é uma doença metabólica caracterizada pela incapacidade do organismo de processar a glicose de maneira rápida ou suficiente. Apesar de necessária à vida, a glicose em excesso na corrente sanguínea pode causar danos aos rins, cegueira e levar à amputação dos membros inferiores.

A doença se divide entre os tipos 1 e 2. No primeiro caso, o diabetes se relaciona ao sistema imunológico e costuma ser identificado na infância ou adolescência. As células imunológicas acabam atacando outras, entre elas, as responsáveis pela sintetização da insulina. Já o diabetes tipo 2 se caracteriza pela produção insuficiente ou inexistente de insulina, fazendo com que o organismo não seja capaz de controlar o nível de açúcar no sangue. No Brasil, a estimativa é de que 90% dos casos de diabetes sejam do tipo 2.

Insulina inalável

Insulina inalável. Imagem: Afrezza

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, no início do mês, a comercialização do Afrezza, um novo produto para tratamento dos diabetes tipo 1 e 2 no Brasil. O pó de insulina inalável é uma alternativa à insulina injetável de ação rápida, também chamada de bolus. No entanto, o medicamento não pode substituir a insulina de ação intermediária ou lenta, também conhecida como insulina basal.

De acordo com o professor do Departamento do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da UFMG, Daniel Baumfeld, a insulina em pó é especialmente indicada para pessoas com problemas de pele. “Alguns pacientes com doenças de pele, como um câncer, por exemplo, encontram dificuldades para injetar a insulina. Nesses casos, a alternativa inalável facilitaria bastante”, explica.

Além disso, a versão inalável da insulina também tem absorção mais rápida, o que pode evitar variações de glicose durante as refeições. “Com a insulina bolus existe a possibilidade de que, ao injetar antes de uma refeição, o efeito na corrente sanguínea demore a acontecer, levando o usuário a uma alta de glicose. Ou pode acontecer o contrário, e o hormônio continuar ativo mesmo depois da normalização da glicose, levando a uma hipoglicemia”, explica o professor. Através da absorção pulmonar, o Afrezza promete adentrar a corrente sanguínea dos usuários em menos de um minuto.

No entanto, há contraindicação para absorção pulmonar. Pacientes com problemas pulmonares como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (CODP) e fumantes encontram problemas com a inalação. “Em situações como essas, o medicamento é contraindicado devido à perda de ‘contratividade’ dos brônquios”, esclarece Daniel.

Ainda segundo Baumfeld, um dos maiores empecilhos que o medicamento pode enfrentar no mercado brasileiro é seu preço. Nos Estados Unidos, o preço para um mês de tratamento pode variar entre R$ 500 a R$ 1.500, valor muito superior quando comparado à insulina convencional, que pode, inclusive, ser encontrada gratuitamente no Sistema Único de Saúde.

Hidrogel de gengibre

Pé diabético provém da perda de sensibilidade dos membros inferiores. Foto: Carol Morena.

O pesquisador Carlos Cleomir de Souza Pinheiro, do Inpa, finalizou, também no mês de junho, o desenvolvimento de um hidrogel capaz de evitar amputações das extremidades em pacientes diabéticos. A pesquisa foi feita em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Faculdade de Medicina do ABC, a Universidade Federal do Amazonas, a Universidade do Estado do Amazonas e a Fundação de Controle da Oncologia do Estado do Amazonas.

O gel, à base de gengibre amargo, vem sendo desenvolvido nos últimos 20 anos e pode chegar ao mercado brasileiro ainda neste ano. Daniel explica que o pé diabético provém da perda de sensibilidade dos membros inferiores que, aliada à perda da capacidade de cicatrização, pode resultar em úlceras, inflamações e, nos casos mais severos, na amputação. O professor alerta, porém, que medicamentos como esse não devem ser encarados como uma solução única.

“Embora eles possam ajudar a vascularização e a regeneração de células, potencializado a cicatrização das úlceras, não existe milagre. Um paciente não pode deixar de tomar os cuidados necessários, acreditando que o remédio irá curar a situação. O único milagre é a prevenção”, completa.

Testado em 27 pacientes diabéticos que tinham úlceras nos pés, o medicamento obteve sucesso em 95% dos casos. O hidrogel será produzido em larga escala pela Biozer da Amazônia, que também será responsável pela distribuição nacional do medicamento em farmácias e mercados. A patente do hidrogel já foi requerida e sua comercialização depende agora da liberação da Anvisa.

Diabetes hoje

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 11 pessoas no mundo é diabética. Em 2014, as estatísticas da OMS apontavam para 422 milhões de diabéticos, um aumento de 290% em relação a 1980. No Brasil, o diagnóstico entre 2006 e 2016 passou de 5,5% para 8,9% da população, um aumento de 61,8%. Os dados nacionais da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) apontam ainda que a tendência de crescimento é observada em todo o mundo, influenciada por fatores como mudanças nos hábitos alimentares, prática de atividades físicas e envelhecimento da população.

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*Alexandre Bueno – estagiário de Jornalismo
edição: Karla Scarmigliat