Dislexia: sinais podem surgir antes da alfabetização

Pais e responsáveis devem se atentar ao desenvolvimento das crianças, principalmente na faixa etária de 2 anos


14 de novembro de 2019 - , , , ,


*Laryssa Campos 

A estudante de artes visuais, Lígia Persichini, recebeu seu diagnóstico de dislexia do desenvolvimento aos 10 anos de idade, após relatar ver as letras piscando no papel. A busca pelo acompanhamento foi imediata, principalmente pelo fato de que sua mãe também apresenta o quadro.

Segundo a professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Luciana Alves, a maioria dos casos é devido à predisposição genética. Apesar de ser recomendado que diagnóstico seja feito após o final do oitavo ano de vida, os pais devem ficar atentos ao desenvolvimento dos filhos a partir dos 2 anos e meio, fase em que alguns sinais já podem indicar o transtorno.

Como identificar

Entre os primeiros sinais, a professora Luciana Alves, também especialista em fonoaudiologia educacional, destaca alguns que podem ser facilmente observados durante o convívio com os pequenos. “A partir dos 2 anos e meio, as crianças que vão manifestar dislexia têm atraso no desenvolvimento da linguagem. Então demoram mais para falar as primeiras palavras, têm dificuldades em reproduzir alguns sons da língua e em lidar com os sons do idioma”, explica.

Além disso, ela destaca que os professores também podem auxiliar nesse processo ao acompanhar o desenvolvimento dos alunos nas atividades. “Na educação infantil, quando começam as atividades de ritmo e de aprender músicas, essas crianças apresentam dificuldade de memorizar as canções e de aprender as rimas”, exemplifica. “Além disso, não lidam bem com as palavras que têm os mesmos sons, não conseguem guardar bem as letras e lembrar a associação entre as letras e os sons que as simbolizam”, continua. 

O aprendizado

Lígia Persichini foi diagnosticada com dislexia aos 8 anos de idade. Foto: Carol Morena

Para Lígia, a dislexia se tornou uma questão importante durante o período pré-escolar, pois não conseguia aprender a ler e escrever. E esse é exatamente o processo que caracteriza o transtorno, de acordo com a fonoaudióloga. “A dislexia é basicamente uma dificuldade de decodificação, ou seja, de associação entre as letras e os sons que as representam”, define Luciana.

Além disso, ela acrescenta que a criança com dislexia é alfabetizada, mas tem peculiaridades devido a sua condição. “Ao ser diagnosticada, não quer dizer que essa criança não vá aprender. A diferença é que ela aprende em um ritmo mais lento e não alcança proficiência na leitura e na escrita. Por isso tem um desempenho acadêmico comprometido, não porque não é inteligente”, lembra. 

Por isso, a especialista ressalta a necessidade de um processo de alfabetização para as crianças disléxicas que considere suas dificuldades. E diante dos métodos existentes para ensinar a ler, ela aponta o fônico como o mais fácil para os disléxicos assimilarem, pois deixa clara a relação entre as letras e os sons para, então, compreender o contexto.

“O método fônico começa ensinando da parte para o todo. Ou seja, vai das letras para a representação sonora que elas têm, avança para a formação de sílabas e palavras, então, por fim, as palavras inseridas em um texto”, discorre. Já o outro método, o global, vai pelo caminho contrário. Para a professora Luciana, as duas técnicas são válidas, porém estudos revelam que começar pelas pequenas partes é mais eficiente para os disléxicos.

“Todas as duas possibilidades têm suas vantagens e desvantagens, mas já foi comprovado cientificamente que o método fônico é melhor para uma criança com dislexia”, ressalta. 

A vivência escolar 

Devido à dislexia, Lígia relata diversos problemas com as escolas nas quais estudou. “Minha mãe me contou que, certa vez, houve uma reunião em que os profissionais da instituição disseram não poder me ajudar e que, talvez, fosse melhor procurar outra escola, porque eu não aguentaria”, conta.

Para a professora Luciana, as ações em prol da educação dessas crianças não dependem de técnicas ou métodos específicos de ensino, pois há táticas que possibilitam o melhor aproveitamento do ambiente escolar. “Por exemplo, a atenção do professor e apoio dele para ler o enunciado de uma questão, além de dar mais tempo para fazer uma tarefa”. 

“Como leitura e escrita é que são os problemas, é importante que os professores entendam isso e flexibilizem a forma de realizar as provas. Portanto, pode começar com provas orais e, depois, à medida que o aluno faça terapia e obtenha avanços, aplicar testes escritos, mas sempre colocando alguém que explique o enunciado”, instrui. “Além disso, é recomendado não colocar mais de uma pergunta por enunciado e produzir o texto com uma letra visualmente confortável para o aluno”, continua.

Lígia ainda acrescenta que as ações também servem aos colegas de turma. “Uma coisa que os meus amigos sempre faziam era ler o texto para mim. Também é interessante a leitura em voz alta das questões, se os demais alunos não se incomodarem”, pontua. “Acho que a condição de uma pessoa não deveria incomodar ninguém”, conclui. 

Entenda mais sobre a dislexia com o vídeo:

  *Laryssa Campos  – estagiária de jornalismo
Edição: Deborah Castro