Varicela

 

Varicela ou Catapora é uma doença conhecida desde a antiguidade. O termo “Varicela” origina do termo francês varicelle e “Catapora” do tupi tatapora e significa “fogo que salta”. Em 1875, o caráter infecto-contagioso da varicela foi comprovado por Steiner que inoculou a secreção das vesículas em voluntários hígidos. Em 1892, Von Bokay sugeriu que havia relação entre herpes-zoster e varicela, hipótese comprovada por Kundratiz, em 1925. Em 1943, Garland sugeriu que o zoster poderia ser uma reativação da varicela adquirida anteriormente.

O agente etiológico da varicela é um vírus de RNA, isolado por Weller e Stoddard em 1952, pertencente à família Herpetoviridae, cujo reservatório é o homem. É transmitida principalmente pela disseminação aérea de partículas virais/aerossóis, mas pode ser transmitida também através do contato direto com secreções de vesículas e membranas mucosas de pacientes infectados. Acomete principalmente crianças de um a dez anos de idade. O período de incubação é de 14-16 dias havendo possibilidade de transmissão de um a dois dias antes do surgimento das lesões até o desaparecimento da última vesícula (formação de crosta). É mais frequente no final do inverno e início da primavera. Manifesta-se por um período prodrômico caracterizado pelo surgimento súbito de febre baixa ou moderada, (podendo durar de horas até três dias) acompanhada de sintomas inespecíficos como cefaléia, anorexia, vômito e febre. Em seguida, ocorre o período exantemático com o surgimento de pequenas máculo-pápulas que em algumas horas tornam-se vesículas. Posteriormente, as vesículas se rompem e evoluem para formação de pústulas que, cerca de um a três dias depois formam crostas.


Surgem inicialmente no tronco e espalham-se para face, membros e couro cabeludo (distribuição centrípeta). Pela cor clara da vesícula sobre a base hiperemiada (vermelha) as lesões são conhecidas como “gota de orvalho em pétalas de rosa”. Em geral, ocorrem dois a quatro ciclos de novas lesões, resultando em cerca de 200 a 500 lesões, que causam intenso prurido (“coceira”) e estão presentes não apenas na pele, mas também em mucosas (oral, genital, respiratória e conjuntival). Após a fase de disseminação hematogênica, em que atinge a pele, o vírus desloca-se centripetamente pelos nervos periféricos até os gânglios nervosos, onde poderá permanecer, em latência, por toda a vida. Após vários anos, em 10 a 20% das pessoas que apresentaram varicela, pode ocorrer reativação viral com desenvolvimento de Herpez-zoster. Causas diversas podem levar a essa reativação do vírus, que, caminhando centrifugamente pelo nervo periférico, atinge a pele novamente. No período prodrômico, ocorrem dores nevrálgicas, parestesia (“formigamento”), ardor e prurido, acompanhados de febre, cefaléia e mal-estar. A lesão elementar é uma vesícula sobre base eritematosa distribuídas no território de um dermátomo sendo geralmente unilateral. 

Ao surgimento dos sintomas sugestivos de Varicela, é preciso buscar atendimento médico para confirmar o diagnóstico, evitar complicações e avaliar a necessidade de proteção dos comunicantes. O diagnóstico é essencialmente clínico, ou seja, na prática, não é necessário realizar exames laboratoriais para confirmar a presença da doença. O tratamento é fundamentado no uso de antihistamínicos sistêmicos, para atenuar o prurido, e de antitérmicos (paracetamol, dipirona), caso seja necessário controlar a febre. Os medicamentos que contenham em sua formulação o ácido acetilsalicílico não devem ser usados em crianças com Varicela, pela possibilidade de Síndrome de Reye (doença rara, de alta letalidade, que cursa com o comprometimento hepático agudo seguido de comprometimento cerebral sendo caracteriza-se por vômitos, irritabilidade, inquietude e diminuição progressiva do nível da consciência e edema cerebral). O prurido pode ser atenuado também com banhos ou compressas frias e com a aplicação de soluções líquidas contendo cânfora ou mentol ou óxido de zinco. A Varicela em crianças é uma doença benigna e em geral não necessita de tratamento específico sendo o uso de anti-virais reservado a casos específicos. Uma vez diagnosticada a varicela, é preciso afastar a criança do ambiente escolar, mantendo-a em casa, por um período de sete dias ou ate que todas as vesículas tenham se transformado em crostas. 

Deve-se saber se no contato escolar ou domiciliar da criança havia gestantes (menos de 16 semanas de gestação ou próximo da data do parto uma vez que pode levar à infecção fetal associada à embriopatia e síndrome da varicela congênita que se expressa por microftalmia, catarata, atrofia óptica e do sistema nervoso central), imunocomprometidos (podem ter a forma de varicela disseminada ou varicela hemorrágica) ou recém nascidos. Nesses casos, os comunicantes devem procurar atendimento médico e receberem soro contendo Imunoglobulina (anticorpos) anti-varicela em ate 96 horas após o contato. Para os comunicantes não imunes (vacinados ou que já tiveram a doença) e que não se encontram nessas situações, pode ser administrada a vacina (dose de bloqueio) em até 12 horas após o contato.
Apesar da evolução benigna principalmente em crianças, a varicela pode complicar com o desenvolvimento de infecções de pele (como eripsela, impetigo e celulite que podem evoluir para sepse), pneumonia (complicação que acomete de 16 a 50% dos adultos constituindo a principal causa de óbito), meningite, glomerulonefrite e cardite. A pneumonia, na maioria das vezes, ocorre entre 3 e 5 dias após o início da varicela e se caracteriza pelo aumento da freqüência respiratória, tosse, falta de ar e febre. Em geral, nos casos leves, tem resolução espontânea em 24 a 72 horas. Entretanto, até 30% dos casos com manifestações mais exuberantes podem evoluir de forma grave, progredindo rapidamente para insuficiência respiratória e óbito.

Atualmente, há vacina contra a varicela disponível gratuitamente para todas as crianças a partir de 12 meses até 12 anos de idade em duas doses (uma dose aos 12 meses e reforço aos 5 anos). Acima dessa idade, deve ser administrada em duas doses com intervalo de 4 a 8 semanas entre elas e confere imunidade permanente. Mas deve-se evitar a gravidez por 30 dias após a vacina e pacientes em uso de corticóides (equivalente a 2mg/Kg/dia ou mais prednisona, durante 14 dias ou mais) devem interromper a medicação e aguardar 30 dias para serem vacinados. Dor transitória, hiperestesia, rubor no local da aplicação podem ocorrer em torno de 6% das crianças vacinas e em 10 a 20% dos adultos. Um mês após a vacinação, em cerca de 7 a 8% dos indivíduos, pode ocorrer o exantema típico da varicela, mas em pequena intensidade. Medicamentos contendo ácido acetil-salicílico também não devem ser usados durante seis semanas após a vacinação, por terem sido associados à ocorrência de síndrome de Reye.

 

 

Referência bibliográficas

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