Professores discutem caráter institucional e emocional da violência


28 de agosto de 2017


Para professora, violência física é o ápice, não o início de relações violentas.

Carol Prado*

 

Da esquerda para a direita: Rob Stephenson (EUA), Sandra Goulart (UFMG), Elza Melo (UFMG), Palmira Fátima Bonolo (UFMG), Edgar Nunes de Morais (UFMG). Foto: Carol Morena

A mesa redonda “Promoção da saúde: mulheres, idosos, pessoas em trajetória de vida nas ruas e usuários de drogas” discutiu, na tarde de hoje, 28 de agosto, diferentes formas de violência, que, para a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG (MPS), Elza Melo, moderadora da mesa, têm início em um mesmo ponto: “A violência só se propaga se atuamos como agentes dela”, afirmou, na abertura da discussão.

O debate envolveu quatro professores, incluindo Rob Stephenson, diretor do Center for sexuality and Health Disparites, da Universidade de Michigan, dos Estados Unidos. A mesa foi presidida pela vice-reitora da UFMG, professora Sandra Goulart de Almeida.

Violência e HIV
“O que acontece com heterossexuais acontece com homossexuais em relacionamentos”, comentou Stephenson, ao comparar dados sobre violência. Segundo ele, de 25% a 50% da população americana masculina já relatou algum tipo de violência. O foco do estudo é entender como ocorre essa violência entre casais do mesmo sexo, e como isso está relacionado com o maior índice de HIV entre homens que fazem sexo com homens.

Os conceitos de violência considerados no estudo foram divididos entre: física e sexual, controle (monitoramento das atividades do parceiro), emocional e violência relacionada ao HIV. Numa amostragem de 1.075 homens que se relacionam com homens, 50% já sofreram violência emocional, e 30% violência física.

Rob Stephenson, Diretor do Center for sexuality and Health Disparites, Universidade de Michigan (EUA). Foto: Carol Morena

Para o professor, o dado mais alarmante foi que de 33% a 34% desses mesmos homens que sofreram violência também admitiram ter cometido algum tipo de violência contra seus parceiros.

Com o estudo foi provado que fatores associados como homofobia e racismo sofrido, dificuldade de autoaceitação e, principalmente, violência emocional, acarretam em empecilhos para o uso da camisinha. Segundo o pesquisador, quem sofre violência não tem condições emocionais de pedir ao parceiro para usar preservativo, e quem promove a violência não tem “coragem” de usá-lo.

A proposta final do projeto é a construção de intervenções que previnam a violência. De acordo com Stephenson, essas intervenções serão trabalhadas entre os casais homoafetivos, fortalecendo o diálogo e criando uma perspectiva clara para o relacionamento, tirando o foco do lado sexual e realçando conceitos de afetividade e intimidade.

Envelhecer como conquista da humanidade
O professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Edgar Nunes de Morais, em sua apresentação sobre violência geriátrica, questionou a utilização de termos como “da idade” e a generalização dos problemas de saúde enfrentados por idosos.

Edgar Nunes de Morais, discutindo violência geriátrica. Foto: Carol Morena

“Dizer que o problema é da idade gera todos os outros tipos de violência”, afirmou Edgar, falando sobre a existência de uma violência institucional que precisa ser discutida. Ele explicou que, quando é dito que algo é característico da idade, a família e todos os outros círculos tomam aquilo como verdade, muitas vezes ignorando problemas de saúde que poderiam ser tratados e gerar melhor qualidade de vida ao idoso.

Ele afirmou que a população idosa não é uma população homogênea. Os indivíduos, como prefere nomear, envelhecem de forma diferente, e por isso precisam de cuidados diferentes. “Muitas vezes, tratar um idoso começa por tirar remédios errados que lhe foram receitados”, explicou. Segundo ele, apenas 10% a 20% da população idosa está em situação de fragilidade, demandando cuidados especiais.

Saúde do homem
Estereótipos de gênero, barreiras institucionais e socioeconômicas são fatores que influenciam na frequência com que os homens buscam orientação médica. Segundo a professora também do MPS, Palmira Fátima Bonolo, homens na faixa etária de 25 a 59 anos não dão atenção necessária à saúde. Ela lembrou a criação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, em 2009, objetivando diminuir a quantidade de internações masculinas devido à baixa frequência na Atenção Primária a Saúde (APS).

Para Elas
Aproveitando a discussão da mesa, a professora Elza Melo apresentou o projeto de extensão Para Elas, que trabalha junto a mulheres atendidas no Ambulatório da Rede de Práticas de Promoção de Saúde da Mulher em Situação de Vulnerabilidades, criado no final do ano passado, no Hospital das Clínicas da UFMG.

Elza contou que haverá a confecção de uma “colcha de crachás”, em que serão costurados os crachás de todas as participantes envolvidas no projeto. “Essa colcha representa a retomada da solidariedade, que é o principal antídoto para a violência”, afirmou.

Congresso Nacional de Saúde
A programação da 4ª edição do Congresso reúne mais de 10 mesas-redondas, workshops e oficinas em torno do tema “Promoção da Saúde: Interfaces, Impasses e Perspectivas”, além de três simpósios internacionais nas áreas de prática e ensino de Saúde.

O Congresso Nacional de Saúde vai até 30 de agosto de 2017, com atividades pela manhã e à tarde, divididas em três eixos temáticos e um eixo transversal. O evento conta ainda com atividades culturais, com exposições, apresentações, lançamentos de livros e intervenções durante toda a programação, que integra ainda as comemorações dos 90 anos da UFMG, celebrados em 2017.

A Secretaria executiva do 4º Congresso Nacional da Saúde atende na sala 5, no térreo  da Unidade.

Confira a programação completa na página do Congresso Nacional de Saúde.

Mais informações: 3409 8053, ou ainda pelo e-mail 4congresso@medicina.ufmg.br

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*Redação: Carol Prado – estagiária de jornalismo
Edição: Mariana Pires