Doença celíaca acomete 10%

Alimentos com trigo e malte, por exemplo, têm que ser riscados do cardápio

 

 

 

 

A doença celíaca (DC) é uma enteropatia caracterizada pela intolerância permanente ao glúten, fração proteica encontrada no trigo, cevada e centeio. É desencadeada por mecanismos autoimune nos indivíduos geneticamente predispostos. A DC com seu quadro clínico típico e principalmente suas manifestações atípicas tem se mostrado mais frequente do que se imaginava. Rastreamentos sorológicos na população da Europa, América do Sul, Austrália e Estados Unidos mostram uma incidência de aproximadamente 0,5 a 1% (Walker et al 2011). Existe também uma prevalência aumentada de DC entre familiares de celíacos. A incidência varia de acordo com o grau de parentesco sendo 70% em gêmeos monozigóticos, 10% em familiares de primeiro grau e 2,5% nos de segundo grau. As manifestações clínicas típicas de DC incluem sintomas gastrointestinais de má absorção como diarreia, esteatorreia, distensão abdominal, diminuição da musculatura glútea, perda de peso e deficiência de nutrientes ou vitaminas.  As formas atípicas incluem as manifestações extra-intestinais, como dermatite herpetiforme, defeitos no esmalte dentário, osteoporose, baixa estatura, atraso puberal, infertilidade, anemia por deficiência de ferro  efratária a tratamento, deficiência não explicada de ácido fólico, B12, doenças neurológicas ou alterações comportamentais, atrite e doenças hepáticas. O diagnóstico da DC é baseado na suspeita clínica, exames sorológicos e a biópsia intestinal. Avanços nos exames sorológicos têm auxiliado no diagnóstico. A identificação do autoantígeno transglutaminase tecidual (tTG) relacionado à exposição dietética ao glúten tem sido um marcador sorológico importante. Os exames de biologia molecular (HLA DQ 2 e DQ8) também têm sido utilizados e são uma importante ferramenta para a exclusão da DC ou tornar o diagnóstico pouco provável quando ambos são negativos. A biópsia intestinal é feita após suspeita clínica e sorologia alterada. De acordo com as novas ecomendações da ESPGHAN (Sociedade Europeia de Gastroenetologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica), a biópsia poderá ser dispensada em caso de suspeita clínica em que os anticorpos anti-tTG da classe IgA tiverem títulos muito elevados (maior que dez vezes o limite superior). O único tratamento disponível até o momento para DC é a dieta isenta de glúten, ou seja, deverão ser excluídos de forma permanente e defintiva os alimentos que contenham trigo, centeio e cevada. A exclusão da aveia, que pode estar contaminada, deverá ser avaliada. O desenvolvimento de enzimas (endoprotease) com capacidade para clivar a gliadina antes da sua absorção no intestino têm sido avaliado em estudos. A sua real função e sua resistência à passagem, sem ser inativada, no meio gastrointestinal ainda não é conhecida.  Porém, poderá ser uma forma promissora de tratamento no futuro.

 

Professoras do Departamento de Pediatria da UFMG Maria do Carmo Barros de Melo, Magda Bahia e Paula Valadares Povoa Guerra.

 

 

Doença celíaca acomete 10%

 

O pãozinho com manteiga é o que costuma estar na mesa de café da manhã dos brasileiros. Porém, esse mesmo item pode ser a origem dos problemas de cerca de 10% das crianças do Brasil, que têm intolerância ao glúten – ou doença celíaca –, segundo dados do projeto social Brasil Sem Alergia.

O glúten é uma proteína que está presente em alguns cereais, como o trigo, a cevada, o centeio e o malte, e também em todos os alimentos preparados com esses ingredientes ou seus derivados. É uma substância fibrosa e pegajosa, responsável, por exemplo, pelo crescimento das massas de pães e bolos.

“A pessoa que tem doença celíaca vai ser intolerante ao glúten pelo resto da vida, e ela não pode ingerir nem em pequenas quantidades”, atesta o gastroenterologista e endoscopista Gustavo Miranda Martins, membro da equipe de gastroenterologia da Santa Casa de Belo Horizonte. “Se a pessoa não sabe da doença e ingere alimentos com glúten, eles provocam alterações no intestino, fazendo surgir uma série de manifestações clínicas muito variadas”, completa.

Sintomas. Segundo o médico, algumas pessoas – principalmente as crianças – desenvolvem a forma clássica da doença, apresentando diarreia, dor abdominal, emagrecimento e extensão abdominal por gases.

Era assim com a estudante Marcele Almeida, 16, que descobriu a doença celíaca aos 11 anos. “Comecei a passar mal com alguns alimentos. Sentia que meu corpo queria expulsar aquilo de qualquer forma. Eu tinha muitos gases, diarreias, vomitava muito”, conta. Até o diagnóstico, ela enfrentou um processo penoso: 44 exames de sangue e seis biópsias em um intervalo de seis meses.

Já nos adultos é diferente. “Atualmente, a maioria dos casos diagnosticados em adultos têm forma atípica. Nesses casos, os pacientes podem desenvolver infertilidade, baixa estatura, inchaço nas pernas, aftas, falta de coordenação, irritabilidade, osteoporose precoce e anemia”, relata Martins. A doença, quando não tratada, também está relacionada a alguns cânceres.

Tratamento. “A pedra fundamental para o tratamento é uma dieta isenta de glúten para o resto da vida. O paciente não poderá comer mais trigo, cevada, nem centeio. A aveia é liberada em quantidades menores”, conta o médico.

Triste com as restrições no início, Marcele agora aprendeu a lidar bem com sua dieta. “Antigamente, eu achava meio chato. Mas, agora, fico feliz, porque a cada dia descubro novos alimentos que eu posso comer. E nunca mais passei mal”, conta a adolescente.

Os portadores da intolerância devem ficar constantemente atentos aos rótulos dos alimentos que compram e aos ingredientes do que comem fora de casa, pois o glúten está presente em uma infinidade de produtos. “O trigo é usado como espessante, então achocolatado em pó, cappuccino em pó, maionese e molhos prontos, sorvete, chicletes, tudo isso contém trigo – e, consequentemente, glúten”, alerta Martins.

Genética

Hereditariedade. Pais com a doença celíaca têm 20% de chance de ter filhos celíacos. Assim, crianças que tenham familiares de primeiro grau com a doença devem ser investigadas.

Pode e não pode

Celíacos podem comer:

Biscoitos e bolos à base de tapioca, fécula de batata, polvilho, milho.

Frutas e verduras à vontade.

Arroz branco ou integral e farinha de arroz

Mandioca e derivados

Leite e derivados

Ovos e carnes magras

Gelatina, doces de frutas, pudim de arroz

Óleos de oliva, canola, milho, soja ou girassol

Soja e derivados

líacos não podem comer:

Produtos que contenham em sua composição aveia, centeio, cevada e trigo

Sacarose ou doces concentrados em excesso

Chocolate em barra e achocolatados em pó

Carnes enlatadas e frios com farinha

Molhos prontos

Pizzas

Molhos brancos

Granola

Empanados

Cerveja

 

Fonte: Jornal O Tempo