Recomendações sobre sono seguro
Em Novembro deste ano foi publicado pela Academia Americana de Pediatria (Official Journal of the American Academy of Pediatrics) o artigo intitulado: “SIDS and Other Sleep-Related Infant Deaths: Updated 2016 Recommendations for a Safe Infant Sleeping Environment”. A Morte Súbita e Inesperada do Bebê (do inglês Sudden unexpected infant death Sudden/SUID) é um termo usado para descrever qualquer morte súbita e inesperada, explicada ou não explicada, principalmente aquelas que ocorrem no período de sono não observado, como a asfixia não intencional. Tais mortes constituem um desafio médico e habitualmente não tem sua etiologia esclarecida por autópsia ou após longa investigação do caso.
As SUIDs podem ser divididas em:
- Síndrome da Morte Súbita Infantil (SIDS – sigla em inglês): É a morte súbita de uma criançacom menos de um ano de idade que não pode ser explicada após uma investigação completa, incluindo autópsia completa, exame da cena da morte e revisão da história clínica. Nos Estados Unidos, cerca de 1500 crianças morreram de SIDS em 2014, sendo a principal causa de morte em crianças de 1 a 12 meses de idade. (://www.cdc.gov/sids/aboutsuidandsids.htm)
- Morte por causa desconhecida: É a morte súbita de uma criança com menos de um ano de idade que permanece indeterminada porque uma ou mais partes da investigação não foram concluídas. (://www.cdc.gov/sids/aboutsuidandsids.htm)
- Sufocação acidental ou estrangulamento na cama: É a morte súbita de uma criança com menos de um ano de idade que ocorre, por exemplo, quando um travesseiro cobre o nariz e a boca de um bebê em uma cama macia (sufocação por cama macia) ou quando a cabeça ou o pescoço de um bebê ficam presos entre as grades do berço (estrangulamento). (://www.cdc.gov/sids/aboutsuidandsids.htm)
O artigo traz algumas recomendações para redução dos riscos de ocorrerem SIDS e mortes durante o sono por sufocação asfixia ou aprisionamento baseadas em estudos epidemiológicos com crianças até um ano de idade.
Veja as recomendações atuais:
- Dormir cada sono em posição supina: Para reduzir os riscos de SIDS, os bebês devem ser colocados para dormir em posição supina (decúbito dorsal total) toda vez que forem dormir até um ano de idade. Dormir em decúbito lateral não é seguro e nem aconselhável.
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Dormir em superfície firme: Para reduzir o risco de SIDS e de asfixia, os bebês devem ser colocados em uma superfície de repouso firme (por exemplo, colchão em berço seguro) coberta com roupa de cama firme e bem presa, sem nenhum outro objeto decorativo ou cobertor/manta macios.
- A amamentação está recomendada: A amamentação está associada a menor risco de SIDS. A menos que seja contra-indicado, as mães devem amamentar exclusivamente até os seis meses de vida de seus filhos, não oferecendo fórmulas ou outros suplementos baseados em leite e, estando de acordo com as recomendações da Academia Americana de Pediatria (AAP).
- Dormir no quarto dos pais, mas em superfície separada da deles e especiais para o bebê: Recomenda-se que as crianças durmam no quarto dos pais, perto da cama dos pais, mas em uma superfície separada (leia-se, por exemplo, berço separado, cama adicional) e projetada para elas. Isso deve ocorrer idealmente para todo o primeiro ano de vida, mas, no mínimo para os primeiros 6 meses.
- Deixar a área de sono limpa: Manter objetos macios e roupas de camas soltas longes da área de sono do bebê para reduzir os riscos de SIDS, sufocação, aprisionamento e estrangulamento.
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Considerar oferecer o pacificador na hora do sono: Estudos têm mostrado efeito protetor do pacificador (popular “bico ou chupeta”) sobre a incidência de SIDS, embora o mecanismo ainda não esteja claro. O pacificador deve ser quando se colocar o bebê para dormir, não deve ser reinserido na boca da criança e não pode estar pendurado na roupa da mesma ou associado a qualquer outra peça (pelo risco de estrangulamento com cordões).
- Evitar tabagismo durante a gravidez e após o nascimento: Tanto o fumo materno durante a gravidez quanto a fumaça no ambiente infantil após o nascimento são os principais fatores de risco para o SIDS.
- Evitar o uso de álcool e de drogas ilícitas durante a gravidez e durante o nascimento: Existe aumento do risco de SIDS com exposição pré-natal e pós-natal a álcool e drogas ilícitas.
- Evitar o superaquecimento e a cobertura em bebês:Para evitar o superaquecimento, em geral, as crianças devem ser vestidas adequadamente para o ambiente, com não mais que uma camada a mais da cobertura que um adulto usaria para estarconfortável nesse ambiente. A cobertura do rosto deve ser evitada.
- Gestantes devem seguir os cuidados pré-natais regulares: Há evidências epidemiológicas que sugerem que existe menor risco de SIDS em mães que seguem regularmente o pré-natal.
- Evitar o uso de almofadas “posicionadoras”, travesseiros e outros materiais criados com finalidade de separar o bebê de outras pessoas na cama ou posicioná-lo no berço. Não existe evidência científica de que essas ferramentas reduzem o risco de SIDS. Existem sites que ajudam na avaliação de qualquer material utilizado no berço do bebê (Veja, por exemplo, https://www.cpsc.gov/Newsroom/Multimedia/?vid=61784 dos Estados Unidos). Veja fotos:
- Não usar monitores cardiorrespiratórios em casa: O uso desses equipamentos não reduz os riscos de SIDS.
- Deixar a criança certo tempo em posição prona, quando acordada e com supervisão: Embora não haja recomendações específicas quanto ao tempo e à frequência dessa posição, certo tempo de posição prona é recomendado para prevenir o aplanamento do osso occipital e para facilitar o desenvolvimento da força na cintura escapular, necessária para atingir certos marcos motores.
- Não utilizar faixas como estratégia para reduzir o risco de SIDS: Existe alto risco de morte se um bebê é envolto por faixas e colocado em posição prona. Se os bebês forem enfaixados, devem ser colocados sempre em posição supina, com as faixas passando pelo peito e permitindo espaço suficiente nos quadris e no joelho, para evitar exacerbação da displasia no quadril. Quando uma criança já exibe sinais de tentar enrolar-se, as faixas não devem mais ser usadas.
- Os profissionais de saúde, das creches, e os prestadores de cuidados infantis devem endossar e modelar as recomendações de sono seguro desde o nascimento: Todos os médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde devem receber educação sobre o sono seguro do bebê. Os prestadores de cuidados de saúde devem recomendar práticas de sono seguro em cada visita para crianças até 1 ano de idade. Os hospitais devem assegurar que as políticas hospitalares sejam coerentes com as recomendações atualizadas de sono seguro e que os berços cumpram padrões de sono seguro.
- Mídia e fabricantes devem seguir diretrizes de sono seguro em suas mensagens e publicidade: Exposições de mídia (incluindo filmes, televisão, revistas, jornais e sites da Web), propagandas de fabricantes e placas de lojas afetam o comportamento individual e influenciam crenças e atitudes.Mensagens publicitárias contrárias às recomendações de sono seguro podem causar desinformações sobre práticas seguras.
- Continuar a campanha “Safe to Sleep”, focalizando formas de reduzir o risco de mortes infantis relacionadas ao sono, incluindo SIDS, asfixia e outras mortes não intencionais. Pediatras e outros provedores de atenção primária devem participar ativamente desta campanha: A educação pública deve continuar para todos os que cuidam de crianças, incluindo pais, provedores de cuidados infantis, avós, pais adotivos e babás, e deve incluir estratégias para superar barreiras à mudança de comportamento. Estas recomendações devem ser introduzidas antes da gravidez e, idealmente, nos currículos do ensino secundário, tanto para homens como para mulheres, e incorporadas nos cursos desenvolvidos para treinar babás, adolescentes e adultos. A importância da saúde préconcepcional materna, do aleitamento materno e a prevenção do uso de substâncias (incluindo álcool e tabagismo) deve ser incluída nesta formação. As mensagens de sono seguro devem ser revisadas pelo menos a cada 5 anos para abordar a próxima geração de novos pais e produtos no mercado.
- Prosseguir a investigação e vigilância sobre os fatores de risco, as causas e as alterações fisiopatológicas. Mecanismos de SIDS e outras mortes infantis relacionadas ao sono, com o objetivo final de eliminar completamente essas mortes: Protocolos padronizados para as investigações de cena de morte, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, devem continuar a ser implementados. Autópsias, incluindo exames internos e externos completos de todos os principais órgãos e tecidos, incluindo o cérebro; radiografias completas; testes metabólicos e a triagem toxicológica devem ser todos realizados. Treinamento sobre como conduzir uma investigação sobre a cena da morte oferecida aos médicos examinadores forenses e a aplicação da lei devem continuar; devem ser destinados recursos para manter a formação e condução dessas investigações. Além disso, as análises da morte infantil, com pediatras e outros provedores de atenção primária, devem ser apoiadas e financiadas.