Populações de aglomerados lidam com desigualdade e acesso à saúde mais restrito

Programa de rádio destaca as dificuldades no acesso à saúde de populações em situação de invisibilidade social


29 de julho de 2017


Programa de rádio destaca as dificuldades no acesso à saúde de populações em situação de invisibilidade social

De um lado, prédios altos e tecnológicos. Do outro, casas pequenas e muito próximas que formam aglomerados. Parecem cidades distintas, mas elas pertencem à mesma zona urbana. Vistos de cima, grandes centros urbanos como Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, somente dão alguma noção, que vai além dessa diferença visual, das disparidades sociais que influenciam, por exemplo, no acesso à saúde dos residentes desses locais.

Dificuldades de acesso à saúde, educação e mobilidade estão presentes no cotidiano dos indivíduos que residem em aglomerados, que vivem às margens dos recursos básicos disponíveis nas regiões em que estão localizados. “É como se existissem barreiras ou muros invisíveis separando agregados de residentes dentro da cidade”, pontua a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social e coordenadora do Observatório de Saúde Urbana da Faculdade de Medicina da UFMG, Waleska Caiaffa, sobre como a segregação reflete a geografia das cidades.

Para Waleska, esses “muros”, além de refletirem a condição financeira dos grupos sociais envolvidos, interferem diretamente na disponibilidade dos serviços de saúde. “As pessoas mais ricas têm eventos em saúde muito menores e com muito menos dano do que as pessoas que têm menos acesso aos bens”, afirma. A professora cita o exemplo da asma, que, mesmo registrando queda recente nas taxas de ocorrência, ainda preocupa parte da população urbana: “A distância entre quem interna por asma e vive na ‘cidade formal’ e quem interna e vive na ‘cidade informal’ é um buraco enorme”. Nesse contexto, ela calcula que a diferença entre o número de internações é quase cinco vezes maior.

Os comportamentos das pessoas nos aglomerados também são influenciados pelas desigualdades comentadas pela professora. Altas taxas de violência, homicídios e gravidez na adolescência são algumas das questões relacionadas ao cenário em que essa população está inserida. Nos casos das gestantes adolescentes, a criança já nasce em um contexto de instabilidade. “A criança já nasce em uma determinada vulnerabilidade, e isso vai gerando sempre um contingente de pessoas muito vulneráveis”, observa Waleska Caiaffa.

Quebrando barreiras

Apesar desse cenário comum de vulnerabilidade e invisibilidade nas cidades, existem projetos que buscam diminuir os “muros” que segregam as populações dos aglomerados. “O Brasil é pioneiro em diversos trabalhos de tentar quebrar essa barreira, no sentido de trazer a cidade informal para dentro da formal”, garante a professora Waleska.

Um deles é o Academias da Saúde, que viabiliza a prática de exercícios físicos gratuitos para a população em geral. “Esse é um projeto que começou pequeno em cidades e, hoje, é um projeto do Ministério da Saúde”, diz. Outras intervenções, como o programa Vila Viva, em Belo Horizonte, tentam levar a esses espaços de invisibilidade os mesmos acessos e serviços que são disponibilizados nos centros urbanos.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

Redação: Bruna Leles | Edição: Lucas Rodrigues